O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, pediu nesta terça-feira (22) aos países-membros que evitem uma “nova Guerra Fria” entre Estados Unidos e China e ponham fim aos conflitos para que seja possível se concentrar na pandemia do novo coronavírus.
“Devemos fazer de tudo para evitar uma nova Guerra Fria”, disse Guterres em discurso de abertura de uma Assembleia Geral da ONU realizada quase que inteiramente de forma virtual, marcando os 75 anos da organização.
“Estamos avançando em uma direção muito perigosa. Nosso mundo não pode permitir um futuro em que as duas maiores economias dividam o globo em uma grande fratura – cada uma com suas próprias regras comerciais e financeiras e capacidades de internet e de inteligência artificial”, disse ele, sem citar diretamente os Estados Unidos e a China.
As tensões aumentaram nos últimos meses entre Washington e Pequim, com o presidente americano, Donald Trump, culpando Pequim pela pandemia de Covid-19, que custou mais de 960 mil vidas em todo o planeta e lançou enorme sombra sobre seu projeto de reeleição.
Guterres fez campanha pelo fim de todos os conflitos violentos, ressaltando que o planeta deve se concentrar no combate à Covid-19. Ele apontou alguns sucessos parciais, incluindo cessar-fogos declarados na Colômbia e em Camarões.
O português António Guterres também criticou abertamente movimentos de direita em meio à pandemia do novo coronavírus. “O populismo e o nacionalismo fracassaram. Essas abordagens para conter o vírus muitas vezes tornaram as coisas claramente piores.”
A disputa entre EUA e China foi destaque nos discursos dos líderes das duas potências nesta terça-feira.
“Vírus da China”
Trump iniciou sua fala com uma crítica feroz à China, chamando o novo coronavírus de “vírus da China”, ele disse que o país “liberou essa praga” no planeta.
“Nos primeiros dias do vírus, a China bloqueou as viagens domésticas enquanto permitia que voos saíssem da China e infectassem o mundo”, disse Trump. Ele acusou Pequim e a Organização Mundial da Saúde (OMS) de espalhar informações falsas sobre como o vírus se disseminou. Trump afirmou que a OMS é “virtualmente controlada pela China”.
O presidente dos EUA também atacou Pequim por causa de seu histórico ambiental, acusando a China de pesca excessiva, despejar plástico nos oceanos e emitir mais mercúrio tóxico do que qualquer país. “Aqueles que atacam o histórico ambiental excepcional dos Estados Unidos, enquanto ignoram a poluição galopante da China, não estão interessados no meio ambiente. Eles só querem punir a América, e eu não vou tolerar isso”, disse Trump.
Trata-se de um discurso modulado para agradar o eleitorado trompista, na reta final de uma campanha à reeleição marcada por incertezas, revelação de mentiras e violência policial contra negros.
“O mundo nunca mais voltará ao isolamento”
Em discurso pré-gravado que foi exibido pouco depois do pronunciamento do mandatário estadunidense, o presidente chinês, Xi Jinping, disse que Pequim “não tem intenção de travar uma guerra fria ou quente com nenhum país”.
“Continuaremos a reduzir as diferenças e resolver disputas com outros por meio do diálogo e da negociação. Não buscaremos desenvolver apenas a nós mesmos ou nos envolver em um jogo de soma zero”, disse Xi.
O líder dos chineses também falou a favor do multilateralismo – no qual vários países perseguem um objetivo comum – e da preservação do sistema internacional com a ONU em seu núcleo.
“Enterrar a cabeça na areia como um avestruz diante da globalização econômica ou tentar combatê-la com a lança de Dom Quixote vai contra a tendência da história”, afirmou. “O mundo nunca mais voltará ao isolamento, e ninguém pode cortar os laços entre os países.”
A Assembleia-Geral da ONU segue até o próximo sábado (26). No total, mais de 100 líderes globais e diplomatas discursarão no evento, em grande parte virtual devido à pandemia do novo coronavírus. Mantendo a tradição, o presidente brasileiro foi o primeiro a discursar.
O tema da Assembleia deste ano é “O futuro que queremos, as Nações Unidas de que precisamos: reafirmar o nosso compromisso coletivo com o multilateralismo – confrontar a covid-19 através de uma ação multilateral eficaz”. (Com agências internacionais)
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