(*) Marli Gonçalves
Pegou em dinheiro? Lave bem as mãos, cantando “parabéns a você”, dizem, é o tempo de fazer isso de forma completa. Use álcool em gel, líquido, água sanitária, purificadores, acenda um incenso, tome banho e passe sal grosso do pescoço para baixo, que ultimamente o dinheiro, além de vivo, é sujo e passa por lugares inimagináveis
Não só porque esse dinheiro que tocou pode conter bactérias, mas porque pode estar impregnado com o pior vírus: o da corrupção. E aí ele, o dinheiro, se originou e andou por lugares incríveis, alguns até bem pequenos. Ultimamente o dinheiro está mesmo na Ordem do Dia. Tudo bem que os bancos não são lá aquelas coisas, mas a quantidade de dinheiro vivo, vivíssimo, que estamos vendo todos os dias sendo aprendido é realmente espantosa, assim como as mais variadas formas de guardá-lo, para lavá-lo sem água. O colchão absolutamente saiu de moda. Cofre? Bem, cofrinho, talvez.
Olha que estou falando em dinheiro guardado, não só sobre o dinheiro que foi manchete espetacular essa semana quando o tal senador Chico, com quem Bolsonaro há pouco tempo disse ter uma relação estável, casadinhos, tentou esconder entre as nádegas e o que ele deve achar uma merrequinha, um troco, perto do que, ao que parece, foi usurpado dos cofres públicos– e da Saúde, minha gente! Somos um país campeão de mortes, passamos de 150 mil mortes e mais de um milhão de casos de Covid-19, e os caras roubando dinheiro dos equipamentos de respiração, dos itens de proteção, dos remédios!
Pelo menos a situação do senadorzinho foi exposta e constrangedora nos detalhes. Pelo menos pudemos rir das notas borradas, da cueca. Desopilamos um pouco nosso fígado.
Esses últimos dias, só de cabeça, lembro de ter visto na tevê a apreensão de um armário desses de ferro, grande, com três gavetonas forradas, repletas de dinheiro – notas de 100 reais arrumadinhas, esticadas, para caber mais; isso fora os pegos em outras operações, em flagrantes nas estradas, misturados com armas e drogas pesadas. Vi até notas sendo jogadas, às gargalhadas, na água, como brincadeira em festa de bandidos no mar, e por eles próprios filmadas. Não são pequenas quantias, são milhares de reais, dólares, euros, que essa gente é tão troncha e grosseira que nem em arte mais tenta investir. Gosta de ver a bufunfa.
Não nos admira o interesse e pressa em implantar a tal nota de 200 reais, com o coitado do lobo guará, que na realidade ninguém cuida, só queima. Foi tanta a pressa que esqueceram de detalhes como o do tamanho das notas que pode confundir os deficientes visuais. Até a tinta usada para essa nova nota laranja anda passeando fora da Casa da Moeda, o que ajuda na falsificação que já ocorre. Tudo muito mal explicado, como sempre.
É a nossa cara de otários que se estampa nas notas que poucos verão. Somos nós os vira-latas laranjas; nós, os brasileiros que ainda temos de aguentar as falas de um presidente e seu vergonhoso governo e equipe. Gente que parece não ter fim em pensar e promover retrocessos em todas as áreas. Que confunde a Nação com o galinheiro de suas ideias esdrúxulas, com seus atos e vontades a bel prazer.
Pior ainda é ver um povo tão necessitado e que se vende por tão pouco. Não entende que é uma obrigação do governo a ajuda em um momento de emergência como este. Ninguém está dando nada. Não é benevolência. É obrigação. A cada dia sabermos de mais e mais milhares, inclusive vários já milionários, que pediram e receberam, na maciota, o auxílio emergencial. Conheço – e você também deve conhecer – muitas pessoas bem pobres que precisaram, pediram, e tiveram o auxílio negado. Continuaram invisíveis aos olhos do Poder Público. E desabrigados da Justiça e suas cegueiras momentâneas.
Mas parece que sempre foi assim, e a política está cada vez mais sórdida, porque agora – agora, agora, exatamente, não, porque a bem da verdade também já tivemos um governo popular petista implantando bolsas para comprar seus próprios sapatos – tenta comprar votos e aprovação.
Aprovação logo de quem, de quem negou e nega a pandemia, as medidas, acaba com a maior operação já feita contra a corrupção no país, a Lava Jato, e bate no peito com orgulho disso. Um governo com vários “líderes” e operadores que de pijamas e remela nos olhos, cedinho, recebem a Polícia Federal na porta de suas casas. Casas essas com gavetas, caixas, malas cheias de dinheiro vivo, grosso e palpitante – quem sabe precisam para fazer a feira ou o mercado, umas comprinhas.
Por dinheiro, o povo parece fechar os olhos sem compreender o quanto o futuro do país está sendo comprometido. Abusar da necessidade premente de miseráveis, roubar dinheiro público, corromper, e ainda vir com moralismos, falando em Deus, família (e tem uma família especialista em usar dinheiro para pagar coisas bem grandes), até quando isso será suportado?
(*) Marli Gonçalves – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Site Chumbo Gordo, autora de “Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também”, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.
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