A prisão de Fabrício Queiroz já começa a propulsar uma guerra de versões contraditórias, situação que deve dificultar ainda mais a situação da família liderada pelo presidente Jair Bolsonaro. Ex-assessor parlamentar do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Queiroz é investigado por lavagem de dinheiro no escopo do escândalo das “rachadinhas”.
Com a eclosão do escândalo, Queiroz passou a sobrevier apenas da aposentadoria que recebe da Polícia Militar fluminense, mas conseguiu tratar de um câncer intestinal em um dos mais caros e concorridos hospitais do País, o Albert Einstein, onde o presidente da República passou por cirurgia após o ataque a faca que sofreu durante a campanha eleitoral de 2018. Em outras palavras, Queiroz não tinha condições de custear um tratamento médico complexo, manter toda a família na capital paulista e permanecer fora de cena durante tanto tempo se não tivesse recursos guardados ou o apoio de alguém interessado no seu silêncio. Esse cenário não combina com alguém que precisou recorrer a empréstimo de R$ 40 mil, concedido por Bolsonaro há algum tempo.
No começo da batalha judicial, Queiroz era defendido pelo criminalista Paulo Klein, que deixou o caso após o ex-assessor parlamentar ter sido flagrado em gravações tratando de nomeações no governo e no Senado Federal.
Em tese, após Klein deixar a defesa, o operador das “rachadinhas” passou a contar com os serviços advocatícios de Frederick Wassef, que defende Flávio Bolsonaro no mesmo inquérito e representa o presidente da República em algumas demandas judiciais. Em entrevista à jornalista Andreia Sadi, da GloboNews e do portal G1, Wassef disse que desconhecia o paradeiro do seu cliente.
Com a prisão, ocorrida na manhã desta quinta-feira (18) em Atibaia, aprazível cidade do interior paulista, Queiroz passou a ser defendido pelo criminalista Paulo Emílio Catta Preta, já que, também em tese, Wassef deixou o caso para minimizar a turbulência envolvendo a família presidencial.
Em entrevista a jornalistas logo após deixar o presídio José Frederico Marques, no bairro carioca de Benfica, Catta Preta disse que desde a saída de Klein seu cliente estava sem advogado. Essa declaração é gravíssima e deixa a família Bolsonaro em situação de extrema dificuldade, pois se Fabrício Queiroz não era defendido por Wassef, é necessário que alguém explique a permanência, durante aproximadamente um ano, do ex-assessor parlamentar no imóvel do advogado dos Bolsonaro.
Catta Preta afirmou também que Queiroz teme pela própria vida e vinha recebendo ameaças, algo que não soube detalhar. Fato é que Fabrício Queiroz acabou preso porque os investigadores do caso das “rachadinhas” identificaram que o ex-assessor continuava cometendo crimes, como coação de testemunhas e destruição de provas.
Policiais que participaram da operação que culminou com a prisão do amigo de longa data da família Bolsonaro disse que Queiroz ficou surpreso e parecia estar em uma espécie de cativeiro, ou seja, estava no imóvel contra a própria vontade, sem jamais ter deixado o local ao longo de um ano. Esse detalhe causa estranheza, pois alguém que passou por cirurgia para a retirada de um tumor no intestino e na sequência submeteu-se a tratamento quimioterápico não pode ficar sem acompanhamento médico.
Tão logo soube, por meio de assessores, da prisão de Fabrício Queiroz, o presidente da República passou a reagir de forma estranha. Ao deixar o Palácio da Alvorada, na manhã desta quinta-feira, Bolsonaro suspendeu o habitual “pit stop” para conversar com os apoiadores que se aglomeram diariamente diante da residência presidencial. Em seguida, o presidente convocou reunião de emergência, da qual participaram os membros do generalato palaciano e o ministro da Justiça, André Mendonça. Horas depois, juntou-se ao grupo o advogado-geral da União, José Levi Mello do Amaral Júnior.
Bolsonaro foi aconselhado a manter distância do escândalo e do advogado Frederick Wassef, como forma de se blindar em relação ao rumoroso caso, mas parece que o presidente da República preferiu ignorar os conselhos. Durante a reunião foi discutida uma reação à altura da prisão do ex-assessor parlamentar, que tem muito a contribuir com as investigações. Jair Bolsonaro viu na decretação da prisão do ex-assessor do filho como mais uma ação do Judiciário para tirá-lo do cargo, o que não é verdade, pois o pedido partiu do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Ora, se Bolsonaro e os filhos são inocentes, como insistem em alegar, assim como o próprio Fabrício Queiroz, o melhor que o presidente da República poderia fazer é deixar que a Justiça, concluídas as investigações, chegue a essa conclusão e livre a família desse pesadelo. Só reage de maneira intempestiva e colérica quem tem algo a explicar.
Vale ressaltar que Frederick Wassef se aproximou de Bolsonaro em 2014, quando o agora presidente conquistou novo mandato como deputado federal. Na ocasião, em e-mail enviado a Bolsonaro, o advogado afirmou que admirava o trabalho do então deputado federal nas redes sociais e comungava de suas ideias sobre armamento, família e combate à corrupção. Resumindo, em pese o direito (talvez obrigação) de todo advogado exercer a profissão em sua inteireza, Wassef é o que se pode chamar de “um espanto”.