Após ataques nas redes sociais, Renato Feder recusa convite para assumir Educação, que continua acéfala

 
Após sofrer uma série de ataques em redes sociais por parte dos olavistas, de integrantes da ala ideológica do governo e da bancada evangélica, o empresário Renato Feder afirmou no domingo (5) que decidiu recusar o convite do presidente Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Educação.

“Recebi na noite da última quinta-feira uma ligação do presidente Jair Bolsonaro me convidando para ser ministro da Educação. Fiquei muito honrado com o convite, que coroa o bom trabalho feito por 90 mil profissionais da Educação do Paraná. Agradeço ao presidente Jair Bolsonaro, por quem tenho grande apreço, mas declino do convite recebido. Sigo com o projeto no Paraná, desejo sorte ao presidente e uma boa gestão no Ministério da Educação”, escreveu Feder em comunicado reproduzido no Twitter e no Facebook.

Atual secretário de Educação do Paraná, Feder já havia sido cotado para assumir o MEC após a saída de Abraham Weintraub, em 18 de junho. À época, ele chegou a conversar com o presidente, mas Bolsonaro acabou escolhendo Carlos Alberto Decotelli. Após a queda deste antes mesmo da posse, por causa do escândalo provocado por falsificações em seu currículo acadêmico, Feder voltou a ser cotado para o cargo.

Se Decotelli durou apenas cinco dias no MEC entre sua indicação e saída, Feder ficou apenas dois na condição de convidado. O que mostra que a pasta da Educação pode ficar mais tempo Acéfala ou abrigar um radical para comandar tão importante segmento.

Na sexta-feira, a escolha do nome chegou a ser dada como certa por alguns aliados de Bolsonaro. Mas também desagradou os setores mais radicais do bolsonarismo, especialmente os ligados ao guru ultraconservador Olavo de Carvalho, que exerce forte influência sobre os filhos do presidente. Esses grupos veem o MEC como um palco para uma “guerra cultural” contra a esquerda e não querem que o ministério seja ocupado por um empresário que não compartilha dessa agenda extremista.

 
“Quem f… a educação nacional? Três turminhas: (a) militares, (b) comunistas, (c) empresários metidos a gênios”, escreveu Olavo em seu perfil no Twitter na última sexta-feira. Olavo havia influenciado a escolha de dois ministros da Educação do governo Bolsonaro: Vélez Rodríguez e Weintraub.

Nas redes sociais, olavistas e bolsonaristas mais radicais chegaram a acusar Feder de distribuir no Paraná livros que promovem da “ideologia de gênero” como forma de desgastar o seu nome. As alas radicais também exploraram o fato de Feder ter doado dinheiro para a campanha do governador paulista João Dória, um adversário do presidente, em 2018. Neste domingo, Feder chegou a publicar um longo texto rebatendo vários desses ataques.

O nome também não havia agradado políticos evangélicos que apoiam o presidente. No sábado, alguns veículos da imprensa já apontavam que Bolsonaro havia decidido descartar Feder.

A oposição de esquerda no Congresso também via o nome de Feder com desconfiança por ele ter uma “visão de mercado” em relação à educação. Em 2007, ele chegou a propor a privatização de todo o ensino brasileiro – mas disse recentemente que não defende mais essas ideias. No entanto, as críticas da oposição contra Feder não parecem ter sido mais eficazes do que os ataques lançados pelos próprios apoiadores do presidente.

Já os defensores da escolha de Feder eram principalmente políticos ligados ao “Centrão” do Congresso, governadores e empresários ligados ao setor de educação, que estavam fartos da gestão tumultuada do radical Weintraub.

A própria nomeação de Carlos Alberto Decotelli já havia sido encarada no setor educacional como uma derrota para os olavistas, mas eles nem chegaram a organizar uma reação, já que o professor caiu em poucos dias após a revelação dos problemas em seu currículo. Mesmo com a saída de Weintraub, vários olavistas ainda ocupam cargos no MEC, como Carlos Nadalim, secretário de Alfabetização. (Com agências de notícias)