Mutação “preocupante” é identificada na cepa britânica do novo coronavírus

 
Uma mutação do novo coronavírus “mais preocupante”, que afeta a eficácia de vacinas e medicamentos, ocorreu de forma espontânea na variante originária do Reino Unido, afirmou nesta terça-feira (2) um professor de epidemiologia que integra um comitê de aconselhamento do governo britânico.

A mutação E484K, que ocorre na proteína Spike do vírus, é a mesma encontrada nas variantes da África do Sul e do Brasil que provocaram preocupação global. Diversas pesquisas feitas em laboratório concluíram que as vacinas e os medicamentos à base de anticorpos são menos eficazes contra a variante da África do Sul.

Em comparação, pesquisas iniciais haviam indicado que as vacinas mantinham a mesma eficácia contra a variante britânica, chamada B.1.1.7, que originalmente não tinha a mutação E484K. Essa nova mutação ajuda o vírus a escapar dos anticorpos.

“A mutação mais preocupante, que nós chamamos de E484K, também ocorreu de forma espontânea na nova cepa Kent em partes do país”, disse Calum Semple, do Grupo de Assessoramento Científico para Emergências, à rádio BBC. Kent é o condado do sul da Inglaterra onda a variante britânica foi detectada pela primeira vez.

Variantes emergentes

A notícia de que a mutação E484K havia ocorrido espontaneamente no Reino Unido já havia sido divulgada em relatório técnico publicado pela agência governamental Public Health England, mas não havia chamado a atenção fora do meio científico.

O relatório afirma que a mutação foi detectada em 11 genomas da variante B.1.1.7, provavelmente como resultado de “mais de um evento de aquisição”, indicando que os 11 genomas não eram todos relacionados entre si e que a mutação pode ter ocorrido espontaneamente em locais separados. Esses 11 representam uma pequena parte das 214.159 amostras testadas.

Para leigos, o nome E484K representa as coordenadas de um mapa. O número 484 é a localização exata da mutação, a letra E é o aminoácido que estava nesse local originalmente, e a letra K é o aminoácido que o vírus com a mutação contém.

“Infelizmente, a falta de controle sobre essas diferentes variantes no Reino Unido pode levar essa população a se tornar um caldeirão para diferentes variantes emergentes da Covid-19”, disse Julian Tang, um virologista na Universidade de Leicester.

A preocupação com a cepa da África do Sul já havia levado autoridades na Inglaterra a iniciarem uma testagem em massa de 80 mil pessoas que moram nas áreas onde os casos da variante foram identificados.

 
Impacto nas vacinas e em novos medicamentos

Apesar de as pesquisas terem indicado que as vacinas têm sua eficácia reduzida contra as variantes com a mutação E484K, os imunizantes seguem apresentando boa cobertura contra as novas variantes e capazes de proteger contra manifestações mais graves da doença, que exigem internação hospitalar.

Pesquisas feitas com o imunizante desenvolvido pela Moderna indicam que a vacina segue efetiva contra vírus com essa mutação, mas a resposta imune da pessoa vacinada pode não ser tão forte ou prolongada. Outras duas vacinas que devem ser aprovadas em breve por autoridades sanitárias, a Novavax e a da Janssen, também demonstram ser eficazes contra as variantes e evitam que as pessoas infectadas desenvolvam casos graves.

O mesmo não pode ser dito em relação aos medicamentos à base de anticorpos, considerados uma esperança no tratamento da Covid-19. Esses remédios, conhecidos como anticorpos monoclonais, são clones de glóbulos brancos do corpo humano que buscam imitar o efeito do sistema imunológico, e não têm demonstrado eficácia contra a doença provocada pelas novas variantes.

Uma dessas drogas, feitas pelo laboratório Regeneron, foi administrada para o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quando ele contraiu Covid-19 e pode ter ajudado na sua rápida recuperação. Outras grandes fabricantes são a Eli Lilly e a GlaxoSmithKline.

Em janeiro, o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, anunciou que o governo da Alemanha havia comprado 200 mil doses desse medicamento e iria usá-las em pacientes com Covid-19. O tratamento com anticorpos visa beneficiar pacientes adultos com sintomas leves ou moderados e com risco de agravamento da doença.

Nick Cammack, da Covid-19 Theraupeutics Accelerator, organização destinada ao desenvolvimento de terapias contra a doença, afirmou ao jornal “The Guardian” que a maioria desses novos medicamentos não funciona contra as cepas da África do Sul e do Brasil. Já a droga da GlaxoSmithKline é efetiva contra essas variantes, mas não contra a que emergiu em Kent, no Reino Unido.

Uma possível solução é testar a aplicação combinada de diferentes medicamentos à base de antibióticos, o que já vem sendo feito. Os pesquisadores também estão tentando localizar as partes do vírus que não são afetadas por mutações, para desenvolver anticorpos específicos para atacá-las. (Com agências internacionais)

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