Estudo vincula onda de calor na Sibéria à ação humana

 
Uma recente onda de calor na Sibéria, com registros de temperatura recorde de 38 graus Celsius, seria “quase impossível” sem a influência das mudanças climáticas decorrentes da ação do homem, afirmaram cientistas em estudo divulgado na última quarta-feira (15). A pesquisa também indica que o efeito estufa multiplicou a chance de calor prolongado na região em pelo menos 600 vezes, talvez em até dezenas de milhares de vezes.

Para o estudo – que ainda não foi submetido à revisão por pares – uma equipe internacional de pesquisadores analisou as temperaturas na Sibéria entre janeiro a junho deste ano, – mês em que a região registrou média recorde, incluindo um dia em que foi registrada máxima de 38 graus.

Os especialistas descobriram que o período foi 2° C mais quente do que teria sido se os humanos não tivessem aquecido o planeta através de décadas de emissões de gases do efeito estufa. Os cinco anos mais quentes da história ocorreram nos últimos cinco anos e há grande chance de que 2020 seja o ano mais quente já registrado.

Os polos da Terra estão aquecendo mais rápido que o resto do planeta, e as temperaturas na Sibéria – lar de grande parte do permafrost rico em carbono do mundo – foram mais de 5° C mais quentes que a média entre janeiro e junho.A máxima de 38 °C foi registrada na cidade de Verkhoyansk.

Andrew Ciavarella, um dos autores do estudo e cientista do Met Office, serviço de meteorologia britânico, descreveu as descobertas como “surpreendentes”. “Esta é mais uma evidência das temperaturas extremas que podemos esperar ver com mais frequência ao redor do mundo em um clima cada vez mais quente”, disse o pesquisador.

O impacto das mudanças climáticas em eventos climáticos extremos, como grandes tempestades e secas, está agora bem estabelecido, mas até bem pouco tempo cientistas não conseguiam vincular definitivamente um evento individual ao aquecimento global.

Como parte de uma área crescente da pesquisa climática, conhecida como ciência da atribuição climática, a equipe – formada por cientistas de Reino Unido, Rússia, França, Holanda, Alemanha e Suíça – usou 70 modelos climáticos, realizando milhares de complexas simulações, para comparar as condições atuais às de um mundo sem fatores humanos de aquecimento.

 
Eles, então, descobriram que o calor prolongado aconteceria menos de uma vez a cada 80 mil anos sem as mudanças climáticas provocadas pelo homem. Portanto, a onda de calor seria “quase impossível em um clima que não foi aquecido pelas emissões de gases do efeito estufa”.

A equipe de pesquisadores enfatizou que a onda de calor da Sibéria tem reflexos mundiais. Cerca de 1,15 milhão de hectares de floresta em chamas liberaram milhões de toneladas de CO2 na atmosfera. Ao mesmo tempo, os incêndios florestais e as ondas de calor sustentadas aceleraram o derretimento do permafrost da região.

Isso causou o colapso de um tanque de óleo construído em solo congelado em maio, levando a um dos piores derramamentos de petróleo da região.

“Uma onda de calor tão prolongada é importante, não apenas por sua influência sobre as pessoas, mas também do ponto de vista científico”, diz Olga Zolina, do Instituto P.P. Shirshov de Oceanografia da Rússia. “O Ártico geralmente é muito, muito importante para a formação de clima e circulação. Portanto, temperaturas tão altas são realmente importantes para todo o mundo.”

Embora a pesquisa tenha sido compilada dentro de duas semanas, ainda não tenha sido submetida à revisão por pares ou divulgada numa publicação científica de peso, os autores disseram que ela produziu “um dos resultados mais fortes do que qualquer estudo de atribuição realizado até o momento”.

Pelo menos dez cientistas não envolvidos na pesquisa contatados pela agência de notícias Associated Press disseram que o estudo é cientificamente correto, tendo usado técnicas adequadas.

“Eles, em um tempo impressionantemente curto, organizaram muitos conjuntos de dados diferentes que realmente dão credibilidade aos seus resultados’”, avaliou o especialista em clima do Instituto Meteorológico Dinamarquês Ruth Mottram.

Esses tipos de estudos permitem que pessoas e líderes globais “conectem os pontos’” entre eventos climáticos extremos e mudanças climáticas e preparem-se para eles, segundo a climatologista francesa Valerie Masson-Delmotte, que também não atuou no estudo. “O clima do futuro é muito diferente, como este artigo mostra”, disse o professor de meteorologia da Universidade Estadual da Pensilvânia David Titley, que não fez parte da pesquisa. (Com agências internacionais)

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