Compra de mansão em Brasília por Flávio Bolsonaro é um enorme emaranhado de contradições

 
A compra de uma mansão em Brasília pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) continua envolvida em uma nuvem de suspeitas, assim como acontece com os depósitos efetuados por Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Tanto o senador quanto o presidente da República, Jair Bolsonaro, alegam que ambas as operações foram lícitas.

O senador fluminense, diante das notícias veiculadas na imprensa, diz que a compra do imóvel localizado no Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, em Brasília, só foi possível em razão da venda de um apartamento na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Flávio Bolsonaro sustenta que a compra da mansão no Lago Sul, por R$ 5,97 milhões, foi quitada com um financiamento de R$ 3,1 milhões, do Banco Regional de Brasília (BRB), além de R$ 2,87 milhões pagos pelo parlamentar. Segundo o filho do presidente da República, os R$ 2,87 milhões são provenientes da venda do apartamento na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Quando concorreu ao Senado, em 2018, Flávio Bolsonaro declarou à Justiça Eleitoral patrimônio de R$ 1,74 milhão, sendo R$ 917 mil referentes ao tal apartamento. Pois bem, se o senador vendeu o apartamento no Rio por R$ 2,87 milhões, como alega, na declaração do Imposto de Renda ele terá de pagar os devidos impostos sobre o lucro obtido na transação – aproximadamente R$ 1,9 milhão.

O apartamento localizado na Barra da Tijuca é alvo de ação judicial movida pela Prefeitura do Rio de Janeiro, que cobra do senador o montante de R$ 90 mil referente à regularização do fechamento da varanda do imóvel. Causa espécie alguém comprar um imóvel que tem pendência judicial envolvendo irregularidade em obra, sendo que o valor cobrado pode ser superior a R$ 100 mil, já que o processo é de 2016.

Ademais, também causa estranheza o fato de uma pessoa comprar determinado imóvel sabendo que a Justiça poderá pedir a penhora do apartamento em razão do escândalo das “rachadinhas”. Até porque, Flávio Bolsonaro é acusado de se valer da compra e venda de imóveis para lavar o dinheiro sujo das “rachadinhas”.

 
O filho do presidente explica que vendeu uma franquia da marca de chocolates Kopenhagen, localizada no Shopping Via Parque, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A informação de que Flávio havia entregue a franquia veio a público no início de fevereiro, sendo que o franqueador, grupo CRM, dono da Kopenhagen, assumiu a gestão da loja.

A tal franquia funcionava à sombra da empresa “Bolsotini Chocolates e Café Ltda.”, que tem Alexandre Santini como sócio. Investigação do Ministério Público fluminense apontou que Flávio e a mulher, Fernanda Bolsonaro, não tinham o valor necessário para a aquisição e operação da franquia. Por isso, Santini teria entrado como “laranja” no negócio. A Bolsotini tem capital registrado de R$ 200 mil.

Segundo os investigadores, Flávio Bolsonaro teria usado a loja de chocolates para lavar R$ 1,6 milhão, montante proveniente do esquema das “rachadinhas”, que somente no gabinete do então deputado estadual desviou R$ 6,1 milhões, de acordo com o MP.

Além disso, financiamento concedido a Flávio Bolsonaro pode ser considerado fora do padrão do mercado financeiro. De acordo com o contrato de compra e venda do imóvel, o valor da prestação assumida pelo senador e por sua mulher, a dentista Fernanda Bolsonaro, é de R$ 18.744,16. No documento registrado em Brazlândia (a 45 km de Brasília), o casal comprovou renda conjunta de R$ 36.957,68. O senador declarou rendimento mensal de R$ 28.307,68, a dentista, R$ 8.650. De acordo com o site do Senado Federal, o salário líquido de Flávio é de R$ 24.906,62.

A renda do senador e da dentista é menor que o mínimo exigido pelo BRB para contratação de financiamento nessas condições. De acordo com o simulador de financiamentos disponível no site da instituição financeira, para um empréstimo no valor de R$ 3,1 milhões, com 360 meses para pagar, o tomador precisaria ganhar pelo menos R$ 46.401,25.

Contudo, não se pode esquecer que a família Bolsonaro, que sempre viveu às custas do suado dinheiro do contribuinte, especializou-se ao longo dos anos no milagre da multiplicação das cédulas.

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