Após estragos na pandemia, negacionismo do governo avança de forma covarde sobre o meio ambiente

 
Tudo indica que o negacionismo, não importando a área, é a marca registrada do governo do presidente Jair Bolsonaro, que até o momento não conseguiu mostrar a que veio. Após o presidente da República negar a ciência em relação à pandemia do novo coronavírus e ignorar as regras sanitárias contra a Covid-19, agora é a vez do vice Hamilton Mourão negar a realidade dos fatos envolvendo a questão ambiental.

Tendo como pano de fundo as queimadas que têm devorado a Amazônia e o Pantanal, com direito à destruição dos respectivos biomas e à morte de espécies ameaçadas de extinção, Mourão sugeriu nesta terça-feira (15) que os dados sobre incêndios divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) foram manipulados por algum opositor do governo que trabalha no órgão.

“Eu recebo o relatório toda semana. Até dia 31 de agosto, nós tínhamos 5 mil focos de calor a menos do que 31 de agosto do ano passado, entre janeiro a agosto. Agora, o Inpe não divulga isso. Por quê?”, indagou o vice-presidente.

Mourão, que preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal, fez tal comentário ao falar sobre os dados relativos às queimadas na Amazônia registrados pelo sistema de satélites do Inpe e de outros organismos internacionais que monitoram o meio ambiente em todo o planeta.

O vice-presidente acrescentou: “Não é o Inpe que está divulgando. É o doutor Darcton [Policarpo Damião] lá, que é o diretor do Inpe, que falou isso? Não. É alguém lá de dentro que faz oposição ao governo. Eu estou deixando muito claro isso aqui. Aí, quando o dado é negativo, o cara vai lá e divulga. Quando é positivo, não divulga”.

De acordo com o Inpe, as duas primeiras semanas de setembro de 2020 (até o dia 14) registraram mais focos de queimadas do que todo mês de setembro de 2019 – 20.486 contra 19.925, respectivamente.

Segundo o vice-presidente da República, o governo está “no campo combatendo isso aí”, em referência às queimadas, e os números “têm que melhorar”.

Perguntado sobre o eventual responsável pela divulgação de dados negativos (sic), Mourão alegou desconhecer. Ele declarou não ter suspeitas do nome do suposto opositor do governo dentro do Inpe. “Eu não sou o diretor do Inpe. Então, eu não sei [quem é o opositor].”

O Inpe informou que não comentará as declarações do vice-presidente. O pesquisador Gilvan Sampaio, responsável pela área do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que monitora as queimadas no Brasil, declarou que “jamais faria manipulação de dados”.

 
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Fio trocado

Na última semana, Mourão reclamou dos dados divulgados pelo Inpe quando perguntado sobre reportagem do jornal “O Globo”, que revelou ter o instituto detectado que o número de focos de calor registrados na Amazônia entre 1º de janeiro e 9 de setembro deste ano foi o maior para o período desde 2010 – 56,4 mil, alta de 6% em relação ao mesmo período de 2019.

Hamilton Mourão disse que o Inpe estava “se contradizendo”, já que os dados recebidos indicavam redução nas queimadas. Contudo, os dados citados pelo vice-presidente eram relativos a período mais curto que o informado na reportagem: entre 1º de janeiro e 31 de agosto.

“Eu vi essa notícia ali que você está comentando e digo, ora, pô, então está em desacordo com o que eles mesmos me mandam”, disse Mourão na ocasião.

Em agosto, o sistema do Inpe apontou que a Amazônia teve 29.307 registros de queimadas, queda de aproximadamente de 5,2% em relação a agosto do ano passado, quando foram registrados 30,9 mil focos de calor.

Entretanto, o número de queimadas na região, foi 12,4% maior do que a média histórica registrada para o mês, que é de 26.082 focos, e o segundo maior registrado desde 2010.

A incompetência do governo Bolsonaro e a falta de compromisso de seus integrantes com questões primordiais representam uma ode à irresponsabilidade, algo que os brasileiros de bem devem combater com veemência e contundência, pois é inaceitável que o Brasil continue à deriva.

Apesar da devastação provocada por incêndios na Amazônia e no Pantanal, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que pelo menos deveria ter convocado uma coletiva de imprensa para explicar as ações do governo para combater as queimadas, simplesmente recolheu-se ao silêncio obsequioso.

O mesmo aconteceu com Jair Bolsonaro, que deveria ter visitado os locais das tragédias ambientais e declarado apoio aos governadores que enfrentam a fúria do fogo em seus estados. Preocupado apenas com seu projeto de reeleição, o presidente é, além de tudo, um ignaro político sem precedentes.

Fosse minimamente inteligente em termos políticos e eleitorais, Bolsonaro já teria desembarcado em meio ao fogo que devora a Amazônia e o Pantanal. Só não o faz porque continua rezando pela cartilha do agronegócio, com quem selou um pacto durante a campanha de 2018.

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