Bolsonaro altera data da exoneração de Weintraub e transforma o Palácio do Planalto em “usina de truques”

 
Enquanto candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro prometeu aos incautos eleitores que, se eleito, mudaria a forma de fazer política. Sua eleição se deu à sombra da falsa bandeira da ética e da moralidade, algo comprovado pelos recentes escândalos envolvendo o governo e integrantes da família presidencial.

Por ocasião da demissão do então diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, o presidente deixou clara sua disposição para o “vale tudo”. Isso porque Bolsonaro determinou que o decreto de exoneração de Valeixo trouxesse a assinatura do outrora ministro da Justiça, Sérgio Moro, que não assinou o documento e foi surpreendido durante a madrugada de 24 de abril passado com o ato presidencial. Diante do escândalo, o Palácio do Planalto retificou o decreto de exoneração do então diretor-geral da PF.

Dois dias antes, em 22 de abril durante a fatídica reunião ministerial, que na verdade foi uma ode à cafajestice, Bolsonaro afirmou que interferiria na PF com o intuito de blindar os filhos e os amigos mais próximos, o que seria motivo para um imediato pedido de impeachment.

Como se não bastasse, Bolsonaro foi protagonista de uma farsa oficial que teve no cardápio o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, demitido por causa das confusões e provocações que levou a cabo na tentativa de manter-se no cargo. A postura beligerante fez de Weintraub um soldado de linha de frente do bolsonarismo, movimento que reúne ultrarradicais defensores da intervenção militar e do fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).

A demissão de Weintraub só foi efetivada, com publicação no Diário Oficial da União, no último sábado (20), horas após o ex-ministro ter desembarcado em Miami (EUA) com passaporte diplomático. Somente depois da confirmação de que Weintraub havia desembarcado nos Estados Unidos é que o Palácio do Planalto tomou as devidas providências para consumar a exoneração.

Até aquele momento, o caso era tratado como mais um escândalo palaciano, pois a “fuga” de Abraham Weintraub foi acertada com a cúpula do governo, que permitiu que ele fizesse uso do passaporte diplomático para ingressar na terra do Tio Sam, pois do contrário não conseguiria desembarcar em razão das restrições por causa da pandemia do novo coronavírus. Os EUA estabeleceram exceções em meio ao fechamento do território americano durante a pandemia. Dentre as exceções está a permissão para que ministros de Estado e representantes diplomáticos tenham permissão de ingressar no país.

 
No vácuo de um pedido de investigação sobre a forma como se deu a saída de Abraham Weintraub do Brasil e seu ingresso nos EUA, o Palácio do Planalto decidiu recorrer ao “jeitinho brasileiro” na tentativa de escapar de mais um rumoroso escândalo.

Na edição desta terça-feira (23) do Diário Oficial da União, o governo publicou retificação no decreto de exoneração de Weintraub, antecipando em um dia a demissão do então ministro. Ou seja, com a mudança a data da demissão passou a ser sexta-feira (19), não sábado (20). Esse ato irresponsável se deveu ao fato de o Ministério Público Federal ter solicitado ao Tribunal de Contas da União (TCU) a abertura de investigação para apurar eventual participação do Itamaraty no episódio.

O MPF quer saber se Abraham Weintraub valeu-se da condição de ministro de Estado, mesmo não mais integrando o governo, para obter visto especial que autoriza entrada imediata nos EUA. De acordo com um decreto do governo norte-americano, cidadãos de algumas nações, entre as quais o Brasil, devem fazer quarentena antes de entrar no país.

Em nota divulgada nesta terça-feira, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) informou que a exoneração de Weintraub foi publicada no último sábado (20) porque o pedido de demissão chegou à Secretaria-Geral da Presidência no mesmo dia. Contudo, de acordo com a Secom, a ratificação ocorreu porque o comunicado de Weintraub solicitava que a demissão fosse considerada a partir da última sexta-feira.

Ora, se no pedido de Weintraub constava que sua saída do governo deveria ser considerada a partir de 19 de junho, os servidores da Secretaria-Geral da Presidência ou são analfabetos funcionais ou têm seríssimas dificuldades para interpretar textos. Lembrando que a interpretação de uma data específica não exige doses exrtas de raciocínio.

Esse ziguezague palaciano complica não apenas piora a já difícil a situação de Abraham Weintraub, que a reboque da fraude enganou as autoridades norte-americanas, mas a do próprio governo Bolsonaro diante da Casa Branca. Se Washington reagirá a essa “malandragem” com a chancela do Palácio do Planalto não se sabe, mas em qualquer país minimamente sério o governo Bolsonaro já estaria no centro de rumorosa investigação, com direito a pedido de impeachment do presidente da República por crime de responsabilidade.

De igual modo, se o governo do presidente Donald Trump tiver rasas doses de brio, Weintraub deve ser expulso dos Estados Unidos por fraudar as regras de imigração do país em meio à pandemia de Covid-19. Além disso, a Casa Branca, que deveria dar guarida a um foragido da Justiça, está diante de grave incidente diplomático. Em relação à atitude tomada pelo governo de Jair Bolsonaro, trata-se de mais um caso de polícia.