Ministro da Economia, Paulo Guedes, que há dias prometeu um “big bang” no cenário econômico nacional, está em pleno processo de “fritura política”. É o que se depreende dos últimos acontecimentos que marcaram o cotidiano da Esplanada dos Ministérios, com direito a crítica pública do presidente Jair Bolsonaro à proposta do programa “Renda Brasil”. Esse clima de insatisfação mútua, apesar das negativas de parte a parte, ficou evidente com a ausência de Guedes na cerimônia de lançamento do programa “Casa Verde Amarela”, na terça-feira (25), no Palácio do Planalto.
Entre a busca por soluções para reacender a economia brasileira e a briga pelo poder nos escaninhos do governo há uma vala em que os protagonistas se digladiam e chafurdam em interesses dos mais diversos. De um lado está Paulo Guedes, que coma defesa do plano de equilíbrio fiscal tenta preservar o pouco que resta da confiança dos investidores, ao mesmo tempo em que é instado a “abrir as torneiras” para garantir a eventual reeleição de Bolsonaro.
Do outro lado está Rogério Marinho, até recentemente integrava a equipe de Guedes e hoje comanda o Ministério do Desenvolvimento Regional, que defende o aumento de gastos como forma de alavancar a economia. Ex-deputado federal pelo Rio Grande do Norte e filiado ao PSDB, Marinho conhece razoavelmente bem como funciona a política no Nordeste, um dos focos do presidente no processo de garimpagem de apoio popular para pavimentar seu projeto eleitoral.
Como tem afirmado o UCHO.INFO, não há como reaver a confiança dos investidores nacionais e internacionais sem uma política clara que mira o equilíbrio fiscal. A questão é simples: não se pode gastar mais do que se arrecada. Esse mantra aritmético e óbvio é imperioso em situações normais, não em um cenário de devastação econômica como o que temos em razão da pandemia do novo coronavírus.
Se antes da crise provocada pela Covid-19 o teto de gastos era um considerável entrave para a recuperação da economia – tanto é assim que Paulo Guedes nada fez em quinze meses de governo –, depois do estrago provocado pelo novo coronavírus a situação tornou-se pior e muito mais difícil de ser solucionada.
O grande problema do País é, como sempre foi, o populismo barato que embala a política. Os governantes, assim que eleitos e instalados nos respectivos cargos, começam a pensar na reeleição. Em seguida passam a adotar medidas que viabilizem a obsessão pelo poder.
O UCHO.INFO não está a defender gastos descontrolados por parte do governo, até porque isso levaria o País à bancarrota, mas é preciso compreender a realidade brasileira antes de adotar discursos marcados pelo liberalismo econômico. Não é de hoje que este portal alerta para a dificuldade de retomada do crescimento econômico, de forma sustentável, em um cenário em que dois terços da população recebem menos de dois salários mínimos. Para piorar o que já é ruim, entre 40% e 50% dos trabalhadores brasileiros têm renda mensal inferior a um salário mínimo. Em um quadro como esse, o máximo que se consegue são lampejos de pujança econômica, que logo desaparecem.
Outra questão preocupante envolve o salário mínimo, assunto que há muito abordamos com insistência. Quando a remuneração mínima prevista em lei é pouco para quem recebe e muito para quem paga, é porque há algo grave na condução da economia. Prova maior disso é o contingente de pessoas que recorreram ao auxílio emergencial em razão da pandemia. Mais de 107 milhões de brasileiros solicitaram o auxílio, sendo que aproximadamente 60 milhões de pessoas foram consideradas aptas a receber o benefício. Mesmo assim, a economia brasileira está cambaleante.
Considerando que a pandemia do novo coronavírus colocou uma enorme e potente lupa sobre a tragédia social brasileira, não há como querer reaquecer a economia com corte de benefícios importantes e criação de novos impostos. É preciso buscar o meio do caminho entre a limitação de gastos e o aumento de investimentos, que é diferente de mandar o dinheiro público pelos ares. Nessa proposta está a concessão de benefícios ainda maiores e mais eficientes à parcela desassistida da população.
O nó que se formou a partir do Palácio do Planalto é que Jair Bolsonaro só pensa na reeleição, enquanto Paulo Gudes precisa manter o discurso que agrada ao mercado e preservar a defesa que faz do liberalismo econômico. A pandemia mostrou que o Brasil está a anos-luz de uma situação minimamente razoável, mas as autoridades, que se recusam a “descer do salto”, insistem e promessas inócuas e anúncios mirabolantes, que fogem à realidade.
Neófito na política, Paulo Guedes já aprendeu as lições básicas de como se equilibrar no poder. Até porque, o ministro reconheceu o momento difícil que vive ao afirmar “tem um complô para me derrubar em Brasília”. Resumindo, Bolsonaro, que tem mandato eletivo, tem nas mãos a frigideira que está a fritar Paulo Guedes. Resta saber por quanto tempo o ministro resistirá ao calor.
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