Ricardo Barros reage a críticas e mostra que, como disse Voltaire, é um estúpido com boas maneiras

 
O filósofo iluminista francês François-Marie Arouet, o Voltaire, disse certa feita: “Para ter sucesso neste mundo não basta ser estúpido, é preciso também ter boas maneiras”. Esse pensamento serve sob medida para o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara, que na segunda-feira (26) propôs a realização de plebiscito para decidir sobre a feitura de uma nova Constituição, já na opinião do parlamentar a atual Carta Magna torna o Brasil ingovernável.

Como noticiou o UCHO.INFO em matéria anterior, a declaração de Barros é uma estultice desmedida de alguém que está a serviço de um presidente da República que diuturnamente atenta contra a democracia e usa a estrutura do Estado para blindar os filhos, envolvidos em escândalos, e proteger os amigos e apaniguados. Mesmo assim, tomando por base a declaração de Voltaire, Ricardo Barros é um político de fala mansa e gestos comedidos.

Se há no País um instrumento eficaz que garante a inviolabilidade da democracia e a preservação do Estado de Direito, esse certamente é o texto constitucional vigente, aprovado em 1988 e que removeu das entranhas nacionais o entulho autoritário advindo da ditadura militar.

Considerando que o presidente da República é admirador de torturadores e defensor do totalitarismo como forma de governar, o Brasil só não rumou na direção do retrocesso por conta da Constituição, cujas falhas e lacunas podem ser corrigidas por meio de emendas constitucionais, desde que preservadas as chamadas cláusulas pétreas, dispostas no artigo 60 da Carta Magna, parágrafo 4º. São elas: a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário); e os direitos e garantias individuais.

Qualquer proposta de nova Constituição deve ser encarada como tentativa de golpe, mesmo que assim não entenda o deputado Ricardo Barros, para quem a repercussão de sua fala foi positiva. Em entrevista ao jornalista Chico Alves, da “Folha de S.Paulo”, o líder do governo disse que a “repercussão foi boa”.

 
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Como se nada representasse as críticas do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, e do ex-ministros Carlos Ayres Britto e Carlos Velloso, do Supremo Tribunal Federal (STF), o líder do governo afirmou ter recebido apoio de várias frentes. “Recebi vários apoios de quem não seria atingido com o fim dos privilégios”. “Se eles quiserem tornar público, que o façam”, emendou Ricardo Barros.

A crítica mais dura e contundente partiu do ex-ministro Carlos Velloso, do STF, que classificou a proposta como tentativa de “golpe de Estado”, como antecipou este noticioso.

“Falei ‘eu pessoalmente defendo um plebiscito’, não falei em nome do governo e deixei para decisão popular. Qual o motivo dessa reação?”, reagiu Ricardo Barros. “Um plebiscito pode ser golpe de Estado?”, questionou.

Na defesa de sua insana e irresponsável proposta, o líder do governo alega que é preciso equilíbrio entre os Poderes. “Foi desproporcional a reação dos togados à minha fala. Quero apenas o equilíbrio entre os Poderes”, declarou ao jornalista da Folha. Na verdade, o que Barros pretende é limitar os poderes do Ministério Público, que, apesar de alguns excessos e desrespeitos à legislação vigente, combate os excessos cometidos por governantes com vocação para o banditismo e a tirania.

Pois bem, se Ricardo Barros defende o equilíbrio entre os Poderes, bom seria se ele comunicasse o presidente da República sobre suas intenções, pois o que temos visto desde 1º de janeiro de 2019 é uma tentativa quase permanente de sufocamento do Judiciário e do Legislativo por parte de Jair Bolsonaro. Por sorte, o Brasil ainda pode – e deve – confiar na Constituição, que tem servido de trincheira contra o autoritarismo que embala o Palácio do Planalto.

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