Em nome do lucro, mercado financeiro acredita na mitomania que desce a rampa do Palácio do Planalto

 
Na última segunda-feira (17), a permanência de Paulo Guedes à frente do Ministério da Economia era uma incógnita e os rumores sobre uma possível saída do “Posto Ipiranga” cresceram ao longo do dia. Na terça-feira, depois de encontro palaciano com o presidente da República, Guedes anunciou que permaneceria no governo, pois conta com a confiança de Jair Bolsonaro e vice-versa. Foi o suficiente para o mercado acionário registrar alta, como se a política brasileira fosse ciência exata.

Que o mercado financeiro tem o lucro com meta primeira todos sabem, mas acreditar na declaração de um estreante na política, como Paulo Guedes, é sinal de que o segmento busca o lucro a qualquer preço. Quem conhece a mecânica da política nacional sabe que Guedes continua sobre o fio de afiada navalha, pois seu discurso liberal caminha na contramão do populismo barato e do assistencialismo de ocasião de Bolsonaro.

De olho na reeleição desde o primeiro dia de governo, repetindo o que fizeram os antecessores, Jair Bolsonaro viu no assistencialismo uma fórmula segura e eficaz para alavancar seus índices de aprovação. Sem abandonar a banda radical e ideológica de apoiadores, Bolsonaro passou a incensar as camadas mais pobres da sociedade, apostando em um resultado positivo em termos de popularidade. Prova disso é o efeito do auxílio emergencial, que deu ao presidente doses de folego nas pesquisas de opinião.

Esse cenário aponta na direção da necessidade de o governo manter o pagamento de benefícios sociais, caso o presidente de fato queira manter seu projeto de reeleição. Isso significa furar o teto de gastos, mesmo que a reboque de manobras supostamente legais, e mandar às favas o anunciado plano de persecução do equilíbrio fiscal. E a permanência de Paulo Guedes no governo não significa que o plano será mantido.

Com quase cinco dúzias de pedidos de impeachment sobre a escrivaninha do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que até então não demonstrou disposição para analisar ao menos um dos requerimentos, Bolsonaro continua precisando de blindagem parlamentar para permanecer no Palácio do Planalto. Para tal, o presidente terá de abrir os cofres e usar o dinheiro público para contemplar os interesses privados dos apoiadores de aluguel.

 
Confirmado esse quadro, insistir no discurso do equilíbrio fiscal e do respeito ao teto de gastos é querer enganar a parcela desavisada da opinião pública, que sequer imagina o que significam esses assuntos que impactam diretamente na economia e, por consequência, na vida do cidadão.

Enquanto Paulo Guedes afirma que está a puxar o freio dos gastos do governo, Bolsonaro diz que não vê problema em continuar acelerando a cornucópia oficial para manter os índices de aprovação. A prevalecer a vontade do presidente da República, o brasileiro precisa estar preparado para o aumento das taxas de juro, o que implica no encarecimento da dívida pública, e a elevação cambial, que produzirá efeitos colaterais na seara da inflação. Em outras palavras, o governo vive aquela conhecida situação “se ficar o bicho come, se correr o bicho pega”.

É necessário ressaltar que o plano de Bolsonaro para continuar nas graças do povo é semelhante às “pedaladas fiscais” que levaram a então presidente Dilma Rousseff a ser apeada do cargo. Não que outros mandatários nacionais tenham passado ao largo das “pedaladas”, mas naquele momento o ambiente político se mostrou propício ao impeachment da petista, cujo partido enfrentava graves denúncias de corrupção.

A ferramenta do “crédito extraordinário, a que o governo começa a recorrer para aplacar a volúpia do Centrão, é uma perigosa armadilha que pode levar ao impeachment. Sem atender aos pedidos dos centristas, Bolsonaro voltará à berlinda, até porque na política prevalece o mantra “é dando que se recebe”.

Para concluir, que ninguém pense que Bolsonaro está preocupado com o futuro do País e dos brasileiros, pois seu objetivo é conquistar um novo mandato, apesar de sua fragorosa incompetência para cargo de tamanha relevância e responsabilidade. No tocante a Paulo Guedes, caso tenha doses rasas de vergonha e coerência, a demissão é o caminho mais honroso para quem aterrissou na Esplanada dos Ministérios a bordo do discurso liberal, mas é obrigado a cumprir ordens de um populista que descobriu a esmola social como tábua de salvação.

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