Mourão exala ignorância ao afirmar que não existe racismo no Brasil após morte de negro em supermercado

 
“Babá de plantão” de Jair Bolsonaro, até porque o presidente da República é dono de verve insana e irresponsável, o vice Hamilton Mourão é um poeta quando calado. Sempre assediados por jornalistas porque, por incrível que pareça, é uma das vozes menos suspeitas de um governo pífio e descontrolado, Mourão classificou como “lamentável” a morte de João Alberto Silveira Freitas, em unidade da rede de supermercados Carrefour, em Porto Alegre.

Negro, Freitas, 40 anos, foi brutalmente espancado até a morte por dois seguranças do Carrefour, após desentendimento no interior da loja localizada em bairro da zona norte da capital gaúcha. A vítima foi imobilizada e covardemente agredida por um segurança terceirizado do supermercado e um policial militar que supostamente fazia um “bico” no estabelecimento, mesmo sem ter preparo para esse tipo de atividade.

Inicialmente, Hamilton Mourão afirmou que a equipe de segurança do local estava “totalmente despreparada”. “Lamentável. A princípio, a segurança totalmente despreparada para a atividade que tem que fazer”, disse o vice-presidente no início da tarde deste sexta-feira (20), ao chegar no Palácio do Planalto.

Questionado pelos jornalistas se o caso é mais um episódio de racismo, que é estrutural no Brasil, Mourão respondeu que isso é algo que tentam “importar” para o Brasil. “Não. Para mim, no Brasil não existe racismo. Isso é uma coisa que querem importar aqui para o Brasil, não existe aqui”, afirmou.

Na sequência, o vice-presidente destacou que não vê racismo no Brasil e comparou com os Estados Unidos. “Eu digo para você com toda tranquilidade: não tem racismo. Eu digo isso para vocês porque eu morei nos Estados Unidos. Racismo tem lá. Eu morei dois anos nos Estados Unidos. Na minha escola, que eu morei lá, o pessoal de cor, ele andava separado. Eu nunca tinha visto isso aqui no Brasil.”

 
Matéria relacionada
. Racismo estrutural: homem negro é espancado e morto em supermercado da rede Carrefour em Porto Alegre

“Mais ainda, o pessoal de cor sentava atrás do ônibus, não sentava na frente do ônibus. Isso é racismo, aqui não existe isso. Aqui você pode pegar e dizer é o seguinte: existe desigualdade. Isso é uma coisa que existe no nosso país”, emendou o vice.

Em 5 de junho passado, em entrevista ao site “Headline”, Mourão externou sua visão obtusa a respeito do racismo existente no País. “”Reafirmo que não há racismo no Brasil. Aqui não existe ódio racial. Morei nos Estados Unidos na minha adolescência, vi coisas que nunca tinha visto no Brasil. No colégio que eu estudava havia um número reduzidos de alunos negros. Aquele grupo andava sem se misturar com os demais alunos, coisas que eu jamais tinha visto aqui no país”, declarou.

Não se pode esquecer que em 2018, durante a campanha presidencial, Hamilton Mourão deixou escapar entre as frestas do “faz de conta” seu pensamento racista ao afirma que o Brasil herdou “indolência” do índio e “malandragem” do africano.

Um ano antes, em 2017, quando ainda era pré-candidato à Presidência, Jair Bolsonaro, durante palestra no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro, não perdeu a oportunidade para destilar seu pensamento racista. “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles”, disse Bolsonaro.

Beira o absurdo uma das principais autoridades do País dar uma declaração dessa natureza, ciente de que o racismo é crescente no País, quando na verdade não deveria existir. Bolsonaro, que constantemente tem seus destampatórios amenizados por Mourão, já se envolveu em polemicas por causa de declarações racistas, o que não é novidade para quem acompanha de perto a trajetória do político que aos supetões decide o futuro da nação.

Fosse o Brasil minimamente sério, se a sociedade repudiasse de fato o status quo e considerando que a maioria da população é negra, o País já estava parado. Essa letargia da elite mostra que os negros lutam quase sozinhos em busca de direitos e de igualdade. É o fim!

Se você chegou até aqui é porque tem interesse em jornalismo profissional, responsável e independente. Assim é o jornalismo do UCHO.INFO, que nos últimos 20 anos teve participação importante em momentos decisivos do País. Não temos preferência política ou partidária, apenas um compromisso inviolável com a ética e a verdade dos fatos. Nossas análises políticas, que compõem as matérias jornalísticas, são balizadas e certeiras. Isso é fruto da experiência de décadas do nosso editor em jornalismo político e investigativo. Além disso, nosso time de articulistas é de primeiríssima qualidade. Para seguir adiante e continuar defendendo a democracia, os direitos do cidadão e ajudando o Brasil a mudar, o UCHO.INFO precisa da sua contribuição mensal. Desse modo conseguiremos manter a independência e melhorar cada vez mais a qualidade de um jornalismo que conquistou a confiança e o respeito de muitos. Clique e contribua agora através do PayPal. É rápido e seguro! Nós, do UCHO.INFO, agradecemos por seu apoio.