Candidato para que? Para nada

(*) Carlos Brickmann

Sergio Moro, Luciano Huck, João Doria, Eduardo Leite, Ciro Gomes, Lula (ou o genérico Haddad), Hamilton Mourão, todos são apontados como possíveis candidatos à sucessão do presidente Bolsonaro. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas para que querem ser presidentes? Que é que propõem?

O mais conhecido é Lula. Como pretende enfrentar problemas reais como a alta da dívida interna, estatais que vivem no prejuízo, Previdência drenando o Orçamento, indústria em queda? Que fará com os militares que gostaram de ocupar cargos no Governo e se entopem de picanha e cerveja importada?

Huck, que sugere? Não disse ainda. OK, Armínio Fraga é seu assessor de Economia – mas e daí? Guedes é o de Bolsonaro. Que pensa sobre a China e os Estados Unidos? Como vê as questões da Amazônia e do Pantanal?

Doria se apresenta como administrador. Mas o presidente tem de liderar o país. Que rumo quer seguir? O gaúcho Eduardo Leite, também tucano, que pensa de política internacional? E do papel da indústria?

Ciro é conhecido. Mas é estatizante ou não? Esquerda ou direita?

Moro gostaria de liderar uma cruzada contra a corrupção? Ótimo. E como lidar com pressões internacionais? Que sugere para o meio-ambiente?

Mourão, excetuando-se a educação mais aprimorada e o bom-senso, em que difere de Bolsonaro, de quem é vice? Manteria a pletora de militares no Governo ou se arriscaria a afastá-los, reduzindo seus rendimentos mensais?

São outros R$ 500

Os cálculos mais apurados apontam que a argumentação do Governo para conquistar o apoio do Centrão girou por volta de R$ 3 bilhões – fora cargos e eventuais ministérios. O Centrão garantiu a vitória bolsonarista na escolha dos presidentes da Câmara e do Senado, com a misteriosa parceria de partes do PSDB, DEM e PT. Mas outras votações, ao que parece, não fizeram parte das negociações comandadas pelo general Luiz Eduardo Ramos, secretário do Governo. Há fortes resistências no Centrão ao decreto de Sua Excelência que facilita o comércio de armas e dificulta a identificação da munição. De duas, uma: ou se abre nova negociação ou o Governo vai ficar a descoberto.

Mark Twain revisitado

Samuel Langhorne Clemens, “Mark Twain”, grande escritor americano, disse certa vez: “Temos o melhor Congresso que o dinheiro pode comprar”. Jamais repetiria essa frase se fosse brasileiro. Mas talvez escrevesse algo parecido: “Temos o melhor Congresso que o dinheiro pode alugar”.

Um caminho

Está nas mãos da deputada federal Renata Abreu (Pode – São Paulo) um instrumento que pode abrir caminho para reduzir dramaticamente os gastos com eleições (e baixar o índice de corrupção). Renata Abreu será a relatora da comissão que estuda mudanças em eleições parlamentares. Hoje, a eleição é proporcional (o que abre campo a grande quantidade de partidos), envolve o Estado todo (exigindo despesas imensas do candidato e levando o eleitor a votar em quem não conhece) e torna possíveis coligações partidárias, que às vezes envolvem negociações muito, muito dispendiosas. Pior: se um partido conseguir um candidato bom de voto – alguém, por exemplo, como Sílvio Santos – este candidato fará com que outros candidatos do partido se elejam.

Renata Abreu cita duas possibilidades, sempre com voto majoritário: o Distritão (elegem-se os mais votados no Estado, seja qual for seu partido) ou o Distrital Misto (sistema alemão, que usa voto majoritário e proporcional). Nos dois casos, morrem tanto as coligações como a ideia de procurar um candidato popular, como Tiririca, para puxar a eleição de mais candidatos.

Qual caminho?

Renata Abreu não revela sua predileção: diz que o objetivo é buscar a unidade da comissão e, mais tarde, convencer o plenário a aceitar a mudança.

No mundo

No Primeiro Mundo, o Reino Unido usa o sistema distrital puro. O país é dividido em distritos e quem ganhar no distrito fica com a cadeira. O Reino Unido tem dois grandes partidos, o Trabalhista e o Conservador, um partido menor, o Liberal, e outros pequenos partidos, sem influência. O risco: é possível que um partido ganhe em todos os distritos por vantagem mínima. O Parlamento só terá deputados desse partido, e os derrotados, quase metade do país, ficarão sem representação.

Na Alemanha, com o sistema distrital misto, metade dos parlamentares é escolhida por maioria, a outra metade pelo sistema proporcional. A Alemanha tem dois grandes partidos, o Democrata-Cristão (que no Estado da Baviera tem outro nome, mas é o mesmo partido) e o Social-Democrata. Há um partido menor, o Liberal, e outros que às vezes se destacam, à direita e à esquerda, mas que até hoje não se firmaram. Israel copiou o sistema eleitoral britânico, mas adotando o voto proporcional. Resultado: inúmeros partidos. E o país vai para a quarta eleição em dois anos, porque não é possível formar coalizões com ampla maioria.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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