Bolsonaro e parlamentares agem para conter escândalo envolvendo a Igreja Universal em Angola

 
Como se não bastasse o fiasco em que se transformou a diplomacia brasileira, sob a batuta do ministro Ernesto Araújo, o Itamaraty e o Palácio do Planalto acabam de mergulhar em águas turvas internacionais, assunto que deve render dividendos negativos ao País.

Nas últimas semanas, o bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), buscou apoio político com o presidente Jair Bolsonaro e no Congresso Nacional na tentativa de conter um escândalo envolvendo a IURD em Angola.

No país africano, bispos da igreja evangélica, inconformados com desvios financeiros levados a cabo pelos líderes locais da IURD, romperam com cúpula da igreja, tomaram os templos e expulsaram os brasileiros que atuavam como prepostos de Edir Macedo em Angola.

O presidente Jair Bolsonaro, o ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e o embaixador do Brasil em Luanda, Paulino Franco de Carvalho Neto, e parlamentares têm atuado nos bastidores para defender os interesses da Universal, como se o governo brasileiro fosse uma agência de despacho de protagonistas de escândalos que vivem nababescamente às custas da fé alheia.

A IURD afirma que pastores brasileiros foram agredidos e colocados para fora de suas casas em Angola, sendo que dezenas de seus missionários no país sofrem ameaças. No contraponto, os religiosos angolanos acusam a direção brasileira da IURD, em documento assinado por 320 bispos e pastores, de crimes graves, como evasão de divisas, expatriação ilícita de capital, racismo, discriminação, abuso de autoridade. Além disso, a cúpula da Universal é acusada de impor aos pastores angolanos a prática de vasectomia.

Os opositores garantem que são 362 dos 464 pastores em atividade em Angola e afirmam ter o controle de 220 dos cerca de 300 templos da Universal no país. A URD, por sua vez, diz que a intifada é comandada por “ex-seguidores” e que apenas 30 templos foram tomados.

Em nota, a Universal classificou os rebelados como um grupo de religiosos “desvinculados da instituição por práticas e desvio de condutas morais e, em alguns casos, criminosas e contrárias aos princípios cristãos exigidos de um ministro de culto”.

 
O presidente Jair Bolsonaro enviou, na última segunda-feira (13), carta ao homólogo angolano, João Lourenço, manifestando preocupação com os acontecimentos envolvendo a IURD e solicitando proteção aos brasileiros.

“Meu apelo a Vossa Excelência é para que, sem prejuízo dos trâmites judiciais, com seu tempo próprio, se aumente a proteção de membros da IURD, a fim de garantir sua integridade física e material e a restituição de propriedades e moradias, enquanto prosseguem as deliberações nas instâncias pertinentes”, escreveu o presidente brasileiro na carta.

Uma comissão de senadores e deputados federais deverá visitar Angola no início de agosto, com o intuito de solicitar ao governo de João Lourenço garantia de “reciprocidade de tratamento” aos brasileiros, a exemplo do que ocorre com os angolanos no Brasil.

Comissão e viagem

O pedido para que uma comissão de parlamentares viaje a Angola a fim de verificar a situação dos brasileiros partiu do senador Major Olímpio e foi aprovado pela Comissão de Relações Exteriores do Senado na quinta-feira (16). A visita a Luanda está agendada para a segunda semana de agosto, já que por enquanto as fronteiras angolanas estão fechadas em razão da pandemia do novo coronavírus.

Apresentaram requerimentos para formação de comissão especial, além do Major Olímpio, os senadores Nelsinho Trad (PSD-MS) e Marcos do Val (Podemos-ES). Os parlamentares destacaram nos requerimentos a necessidade de se apurar “a grave situação da Igreja Universal do Reino de Deus que sofre perseguição religiosa” e os supostos atos de violência contra pastores brasileiros. Os parlamentares solicitaram ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a requisição de avião da Força Aérea Brasileira para viabilizar a missão.

No país africano, a IURD foi alvo de mandados de busca e apreensão, cumpridos pelo Serviço de Investigação Criminal da Polícia Nacional de Angola em residências de bispos e pastores, escritórios e templos religiosos. Os policiais apreenderam computadores, câmeras de segurança, documentos contábeis e extratos bancários.

Os mandados foram expedidos pela Justiça de Angola no escopo de investigação criminal da polícia local para investigar as denúncias feitas pelos pastores angolanos, em novembro de 2019, quando começaram os protestos contra a cúpula da IURD.

Como mencionado acima, trata-se de um conturbado caso de polícia, o qual o governo brasileiro deveria acompanhar como espectador, interferindo apenas no caso de brasileiros violados em seus direitos. Do contrário, Edir Macedo que coloque a mão no bolso e contrate profissionais à altura para provar o que alega em seus veículos de comunicação. Fica a pergunta: Se o pivô do escândalo em questão fosse um centro umbandista brasileiro com filial em Angola, Bolsonaro colocaria o governo para resolver o imbróglio?

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