É no mínimo estranha a forma como o procurador-geral da República, Augusto Aras, trata de assuntos que envolvem o presidente da República, Jair Bolsonaro, seus filhos e alguns aliados mais ortodoxos.
Nesta terça-feira (15), Aras disse que são “graves” as acusações de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) elaborou relatórios para orientar a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no caso das “rachadinhas”, esquema criminoso de retenção de parte dos salários de servidores, operado pelo ex-assessor parlamentar Fabrício Quiroz.
O procurador-geral ressaltou que faltam provas para confirmar a atuação ilícita da Abin em favor do filho do presidente da República, que cada vez mais afunda na lama de um escândalo que contraria o discurso moralista do clã Bolsonaro.
“O fato em si narrado é grave, o que não temos são provas desses fatos, nós não trabalhamos com narrativas. Trabalhamos com fatos e provas”, disse Aras, durante encontro com jornalistas na sede da PGR, em Brasília.
“Por enquanto temos fatos transmitidos pela imprensa, que levamos a sério. Mas precisamos ter elementos, não podemos trabalhar apenas com a informação jornalística. Por enquanto temos as narrativas, mas não temos as provas”, completou Aras.
O procurador, que esperava que os parlamentares que acionaram a PGR apresentassem provas, afirmou que a instituição terá de investigar o caso, que já considerado o maior escândalo do governo Bolsonaro.
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“O MP vai ter de fazer a investigação. Vamos fazer perguntas aos órgãos competentes, ficamos à mercê dessas respostas. Sem os elementos ao menos indicados pela imprensa estaremos com dificuldade para fazer essas investigações, mas a imprensa contribuiria muito se fornecesse os elementos materiais”, disse o PGR.
A questão é simples e não requer dose extra de massa encefálica para identificar as provas. O jornalista Guilherme Amado, da revista Época, divulgou trechos do conteúdo de ambos os relatórios, o que pressupõem que ele tenha em mãos os dois documentos.
Ademais, o jornalista consultou a defesa de Flávio Bolsonaro, que confirmou a autenticidade e a procedência dos relatórios, que orientavam sobre como obter documentos no âmbito da Receita Federal para eventualmente anular o caso das “rachadinhas”.
Ora, se os advogados do filho do presidente confirmam a existência e a autenticidade dos relatórios, é porque a Abin, com o consentimento do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), sob o comando do ministro Augusto Heleno, atuou ilegalmente em favor de Flávio Bolsonaro.
A gravidade do caso exige que parlamentares analisem um necessário pedido de impeachment contra Jair Bolsonaro, já que é inegável o crime de responsabilidade. Esse cenário explica a interferência cada vez maior de Bolsonaro na sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da Câmara dos Deputados. Afinal, cabe ao presidente da Câmara deliberar sobre pedidos de impeachment contra o chefe do Executivo. Apenas a título de informação, sobre a mesa de Maia existem 56 pedidos de impeachment contra Bolsonaro.
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