Chore as mortes. E proteja a carteira

(*) Carlos Brickmann

Existe gente que, diante da pandemia, vai com coragem à linha de frente para ajudar a enfrentá-la. Há gente que segue o conselho médico e se mantém isolada, protegida. Tem gente que, em busca de proveito político, chega a negar a doença que já matou quase 40 mil brasileiros. E o pior das gentes são aqueles que, enquanto tantos choram, tomam seus lenços e carteiras.

Não, não são aqueles egoístas que, com bons salários e excepcionalmente bons penduricalhos, não desistem de um só centavo para ajudar no combate à pandemia. São piores: aqueles que, tendo os maiores salários que o Tesouro pode legalmente pagar, dispondo de penduricalhos que multiplicam estes salários, aproveitam o momento para tentar pegar mais algum. Desta vez, ao menos por enquanto, se frustraram; mas nenhum precisará perguntar quanto custa o carro que quer comprar – aliás, o carro está entre suas mordomias, com chofer, combustível, manutenção e troca periódica pelo modelo novo.

A coisa aconteceu, mais uma vez, no Tribunal de Justiça da Bahia. Nesta segunda, o TJ decidiu antecipar o pagamento do abono e adicional das férias do primeiro e segundo períodos do ano que vem. Motivo? “A diminuição de renda familiar de alguns magistrados nesse momento de crise”.

O corregedor nacional de Justiça, ministro Humberto Martins, foi rápido: mandou suspender o pagamento. E deu dez dias de prazo para que o tribunal baiano lhe envie as explicações de tamanha generosidade.

Sem fantasia

Não leve a sério a aceitação de denúncias contra Bolsonaro em Haia, na Corte Internacional de Justiça, nem na Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Vão ficar por lá, numa gaveta. Mas não serão enviadas para a cesta seção: caso esteja fraco demais, politicamente, pode até ser que o julguem.

Mas não é provável. O problema é outro – a erosão da imagem brasileira.

O pior da coisa

* A Comissão de Assuntos Tributários da Câmara dos Deputados americana se opôs ao plano de expandir os laços econômicos dos Estados Unidos com o Brasil. Motivo: o comportamento do Governo Bolsonaro na questão dos direitos humanos e do meio ambiente. “O Governo Bolsonaro desconsidera totalmente os direitos humanos básicos”, diz a Comissão.

* O Parlamento holandês veta acordos com o Brasil por problemas com o meio ambiente.

* A Alemanha cortou o aporte que fazia ao Fundo Amazônico. A Noruega também, mas a Noruega não faz parte da União Europeia.

O principal trunfo econômico de Bolsonaro é o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que abre amplas portas às exportações brasileiras. Mas o acordo tem de ser aprovado pelo Parlamento de cada país envolvido, e também pelo Parlamento europeu. As restrições da Holanda e Alemanha dificultam essa aprovação. E há uma bancada no Parlamento da França que lembra os comentários sobre a aparência da mulher do presidente Macron.

Estes problemas foram criados pelo Brasil – e por que? Que é que o país ganhou falando mal dos índios, reduzindo o combate ao desmatamento ilegal da Amazônia, acusando os europeus de, há séculos, ter destruído florestas?

Eleições mais tarde

Tudo indica que, devido à pandemia, haverá adiamento por um ou dois meses das eleições municipais. O novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luís Roberto Barroso, conversou com médicos de várias especialidades que enfrentam a pandemia e disse que há consenso para que as eleições municipais sejam adiadas, mas se realizem ainda neste ano, com tempo para que os novos eleitos assumam quando se encerrar o mandato dos atuais prefeitos e vereadores. A informação já foi transmitida aos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e David Alcolumbre. As datas mais prováveis estão entre final de novembro e meados de dezembro. Em 20 de dezembro, no máximo, o nome de todos os eleitos deverá ser anunciado.

Coisa nova

Campanha no meio da pandemia é coisa nova, que exigirá novas atitudes e estratégias dos candidatos. Quem tiver melhor informática leva vantagem. Pesquisas, cruzamento de dados, propaganda – quem souber interpretar a situação tem tudo para ganhar. As notícias falsas (em bom Português, fake news) devem perder força, até porque as redes sociais estarão vigilantes.

O cansaço de todos

Em parte, as violentas manifestações americanas contra o racismo se relacionam com a tensão em que todos vivem, por causa da pandemia e da quarentena. Esse tipo de cansaço aparece aqui não só nas manifestações (os manifestantes arriscam a vida, aglomerados, sem máscaras) como nas pesquisas de opinião. Pesquisa Ibope, na cidade de São Paulo, mostra que Doria e Covas caíram bem, embora ainda tenham 51% de aprovação. Bolsonaro caiu de 26% para 21%. Todas as autoridades se desgastaram.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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