Após suspeita de interferência política, Anvisa autoriza retomada dos ensaios clínicos com a Coronavac

 
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou, na manhã desta quarta-feira (11), a retomada dos testes clínicos da Coronavac, vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo.

Os testes foram suspensos na noite de segunda-feira (9) em decorrência de evento adverso grave em um dos voluntários da pesquisa. O voluntário, um homem de 32 anos que residia na capital paulista, cometeu suicídio, segundo dados que constam do boletim de ocorrência policial. Ou seja, o evento adverso não tem qualquer relação com o imunizante.

A forma como a Anvisa tratou o assunto mostrou que o órgão regulador pode estar sofrendo ingerência política do presidente Jair Bolsonaro, que em rede social comemorou a suspensão dos testes e afirmou que a decisão da agência foi mais uma vitória sobre o governador João Dória Júnior (PSDB), de São Paulo, seu eventual adversário na corrida presidencial de 2022.

Em entrevista coletiva, concedida no início da tarde de terça-feira (10), o presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres (de óculos à direita na foto, durante protesto antidemocrático) recorreu a metáforas futebolísticas para explicar a decisão sobre a suspensão dos testes clínicos da Coronavac. Depois de lonas e vazias explicações, os integrantes da cúpula agência não convenceram.

O contra-almirante Barra Torres, que é amigo de Bolsonaro, participou ao lado do presidente da República, em Brasília de um dos atos contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), o que sugere possível subserviência ao chefe do Executivo.

 
A Anvisa afirmou que decidiu autorizar a retomada dos testes da Coronavac após receber novos documentos e informações na terça-feira. De acordo com a agência, entre esses documentos constam informação sobre a causa do evento adverso, relatório do comitê independente internacional de monitoramento de segurança e sobre o caso e o boletim de ocorrência policial relacionado ao caso envolvendo o voluntário.

A agência reguladora nega que dispunha dessas informações quando decidiu pela suspensão dos testes. Segundo o órgão, a gravidade do caso e “precariedade dos dados enviados pelo patrocinador naquele momento”, a interrupção dos ensaios clínicos da vacina era a medida mais adequada.

As justificativas da Anvisa são vazias e nada convincentes, pois o Instituto Butantan, parceiro da farmacêutica chinesa Sinovac, enviou ao órgão todas as informações relacionadas ao evento adverso, inclusive com detalhamento da causa da morte do voluntário. Por questões óbvias, a Anvisa continuará negando o recebimento das informações até o momento da decisão, mas informações de bastidores obtidas pelo UCHO.INFO dão conta que era de conhecimento da agência o fato de o evento adverso não ter nexo causal com o imunizante.

“Após avaliar os novos dados apresentados pelo patrocinador (Butantã) depois da suspensão do estudo, a Anvisa entende que tem subsídios suficientes para permitir a retomada da vacinação e segue acompanhando a investigação do desfecho do caso para que seja definida a possível relação de causalidade entre o evento adverso grave inesperado e a vacina”, informou a Anvisa, por meio de nota.

No documento em que anuncia a retomada dos estudos, a Anvisa ressaltou o “caráter exclusivamente técnico” da suspensão dos testes e que considerou os dados disponíveis na ocasião e os preceitos científicos e legais que devem nortear as ações da agência, “especialmente o princípio da precaução que prevê a prudência, a cautela decisória quando conhecimento científico não é capaz de afastar a possibilidade de dano”.

Como afirmou o UCHO.INFO em primeira mão, a politização da vacina contra a Covid-19 por parte de Jair Bolsonaro era uma questão de tempo, mas a postura da Anvisa no episódio em questão configura é um atentado à Constituição Federal, devendo os responsáveis responder judicialmente com base no que determina a legislação vigente no País.

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