Flávio Bolsonaro fez retiradas em conta de loja logo após franquia receber depósitos em espécie

 
Como sempre afirma o UCHO.INFO, corrupção e crimes correlatos só merecem duras críticas por parte da opinião pública quando cometidos por integrantes da esquerda. Quando as transgressões são protagonizadas por representantes da extrema direita, o brasileiro cala-se de maneira estranha e covarde. Talvez isso ocorra pelo fato de o extremismo direitista ter viés intimidador ou porque o objetivo maior de parte da população sempre foi defenestrar a esquerda. Para nós, que fazemos jornalismo com responsabilidade e baseado na verdade dos fatos, corrupção é crime independentemente da bandeira ideológica.

Presidente da República, Jair Bolsonaro foi eleito no vácuo de um falso discurso em prol da restauração da ética na política e do implacável combate à corrupção, mas este portal, que não caiu na esparrela do capitão, cansou de alertar para o fato de que o chefe do Executivo era o que se conhece como “mais do mesmo”, assim como continua sendo.

Cada vez mais enredado no escândalo das “rachadinhas”, que tem na proa o filho Flávio Bolsonaro, senador pelo Rio de Janeiro, e o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, o presidente irritou-se no último domingo quando questionado sobre depósitos no total de R$ 89 mil feitos na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Mostrando mais uma vez seu descontrolável apreço pelo totalitarismo, Bolsonaro ameaçou o repórter do jornal “O Globo” que lhe questionou sobre o tema e disse: “a vontade é encher tua boca com uma porrada.” De chofre é preciso ressaltar que essa forma de falar não coaduna com a liturgia do cargo de presidente da República, assim como ameaçar um representante da imprensa é um atentado contra a democracia e o Estado de Direito.

Sem ter como explicar as razões dos depósitos na conta da primeira-dama, Jair Bolsonaro prefere o ataque como forma de intimidação. Essa estratégia não está funcionando, já que outros capítulos da epopeia criminosa apontam na direção de inúmeros ilícitos cometidos pelo clã presidencial no escopo da retenção de parte dos salários dos servidores do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Flávio Bolsonaro, que continua alegando inocência no caso das “rachadinhas”, recebeu, entre março de 2015 e dezembro de 2018, 1.512 depósitos em dinheiro na conta da loja de chocolate de sua propriedade, em um shopping center da zona oeste carioca. Dos depósitos em espécie, 63 foram no valor de R$ 1,5 mil, outros 63 de R$ 2 mil e mais 74 de R$ 3 mil, totalizando R$ 442.500,00.

 
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Analisando os extratos bancários da loja de chocolate, obtidos a partir de quebra de sigilo autorizada pela Justiça fluminense, Flávio Bolsonaro, na condição de sócio quotista da empresa, fez retiradas nos mesmos dias em que a franquia recebeu depósitos em dinheiro vivo.

Nos dias 25 e 26 de janeiro de 2016, a loja de chocolate recebeu 12 depósitos fracionados, 6 com o mesmo valor cada, R$ 3 mil em espécie. O valor total depositado foi de R$ 25.559,00. No dia seguinte, 27 de janeiro, Flávio fez uma transferência da conta da loja para sua conta pessoal no valor de R$ 25.555,00.

Em 21 de novembro de 2017, foram depositados na conta da loja R$ 24.566,00 em dinheiro. Dos 11 depósitos fracionados, 8 têm valores redondos que somam R$ 20 mil. No mesmo dia, Flávio transferiu R$ 20 mil para sua conta pessoal.

Em 18 de dezembro de 2017, a franquia de chocolate recebeu na conta bancária R$ 35.724 em dinheiro. Foram 11 depósitos de valor redondo – 10 de R$ 3 mil e 1 de R$ 1 mil, totalizando R$ 31 mil. No mesmo dia, Flávio transferiu R$ 30 mil para sua conta pessoal.

O cruzamento de dados bancários indica uma movimentação que está no radar do Ministério Público do Rio de Janeiro. As investigações mostram uma relação direta entre as contas bancárias de Flávio e o esquema ilegal das “rachadinha”, sendo que a conta bancária da loja de chocolate funcionava como “conta de passagem” para os recursos de origem ilícita.

O cerco se fecha cada vez mais no entorno da família Bolsonaro, o que explica, mas não justifica, o descontrole do presidente da República. Em meio a esse enredo criminoso é preciso exigir que Michelle Bolsonaro dê explicações sobre os depósitos, o que deve ser feito perante a Justiça, e cobrar do Senado a abertura de processo de cassação do mandato de Flávio Bolsonaro. Ambos os fatos ainda não aconteceram porque o Brasil parece desprovido de autoridades com coragem.

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