Na política não há amizade que resista às consequências de um escândalo, em especial se o caso envolver crime de corrupção e outros correlatos. Flagrado pela Polícia Federal com R$ 33 mil escondidos na cueca e outro montante em sua residência, em Boa Vista (RR), o senador Chico Rodrigues (DEM) começa a enfrentar os efeitos colaterais do imbróglio.
Pressionado pelo Palácio do Planalto a deixar a vice-liderança do governo no Senado, Rodrigues está na iminência de ser afastado do cargo, ao mesmo tempo em que corre o risco de transformar-se em alvo do Conselho de Ética da casa legislativa, podendo, inclusive ter o mandato parlamentar cassado.
O presidente Jair Bolsonaro, que em vídeo que voltou a circular na internet afirmou que mantinha com Rodrigues uma “quase união estável”, agora quer distância do senador roraimense, que transitava no Palácio do Planalto com excesso de desenvoltura. Além disso, o senador era, até o escândalo, pessoa de confiança de Bolsonaro e do clã presidencial.
Essa proximidade ficou escancarada quando Chico Rodrigues aceitou abrigar em seu gabinete no Senado um sobrinho de Bolsonaro, o assessor parlamentar Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como “Léo Índio”, depois que o então chefe da Secretaria de Governo da Presidência, Carlos Alberto Santos Cruz, se recusou a abrigá-lo na pasta, apesar da pressão exercida pela família do presidente.
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Filho de Rosemeire Nantes Braga Rodrigues, irmã de Rogéria Nantes, mãe dos três filhos políticos do presidente da República, “Léo Índio” foi assessor de Flávio Bolsonaro e é muito próximo do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).
Lotado no gabinete de Rodrigues desde abril de 2019, com salário inicial de R$ 14.802,41 (sem contar as verbas acessórias, que elevam a remuneração a R$ 23 mil), “Léo Índio” mostrou nesta sexta-feira (16) que cumpre ordens palacianas. Orientado por integrantes da cúpula do governo e também por Carlos Bolsonaro, o assessor parlamentar pediu demissão após a repercussão do dinheiro na cueca provocar estragos maiores do que o esperado.
No momento em que o Brasil enfrenta crise econômica grave, potencializada pela pandemia do novo coronavírus, abrir mão de um salário mensal de R$ 23 mil só tem uma explicação: pressão política. Bolsonaro avaliou que a permanecia no sobrinho no gabinete do senador investigado pela PF criaria o que chamou de “telhado de vidro”, segundo definiu um auxiliar do Palácio do Planalto.
Além dessa absurda pressão, “Léo Índio” foi aconselhado a sair de cena e evitar comentários que eventualmente possam comprometer a imagem do governo e do próprio presidente da República. Ora, se Bolsonaro afirma que no governo não mais existe corrupção e que ele nada tem a ver com o dinheiro encontrado na cueca de Chico Rodrigues, não havia razão para pressionar “Léo Índio”.
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