Aprovação da Coronavac pela Anvisa foi dupla e incômoda derrota política do negacionista Bolsonaro

 
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, no domingo (17), o uso emergencial de duas vacinas contra a Covid-19: a Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e o imunizante do laboratório AstraZeneca e da Universidade de Oxford, em parceria com a Fiocruz.

A decisão da diretoria da Anvisa foi por unanimidade e configurou a primeira e sonora derrota política de Jair Bolsonaro. Isso porque os integrantes da cúpula da agência fizeram críticas ao chamado tratamento precoce, que o presidente da República e o ainda ministro da Saúde insistem em defender, mesmo que os medicamentos sugeridos por ambos não tenham eficácia comprovada cientificamente contra a doença provocada pelo novo coronavírus.

Além disso, na contramão do que prega Bolsonaro, a defesa do distanciamento social e das medidas de proteção teve largo espaço na reunião. Para completar o vexame imposto ao presidente, um dos diretores da Anvisa, durante leitura do respectivo voto, agradeceu ao ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde), que desde sua saída do comando da pasta tornou-se persona non grata no Palácio do Planalto.

Se a primeira grande derrota do presidente no campo da Covid-19 foi incontestável, a segunda não demorou a surgir. Minutos após o término da reunião da Anvisa, que durou longas e cansativas cinco horas, o governador de São Paulo, Joao Dória Júnior (PSDB), largou na frente e acompanhou a vacinação da enfermeira Mônica Calazans, 54 anos, tornou-se a primeira pessoa a ser imunizada contra a Covid-19 no País.

 
Esse episódio, que deixou o staff do governo Bolsonaro extremamente irritado, fez com que no início da entrevista coletiva, após a aprovação dos imunizantes, o ministro Eduardo Pazuello externasse sinais de incômodo e nervosismo. Pazuello, que vem sendo alvo de críticas na imprensa e nas redes sociais por sua inegável incompetência, classificou a vacinação em São Paulo como ilegal e golpe de marketing.

O ministro, que já declarou publicamente que cumpre de forma obediente as ordens de Bolsonaro, pode alegar o que quiser, mas ser ilegal o início da vacinação em São Paulo denota desconhecimento jurídico. Em primeiro lugar, o fato de a reunião da Anvisa ter sido pública e transmitida pela TV Brasil emprestou legalidade à vacinação iniciada em São Paulo, mesmo que João Dória tenha agido para capitalizar politicamente o fato, algo que tem merecido críticas de nossa parte.

É importante ressaltar que Bolsonaro, por mais de uma vez, colocou em dúvida a eficácia da Coronavac, por ele rotulada como “a vacina chinesa do Dória”. Além disso, o presidente insinuou, em conversa com apoiadores, que a vacina da Sinovac pode transformar o imunizado em jacaré.

Afundando na vala do negacionismo criminoso e da irresponsabilidade genocida, algo esperado, Bolsonaro demonstrou na manhã desta segunda-feira (18) seu incômodo com a aprovação da Coronavac, a única disponível por enquanto no Brasil, já que o imunizante da AstraZeneca (2 milhões de doses) continua e é alvo de impasse estratégico e político-diplomático com a Índia.

“Apesar da vacina… Apesar, não. A Anvisa aprovou, não tem o que discutir mais. Agora, havendo disponibilidade no mercado, a gente vai comprar e vai atrás de contratos que fizemos também, que era para ter chegado aqui. Então, está liberada a aplicação no Brasil. E a vacina é do Brasil, não é de nenhum governador, não”, disse Bolsonaro a apoiadores no momento em que deixava o Palácio da Alvorada.

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