Dinheiro entra, dinheiro sai

(*) Carlos Brickmann

Os R$ 600,00 de ajuda de emergência já caíram para R$ 300,00; não havia possibilidade de manter os R$ 600,00 sem estourar o caixa do Governo. Mas quem já se havia acostumado com R$ 600,00 vai gostar bem menos dos R$ 300,00. E, ao mesmo tempo em que a ajuda cai pela metade, as despesas sobem muito: arroz, feijão, milho e trigo subiram dramaticamente. O arroz de primeira qualidade, que era vendido por pouco mais de R$ 15,00 o pacote de cinco quilos, já não é encontrado por menos de R$ 20,00. E, conforme o local, já atinge os R$ 40,00. Os preços não subiram por maldade de ninguém: com a alta do dólar, os produtos brasileiros de exportação ficaram bem mais baratos, e sobrou pouco para o mercado interno. Traduzindo, preço mais alto.

E que é que o Governo pode fazer? A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que vem fazendo bom trabalho, diz que o arroz subiu mas vai baixar. Como? “No ano que vem, se Deus quiser, teremos uma supersafra”. Ótimo: e até lá, seguindo sua infeliz frase do ano passado, as famílias mais carentes vão comer mangas? O presidente Bolsonaro fez um apelo para que os comerciantes sejam patriotas e reduzam sua margem de lucro, chegando o mais próximo possível do zero, para manter os preços acessíveis. É isso aí!

Sarney, que chegou a ser popularíssimo na época do Plano Cruzado, não convenceu ninguém a tomar prejuízo em nome do patriotismo. Pode ser que hoje haja patriotas mais convictos, por que não? Tudo em nome do Mito.

Por que parou?

O fato é que houve Plano Cruzado, Plano Bresser, Plano Sarney, mas os preços sempre subiram de aeroplano. Só conhecemos a estabilidade com o Plano Real, o controle de gastos, a convicção de que os preços são formados pelo mercado e não pelo patriotismo ou por safras do ano seguinte. Nem medo controla preços: basta lembrar que no Cruzado a Polícia Federal caçou bois no pasto e nem assim eles chegaram ao açougue no preço previsto.

Comandante fresquinho

Em Penedo, Alagoas, o dono da lanchonete Mr. Burg foi preso pela PM por batizar seus sanduíches com nome de patentes militares. O comandante da PM considerou que o batismo era uma ofensa à corporação. Alberto Lira, 38 anos, dono da lanchonete, disse que era uma estratégia de marketing. Mas o delegado de plantão decidiu que não havia motivo para prisão e soltou-o.

Ponto final? Não: Lira insiste em manter o nome que deu aos sanduíches – o “coronel” é filé com presunto; o “comandante”, calabresa frita; e assim por diante, quanto menor a patente mais barato é o sanduíche – e o comandante da PM continua irritado. Por via das dúvidas, o advogado Francisco Guerra pediu habeas corpus preventivo, para evitar nova prisão; e prepara denúncia por abuso de autoridade contra o comandante da PM. Deve entrar também com ação de danos morais contra o Estado de Alagoas. Um dos argumentos que utiliza: não há lei que impeça a casa de ter no cardápio lula à milanesa, ou filé a cavalo, ou coronel mal passado. E, afinal de contas, se a tese do comandante da PM fosse válida, festa de criança não poderia ter brigadeiro.

Nada na mão

A Real JG Serviços Gerais ganhou a licitação do Superior Tribunal de Justiça para fornecer ascensoristas por dois anos, cobrando $ 3.002,721,80. Os ministros estão liberados por mais algum tempo daquela tarefa horrorosa, cansativa, humilhante, de apertar o botão do elevador para ir a seu andar.

É vendaval

Mas os elevadores do STJ são até baratos. A Câmara dos Deputados, há um mês, assinou o quarto termo aditivo do contrato para prestação de serviço de ascensoristas. De 2014 até o mês que vem, poupar Suas Excelências do nefando trabalho de apertar o botão do elevador custou R$ 14 milhões. Uns dois milhões de reais por ano, quantia ínfima para garantir que os deputados cheguem a seus gabinetes com toda a energia, sem tê-la gasto no elevador.

Um político sincero

José Maria Monção, PTB, por três vezes prefeito de Cocal, no Piauí, disse neste domingo, durante a convenção municipal do aliado MDB, que Rubens Vieira, do PSDB, candidato à reeleição, “está afundando o Cocal”. Frase completa: “Fui prefeito três vezes, sei do sofrimento. Mas também não roubei o tanto que esse aí roubou, não. Esse é descarado. Eu posso até ter tirado alguma coisa, dado para os pobres. Na verdade, ninguém pode ser tão sincero. Se eu tivesse tanto direito, eu não tinha ido preso, né? Se eu fui preso, tem um motivo. Tem político que rouba, mas rouba pra dar pro povo. Esse daí (o adversário Rubens Vieira) não, roubou pra ele”. O senador Ciro Nogueira (PP) morreu de rir. Vieira se disse vítima de um discurso de ódio.

Templo é dinheiro

O presidente Bolsonaro decide, até depois de amanhã, se veta ou sanciona o perdão das dívidas das igrejas, principalmente evangélicas, com o Fisco. É algo como R$ 1 bilhão.

O autor da lei é filho do missionário R. R. Soares.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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