Guedes diz ter a confiança de Bolsonaro, mas “não se sente à vontade” no cargo de ministro da Economia

 
Quando dirigentes de um clube de futebol afirmam publicamente que o técnico será mantido no cargo, apesar da má fase, não demora muito para que a demissão do treinador seja anunciada. Assim funciona no universo da bola. Na política acontece algo semelhante, pois quando integrantes de determinado governo são defendidos à exaustão, apesar de desentendimentos com o governante, é porque a demissão está a caminho.

Batizado pelo presidente da República com a alcunha “Posto Ipiranga”, o ministro Paulo Guedes, da Economia, demonstra insatisfação e desconforto ao comandar a pasta, já que sua voz em defesa do teto de gastos não tem sido ouvida adequadamente pelos palacianos. Na verdade, uma ala do governo de Jair Bolsonaro defende o aumento dos gastos como forma de alavancar a popularidade do presidente e talvez garantir sua reeleição.

Em meio às especulações sobre sua eventual saída do governo, Guedes disse nesta segunda-feira (17) que conta com a confiança do presidente e que alertou sobre a importância do teto de gastos. O ministro afirmou também que não se sente à vontade no cargo.

“Existe muita confiança do presidente em mim e muita confiança minha no presidente”, disse Paulo Guedes. “À vontade nesse cargo, eu acho difícil você encontrar alguém que vai estar sempre à vontade, é um cargo difícil”, completou.

Há dias, Guedes disse que o desrespeito ao teto de gastos significa colocar o presidente da República na rota de um processo de impeachment por crime de responsabilidade. É fato que a sinalização do ministro tinha endereço certo, mas é de conhecimento público que Bolsonaro, a exemplo dos antecessores, recorre a manobras “legais” para fura o limite de gastos imposto pela lei.

 
Trata-se do crédito extraordinário, via de regra aberto por meio de Medida Provisória e que, apesar de entrar em vigor no ato da edição, depende de aprovação do Congresso Nacional. E o governo está prestes a editar uma MP para liberar R$ 5 bilhões sob a rubrica do crédito extraordinário.

Considerando que Bolsonaro “comprou” o apoio do chamado Centrão com a distribuição de cargos na máquina federal, a aprovação de uma MP dessa natureza corre menos risco do que se o presidente não tivesse cooptado número confortável de deputados federais. Mesmo assim, a aprovação da MP não é certa e pode custar caro ao Palácio do Planalto, principalmente porque o Centrão é o maior interessado no assunto.

Paulo Guedes alega que investimentos por parte do governo federal poderão surgir do remanejamento de recursos do orçamento da União, mas é difícil que isso ocorra de maneira tão simples. A declaração do ministro da Economia é compreensível, pois trata-se de um neófito no mundo da política.

Equilíbrio fiscal é considerado como garantia de investimentos, em especial estrangeiro, porque sinaliza responsabilidade do governo no trato das contas públicas. Por outro lado, política também se faz com base em pesquisas de opinião e índices de aprovação do governo.

Como Bolsonaro está encantado com os resultados da mais recente pesquisa Datafolha, convencê-lo a não furar o teto de gastos é tarefa hercúlea. Afinal, o auxílio emergencial fez a aprovação do presidente subir alguns degraus em redutos que até recentemente eram considerados patrimônio da esquerda. Ou seja, entre a saída de Guedes e a manutenção dos índices de aprovação de Bolsonaro, o titular da Economia será a primeira vítima. Afinal, se a permanência do ministro fosse algo certo, a equipe econômica não estaria sendo alvo de “debandada”.

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