Em novo “jogo rasteiro”, Bolsonaro decide que análise do Renda Cidadã será retomada após as eleições

 
Nada é mais nocivo a uma nação do que o populismo barato, rasteiro e covarde dos governantes. A situação torna-se ainda pior quando o governante faz uso da miséria para alcançar seus objetivos político-eleitorais.

Dessa forma age o presidente Jair Bolsonaro, que enquanto candidato prometeu aos incautos governar de uma forma diferente, ocasião em que demonizou o que decidiu chamar de velha política, como se ele próprio não fosse um conhecido representante do que há de mais nefasto nesse segmento.

Antes de chegar ao Palácio do Planalto, Bolsonaro foi um ácido e contundente crítico do programa Bolsa Família, tema ao qual dedicou sua insana verborragia. Com o programa Renda Brasil “sepultado” pelo presidente da República e o Renda Cidadã ainda em processo de elaboração, Bolsonaro decidiu que tratará do projeto de distribuição de renda somente após as eleições municipais, que por conta da pandemia do novo coronavírus foram remarcadas para 15 de novembro – o segundo turno acontecerá em 29 de novembro.

Essa decisão é uma manobra pífia e tosca, que leva o eleitor mais pobre a votar nos candidatos apoiados por Bolsonaro, na esperança de que o resultado da eleição contribuirá para a definição de um novo programa social que substituirá o Bolsa Família. Trata-se de um “jogo sujo” por parte de Bolsonaro, que já afirmou que o Bolsa Família servia para comprar o voto dos idiotas. Tal declaração foi dada em 2011, durante palestra na Universidade Federal Fluminense (UFF).

No mesmo ano, em nova investida contra o programa social, o então deputado federal disparou: “O Bolsa Família nada mais é do que um projeto para tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda, para que use seu título de eleitor e mantenha quem está no poder. E nós devemos colocar, se não um ponto final, uma transição a projetos como o Bolsa Família”.

 
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Um ano antes, mais precisamente em agosto de 2010, o agora presidente da República criticou o Bolsa Família durante discurso no plenário da Câmara dos Deputados. “Se, hoje em dia, eu der R$ 10 para alguém e for acusado de que esses R$ 10 seriam para a compra de voto, eu serei cassado. Agora, o governo federal dá para 12 milhões de famílias em torno de R$ 500 por mês, a título de Bolsa Família definitivo, e sai na frente com 30 milhões de votos”, disse Bolsonaro. Na sequência, o então deputado completou: “Disputar eleições num cenário desses é desanimador, é compra de votos mesmo”.

Em 2012, Jair Bolsonaro não poupou o programa de críticas, durante entrevista a uma emissora de televisão: “O Bolsa Família é uma mentira, você não consegue uma pessoa no Nordeste para trabalhar na sua casa. Porque se for trabalhar, perde o Bolsa Família”.

Em 2017, reforçando sua ojeriza ao Bolsa Família, Bolsonaro, durante evento na cidade de Barretos, no interior paulista, declarou, já de olho na candidatura à Presidência: “Para ser candidato a presidente tem de falar que vai ampliar o Bolsa Família, então vote em outro candidato. Não vou partir para a demagogia e agradar quem quer que seja para buscar voto”.

Muito além de ser um digno (sic) representante da “velha política”, Bolsonaro age de forma trapaceira, pois está a fazer exatamente o que condenou em passado recente. Seu objetivo é fisgar o eleitor para, na medida do possível, despejar a esquerda, em especial o Partido dos Trabalhadores, da região Nordeste, pavimentando o caminho para seu projeto de reeleição em 2022.

A covardia de Bolsonaro é desmedida, já que até o momento desconhece-se as possíveis fontes de financiamento do Renda Cidadã. Os envolvidos no projeto garantem que o teto de gastos será respeitado, mas é importante que a origem dos recursos seja revelada. Bolsonaro evita o assunto para poupar os candidatos que terão seu apoio nas eleições municipais.

Criar um novo imposto, nos moldes da famigerada CPMF, é trair a população e rasgar o discurso do próprio presidente, que em 2019 condenou com veemência o processo de ressuscitação desse fantasma tributário que durante anos a fio apavorou o brasileiro. NA ocasião, a proposta foi apresentada pelo então secretário da receita federal, Marcos Cintra. Em suma, Jair Bolsonaro não escreve, sentado, o que em pé balbucia. Ou seja, um covarde como tantos que existem na política.

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