Levados pelas correntes de ar, microplásticos derivados de veículos estão invadindo os oceanos

 
Dezenas de milhares de toneladas de microplásticos provenientes do tráfego rodoviário acabam nos oceanos a cada ano, transportadas pelas correntes de ar, afirma uma nova pesquisa divulgada na terça-feira (14) pela revista científica “Nature Communications”.

O resultado do estudo confronta a ideia de que os rios são a principal fonte de poluição oceânica. Segundo os cientistas, um terço de todo o microplástico produzido pela poluição rodoviária (estimado entre 40 mil e 100 mil toneladas) é despejado nos oceanos a cada ano, em comparação com as 65 mil toneladas de microplásticos que vão parar no mar pelos rios.

Com potencial de acelerar o derretimento do gelo no Ártico, os microplásticos – partículas minúsculas de pedaços maiores do material quando se quebra, além de microfibras de roupas e outros materiais – já foram encontrados tanto no topo de algumas das geleiras mais altas da Terra como no fundo de suas depressões mais profundas.

Para o estudo em questão, pesquisadores da Noruega e da Áustria se concentraram particularmente em microplásticos derivados de pastilhas de freio e pneus de veículos rodoviários.

Eles coletaram dados sobre a quantidade desses microplásticos que é dispersa no ar, e os combinaram com simulações de onde eles poderiam ser transportados pelas correntes de vento.

“O transporte atmosférico, uma fonte subestimada ou nem sequer considerada, tem o mesmo impacto na poluição microplástica do oceano que o transporte fluvial”, disse à AFP Nikolaos Evangeliou, do Instituto Norueguês de Pesquisa do Ar e principal autor do estudo.

 
Ele acrescenta ainda que os microplásticos já vinham afetando a saúde humana e animal, pois são capazes de absorver compostos orgânicos e metais pesados tóxicos, que, por sua vez, são ingeridos e entram na cadeia alimentar.

A maioria das emissões de plástico do tráfego rodoviário é produzida em regiões com veículos pesados, como América do Norte, Norte da Europa e Sudeste da Ásia.

O microplástico no aquecimento global

Enquanto a produção global de plástico só aumenta, tendo chegado a 359 milhões de toneladas em 2018, o estudo de Evangeliou consiste em uma tentativa inédita de determinar quanto do material derivado de pneus e pastilhas de freio de veículos rodoviários é disperso e depositado pelas correntes de ar.

Os cientistas descobriram também que, quando simulavam para onde essas emissões eram transportadas pelos padrões climáticos globais, uma quantidade significativa tendia a acabar no Ártico. Dada a cor escura das partículas de plástico, que absorve mais calor do Sol, a poluição poderia afetar a taxa de derretimento do gelo por lá, alertaram os pesquisadores.

“Essas pequenas partículas podem atuar como impurezas absorvedoras de luz quando depositadas na neve e nas superfícies de gelo, diminuindo a área (reflexão de calor) e acelerando o derretimento”, explicou Nikolaos Evangeliou.

Com vários países prometendo encerrar a produção de veículos a gasolina e a diesel nas próximas décadas, o artigo sugeriu que as emissões de plástico nas estradas continuarão a representar uma ameaça ambiental crescente, já que pneus e freios provavelmente serão os mesmos, inclusive nos modelos elétricos.

“O impacto ambiental dos microplásticos nas estradas é decorrente dos materiais de que são feitos: combustíveis fósseis, como etileno e propileno”, disse Evangeliou. “Assim, a maior necessidade de plásticos resulta em maiores emissões de gases de efeito estufa”, completou. (Com agências internacionais)

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