No pandemônio bolsonarista, o “jeitinho brasileiro” e o “faça o que eu faço” rasgam a lei sem cerimônia

 
Diz o sempre bem-humorado jornalista José Simão, colunista da “Folha de S.Paulo” e da BandNews FM, que o Brasil é o “país da piada pronta”. Gostem ou não os brasileiros, essa é a dura e longeva realidade de um país que não trata com responsabilidade e de forma séria suas questões.

O desrespeito à lei no Brasil é algo tão acintoso e massificado, que com o passar dos anos surgiu a máxima que por aqui leis são feitas para serem descumpridas. Ou seja, o brasileiro pouco se importa com o respeito à legislação vigente. Lembrando que um povo só se transforma em nação no momento em que aceita existir debaixo de um conjunto legal.

À sombra do dito popular “farinha pouca, meu pirão primeiro”, o brasileiro passou a nutrir enorme apreço pela chamada “coisa pronta”, como sempre afirmamos, não importando se para tal a democracia será atacada em sua estrutura. Da mesma maneira, o cidadão não se importa com o próximo, assim como dá de ombros para temas políticos relevantes, os quais, se acompanhados de perto, poderiam ser preponderantes para mudar a realidade do País.

Esse introito serve para emoldurar os escárnios que têm tomado conta do cotidiano nacional, começando pela pandemia de Covid-19, que no Brasil já deixou 108 mil mortos e mais de 33 milhões de infectados.

Desde o início da crise provocada pelo novo coronavírus no País, o presidente Jair Bolsonaro não apenas recorreu ao populismo barato para minimizar a pandemia, alegando que no máximo morreriam 800 pessoas, entre tantos absurdos vociferados, mas politizou o combate à doença causada pelo vírus SARS-CoV-2. O presidente, que tentou transformar a hidroxicloroquina em derradeira tábua de salvação, passou a zombetear contra a doença, levando milhares de cidadãos para o corredor da morte.

Com a politização da pandemia e a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de que é de responsabilidade dos governadores e dos prefeitos a definição das políticas de combate ao novo coronavírus, Bolsonaro adotou um discurso que empurrou seus radicais apoiadores na direção da desobediência.

 
Decretos estaduais e municipais foram editados em todo o País com o objetivo de conter o avanço da pandemia e minimizar os efeitos colaterais da Covid-19, desafogando a ocupação de leitos hospitalares. Após cinco meses de isolamento social ainda continua fazendo estragos, já que o brasileiro, ignorando a recomendação de especialistas, decidiu por conta própria cancelar a quarentena, como se não mais existisse risco de contágio.

Países considerados desenvolvidos estão retomando medidas austeras para tentar evitar uma segunda onda da Covid-19, mas no Brasil, o eterno paraíso do “faz de conta”, regras são desrespeitadas de forma criminosa. Esse cenário de desrespeito à vida se dá no vácuo da irresponsabilidade genocida de Bolsonaro, que desde o início da pandemia vem tratando a Covid-19 com galhofas e populismo, ignorando a dor das famílias que perderam entes queridos.

Outro tema que tornou-se palco do desrespeito às leis e às regras é o meio ambiente. Preocupado com o compromisso assumido durante a campanha presidencial com o agronegócio, Bolsonaro precisou classificar a proteção do meio ambiente como bandeira esquerdista, pois só assim poderia defender o vale-tudo nas florestas brasileiras. Foi a reboque dos discursos criminosos do presidente da República e do ministro do Meio Ambiente que a Amazônia brasileira e o Cerrado começaram a arder em chamas.

Depois da pressão internacional, o Palácio do Planalto e vários governos estaduais baixaram decretos proibindo as queimadas, em especial no período de seca, como forma de manejo das áreas destinadas ao agronegócio, mas o irresponsável palavrório de Bolsonaro contra o meio ambiente atropelou a lei. Em chamas há dias, com impressionante devastação da flora e da fauna local, o Pantanal é novamente vítima de agricultores que se importam apenas com o próprio lucro. O Palácio do Planalto, que deveria reagir em termos práticos, permanece em silêncio diante da tragédia que assusta o restante do planeta. Isso porque Bolsonaro prega a absurda teoria que tem a defesa das florestas como ameaça à soberania nacional.

Para finalizar, sete em cada dez brasileiros defendem o flagrante desrespeito às leis para condenar corruptos, como se a Constituição nada representasse e o Estado de Direito simplesmente inexistisse. Os mais afoitos – e ignaros também – elevaram ao panteão dos heróis nacionais os responsáveis por condenações no escopo da Operação Lava-Jato, dando subsídios para o surgimento de um movimento batizado como “lavajatismo”.

O objetivo não é defender corruptos, pelo contrário, até porque coube ao editor do UCHO.INFO fazer, em agosto de 2005, a primeira denúncia sobre o esquema de corrupção na Petrobras e de forma hercúlea insistir para que o caso fosse investigado. Foram anos de luta e persistência até que a ação criminosa que “derreteu” os cofres da petrolífera começasse a ser investigada.

A corrupção precisa ser investigada e punida, sempre dentro dos limites da lei, pois do contrário corre-se o risco de fornecer ingredientes para que, em algum momento, o corrupto transforme-se em vítima do Estado. Além disso, condenar desrespeitando a legislação vigente é atropelar a democracia. Como afirmamos em matéria anterior, o brasileiro não se indigna com a corrupção, mas com quem a pratica. Isso fica patente no silêncio de muitos diante dos escândalos envolvendo o presidente da República, seus filhos, parentes, a própria primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e Fabrício Queiroz.

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