ACM Neto resgatou frase célebre de Octavio Mangabeira: “Pense num absurdo, na Bahia tem precedente!”

 
Primeiro governador da Bahia depois da “era Vargas”, o engenheiro Octavio Mangabeira comandou a “terra de todos os santos” de 10 de abril de 1947 a 31 de janeiro de 1951. É de Mangabeira a célebre frase “pense num absurdo, na Bahia tem precedente!”. O significado dessa profecia de Octavio Mangabeira é tão verdadeiro e procedente, que se aplica a muitas das situações mais comezinhas do cotidiano nacional.

Na última semana, Mangabeira, que faleceu em novembro de 1960, aos 74 anos, deve ter gargalhado do outro lado da vida – se é que de fato existe. Como o fruto não cai longe da árvore, dizem os mais experientes, o absurdo partiu de Antônio Carlos Magalhães Neto, o ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e presidente nacional do Democratas.

Uma decisão de ACM Neto em relação à sucessão no comando da Câmara dos Deputados deu a largada para a implosão do Democratas, que em priscas eras ostentava o pomposo nome de Partido da Frente Liberal, criado também pelo avô do outrora alcaide soteropolitano, o “velho” e finado Antônio Carlos Magalhães, o ACM, um dos conhecidos e últimos coronéis da política baiana.

No momento em que a democracia brasileira é ameaçada de forma cotidiana, ACM Neto liberou a bancada da legenda para votar em Arthur Lira (PP-AL), que com o apoio do presidente da República assumiu o comando da Câmara dos Deputados. Com tal decisão, a candidatura de Baleia Rossi, escolhido por Rodrigo Maia (DEM-RJ) para ser seu sucessor, acabou naufragando. Ou seja, o Democratas, pasme caro leitor, apoiou o candidato de um totalitarista.

Enquanto PFL, o partido foi se desidratando politicamente ao longo dos anos, até que a nova safra de integrantes resolveu mudar o nome da agremiação em busca de modernidade. Algo parecido com reforma e repaginação de elevador antigo e carcomido, que mesmo com a belezura de encomenda a qualquer instante pifa. Foi o que aconteceu com o Democratas, ou DEM, como queiram.

Por ocasião do novo batizado do antigo PFL, o UCHO.INFO afirmou que a legenda, mesmo rebatizada, não passava de capitania hereditária comandada por um ajuntamento de “menudos”. Afinal, era o filho de um, o neto de outro, assim sucessivamente.

Apesar da alteração do nome e uma logomarca moderna e leve, o Democratas continuo com o ranço e o atraso político do PFL. Isso fez com que o partido perdesse pujança no cenário nacional, até que, no rastro do calvário de Eduardo Cunha, o deputado federal Rodrigo Maia assumiu a presidência da Câmara, onde permaneceu por pouco mais de quatro anos. Isso serviu para oxigenar o DEM, que passou a frequentar a vitrine política brasileira.

 
A cizânia democrata na órbita da candidatura de Baleia Rossi pode levar a legenda a um novo período de ostracismo político. ACM Neto disse que a decisão de liberar a bancada não teve como objetivo a busca de cargos na máquina do governo federal. Afirmou também que o partido está aberto nos projetos e alianças, não descartando se juntar a Jair Bolsonaro, senhor de atitudes ditatoriais capazes de assustar qualquer democrata de fato e de direito.

Antigo, o dito popular “quem sai aos seus não degenera” cai como luva sobre ACM Neto, que herdou do avô a incoerência política quando o assunto é a democracia em sua plenitude. O impasse vivido pelo DEM deve migrar para a seara do desmonte partidário, já que algumas defecções devem acontecer em breve.

O primeiro a deixar o partido, de acordo com promessa feita nos bastidores, é Rodrigo Maia, que se sentiu traído na disputa pela Presidência da Câmara dos Deputados. Aliás, continuamos sem compreender como alguém como César Maia, pai de Rodrigo, ingressou em uma legenda que tinha o veterano ACM como um dos caciques. O pior é que Rodrigo Maia seguiu os passos do pai.

A cúpula do DEM sabe que perderá muito com a saída de Rodrigo Maia, que soube o momento adequado para deixar o grupo dos “menudos” e alçar voo independente. Rodrigo, que vivia escondido no Parlamento, amadureceu e cresceu politicamente, conseguindo nos últimos anos mostrar seu talento como negociador político.

Outro que pode sair do DEM é o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde), que há dias chamou ACM Neto de “maria-mole” em razão da decisão de liberar a bancada em favor de Lira e do anúncio de que não descarta se juntar a Bolsonaro.

Beira o incompreensível um partido que de supetão decide apoiar indiretamente Jair Bolsonaro, mesmo que no Legislativo, ao mesmo tempo em que sonha com uma candidatura presidencial em 2022, ciente de que o próprio presidente da República é candidatíssimo à reeleição. ACM Neto já anunciou que descarta a possibilidade de ser vice na chapa de qualquer presidenciável, mas por enquanto é cotado para fazer dupla com Jair Bolsonaro.

Até a eleição para o comando do Senado e da Câmara dos Deputados, o DEM fazia parte do plano do governador João Dória Júnior (PSDB), de São Paulo, de concorrer ao Palácio do Planalto daqui a menos de dois anos.

Em termos eleitorais, Dória tornou-se, da noite para o dia, em maior abandonado, já que seu plano foi implodido com a ajuda (sic) de Bolsonaro e de ACM Neto. Ao governador tucano resta tentar a reeleição ao governo paulista, mas o seu vice, Rodrigo Garcia, filiado ao Democratas e quem de fato governa o mais importante estado da federação, está de olho no principal gabinete do Palácio dos Bandeirantes. Não obstante, faz-se necessário ressaltar que no tucanato há nomes muito melhores para concorrer ao governo de São Paulo – alguns trabalham em silêncio, mesmo que “jogando parado”.

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