Após fracasso nas urnas, bolsonaristas apelam à falsa autocrítica como forma de sobrevivência política

 
Na política, assim como em muitos segmentos da vida, nada é por acaso. Por isso, que ninguém caia na esparrela de que a autocrítica dos bolsonaristas é para valer. Depois do incontestável fracasso político de Jair Bolsonaro nas eleições municipais, seus apoiadores decidiram reconhecer publicamente os erros cometidos durante o período eleitoral, que culminaram no substancial encolhimento do capital político do presidente da República.

Ciente de que os resultados das urnas comprometem sobremaneira seu projeto de reeleição e empresta ânimo para uma frente de centro, Bolsonaro, seguindo conselhos de pessoas próximas, optou por abandonar o discurso de fraude na apuração dos votos e submergir, enquanto seus aduladores tentavam destilar falsas doses de coerência, o que nem mesmo em sonho não combina com o bolsonarismo.

Assessor da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Filipe Martins afirmou nas redes sociais que o bom desempenho dos partidos do Centrão nas urnas é fruto do apoio financeiro do governo Bolsonaro. Pelo que se sabe, o governo não tem poder de financiar eleições, assim como privilegiar legendas com a liberação de emendas parlamentares e loteamento de cargos é decorrente da compra de apoio no Congresso Nacional. Lembrando que o presidente já se referiu ao bloco parlamentar como “velha política”.

Martins foi além no “mea culpa” direitista, agarrando-se, como sempre, ao ódio desmedido que o governo tem pela esquerda. “Com uma abstenção elevada, a constância da mobilização esquerdista falou mais alto e a esquerda ressuscitou; e a motivação permanente ($$$) dos partidos fisiológicos se impôs mais uma vez e permitiu que eles voltassem a crescer. Ou enfrentamos isso, ou seguiremos perdendo”, escreveu no Twitter o assessor presidencial.

Se há no Brasil pessoas que não têm moral para falar sobre fisiologismo, essas são os bolsonaristas, que assistem calados os escândalos que embalam os integrantes do clã Bolsonaro, sem contar os esquemas de corrupção que correm à solta nos subterrâneos do poder central.

 
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A dependência do governo Bolsonaro e seus quejandos em relação à esquerda chega a ser doentia e deveria ser tratada no divã do analista mais próximo. Se o Partido dos Trabalhadores e suas muitas lambanças no campo da corrupção permitiram a vitória do bolsonarismo em 2018, dois anos depois a irresponsabilidade e o autoritarismo do presidente da República favoreceram o fortalecimento de candidaturas de centro.

Com a proximidade do fim do auxílio emergencial, a decisão dos militares de reagirem às humilhações públicas a que são submetidos por obra e graça de Jair Bolsonaro e a fragorosa derrota de Donald Trump na corrida presidencial americana, aos bolsonaristas sobrou como tábua de salvação uma falsa demonstração de humildade depois do fiasco nas urnas. Por isso é temerário acreditar que arrogantes e totalitaristas são capazes de um “mea culpa”.

No que tange à questão envolvendo militares, é importante ressaltar que não convence o discurso de que a política não entra nos quarteis. Afinal, a política há muito circula pela caserna com invejável desenvoltura e intimidade.

Faz-se necessário ressaltar que quando o então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, ameaçou com algum tipo de ação militar o Supremo Tribunal federal (STF) por ocasião de julgamento de recurso do ex-presidente Lula, a política já tinha invadido a caserna.

De igual modo, quando o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, sobrevoou a Praça dos Três Poderes, ao lado de Bolsonaro, durante ato antidemocrático, a política estava confortavelmente instalada na caserna. Ademais, com mais de 6 mil militares, da reserva e da ativa, ocupando os mais distintos cargos no governo Bolsonaro, querer se desvencilhar da política é conversa fiada da pior qualidade.

Diante desse cenário que mescla ingredientes explosivos, aos bolsonaristas só restou apelar a um rompante de bom-mocismo de camelô, com direito a demonstrações de coerência e humildade que não convencem nem mesmo o mais alienado dos cidadãos.


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