(*) Carlos Brickmann
Há vegetarianos, há veganos, mas a grande maioria de nossos leitores ama uma boa picanha na brasa. Há abstêmios, há quem não goste, mas a grande maioria de nossos leitores quer uma cerveja de qualidade na hora da picanha.
Então, por que tanto escândalo só porque as Forças Armadas compraram no ano passado 714 mil quilos de picanha, com cerveja suficiente para o que der e vier? Tudo no capricho: cerveja Stella Artois importada da Bélgica, ou Heineken, ou Skol, tudo puro malte, coisa fina. Até mesmo a Skol não é das comuns, é também puro malte. Coisa para bons paladares – o que explica até como o general-ministro da Saúde ficou daquele tamanho. E tudo caríssimo.
Quer dizer, caríssimo para nós, caro leitor. Para eles, mais caro ainda: as garrafas de cerveja saíram por R$ 9,80 – veja o preço no supermercado mais próximo. A deles deveria sair por preço menor, já que comprada em grande quantidade; mas saiu mais cara, bem mais cara. Nas 76 licitações da picanha, há preço de uns R$ 85 o quilo. A Picanha Nobre Swift Ouro, na loja chique da Swift dos Jardins, SP, sai por R$ 77 o quilo – e no varejo, não no atacado.
Como se vê, é falsa a informação de que o Governo sobrevive de beber o nosso sangue. Há coisas mais nutritivas. Os preços que o Governo paga estão em documentos oficiais. É por isso que um grupo de deputados federais acionou o Tribunal de Contas da União e a Procuradoria Geral da República para investigar as compras. A suspeita é de sobrepreço, ou superfaturamento.
O lobo e o pelo
A vantagem de ter idade, já ensinava o sábio Octavio Frias de Oliveira, o mago que transformou a Folha num império empresarial, é ter visto tudo acontecer, e o contrário também. Este colunista lembra que, nos tempos do presidente Médici, os incontáveis militares gaúchos que foram para Brasília odiavam a carne do gado da região. E ia um avião da FAB toda semana para o Rio Grande do Sul buscar a carne adequada para eles. A explicação era de que a tripulação tinha de cumprir determinado número de horas de voo. Por que não indo a Porto Alegre buscar a ótima carne do bom gado gaúcho?
A vida é bela
Do excelente colunista carioca Aziz Ahmed, de O Povo: “O BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, paga a seus funcionários R$ 1.521 de auxílio-refeição e R$ 654 de cesta-alimentação”. Isso é que é pensar em tudo: o auxílio-refeição é para o funcionário pagar a conta do restaurante e a cesta-alimentação para ajudar na alimentação do lar. Houve queda no valor do auxílio-refeição por causa do home-office? É claro que não: os funcionários não têm culpa nenhuma da pandemia.
SP-NY
Talvez alguém consiga explicar-me por que o governador Doria, em boa fase por ter conseguido trazer ao Brasil a vacina que o presidente ainda está procurando, brigou com boa parte de seu partido para expulsar Aécio Neves e tirar a presidência de Bruno Araújo? Bruno Araújo era gente sua e o próprio Doria o havia indicado; Aécio não é um político tão importante que justifique uma briga. Resultado, não só Araújo continua no comando, e agora sabendo que Doria não o quer, como Aécio ficou no partido e há tentativas de lançar à Presidência, em vez de Doria, o governador gaúcho Eduardo Leite.
Lembrando Fiorello la Guardia, o lendário prefeito de Nova York: “O político tem de ciscar para dentro. Quem cisca para fora é galinha”.
Os nomes
Ainda falta muito tempo para as eleições presidenciais. Já se lançaram o governador Doria (mal nas pesquisas) e Fernando Haddad, tentando mais uma vez fazer o papel de Lula – mais ou menos como escalar Renato Aragão para substituir Sylvester Stallone em Rocky 22. Mandetta? Seu DEM rachou. E, daqui a um ano e meio, quem se lembrará do ministro da Saúde que, no início da pandemia, virou herói? Luciano Huck? Pode ser – mas ele não é o Sílvio Santos, que por pouco não rachou a candidatura de Collor e, se não fossem os tribunais, teria sido altamente competitivo. Moro? Hoje parece um candidato forte. Se a destruição da Lava Jato pegar mal, ele ganha força, mas tem de manter-se forte até outubro do ano que vem.
Ainda falta articulação para lançar um nome – mas cadê os bons articuladores políticos do país?
Palpite
Preste atenção na empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza: caso o plano que vem articulando para vacinar toda a população do país antes do fim do ano dê certo, ela pode ser a novidade eleitoral. Terá feito aquilo que ninguém conseguiu fazer, sua reputação é excelente, já mostrou que é muito competente e capaz de fazer o que é preciso. Mas, exatamente por isso, espere pelos obstáculos que vão colocar-lhe no caminho. Não podemos nos iludir: salvar vidas, ajudar a vencer a pandemia, melhorar a situação da população, nada importa para os lá de cima.
Importa é não ter adversário.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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