Resistir às incertezas é parte da Educação

(*) Gisele Leite

É importante replicar a frase de Edgar Morin: “Resistir às incertezas é parte da Educação”. Precisamos novamente refletir sobre o papel da Educação em tempos de crise, e inspirado em Morin pois a função da Educação é ajudar os discentes a enfrentar os problemas da vida. E, sobretudo, num mundo em crise. A ideia fundamental é que tenhamos programas educacionais que saibam identificar a crise, os métodos e os caminhos necessários.

Lembremos que em primeiro lugar, a Educação disciplina o conhecimento. E um questionamento nos aflige: O que significa afinal conhecer? Pois tanto pode ser uma armadilha que abriga ilusões, equívocos e erros. Como podem iluminar sobre todas as possibilidades de erro ou falhas. Infelizmente, a percepção visual não é tal qual uma fotografia, como uma reconstrução feita com os olhos. Todo conhecimento é uma tradução e uma reconstrução simultaneamente.

E, aliás, em cada tradução, há possibilidade de erro. É muito relevante ensinar o enfrentamento do erro. E, o segundo problema da Educação é a compreensão humana. Infelizmente, não se ensina a compreender o outro. Quando cogito do outro, não são os estrangeiros, de pessoas que são falantes de outra língua e, as portadoras de outra cultura, ou ainda, que são de outros países.

Cogita-se de quem está justamente aí bem ao seu lado. É muito importante para vida e crescimento pessoal compreender esse outro. E, quando o tema é crise, surgem muitas incertezas mais do que em tempos normais ou regulares. Existem angústias e dificuldades. Afinal, a educação em tempos ditos normais, ensinam-se certezas, e não incertezas. Resistir à incerteza é crucial para superar.

Não se trata unicamente de crise econômica, como aquela que começou em 2008, mas é uma crise de civilização, de relações humanas. Nem somente a crise econômica de 2020 por conta da pandemia de coronavírus. Trata-se de crise de mentalidades, principalmente porque a globalização criou uma unificação técnica do planeta, mas não fez uma compreensão das culturas. A empatia é uma ferramenta potente para entender as diversidades e respeitar a dignidade humana.

Ao contrário, as culturas se fecharam em si mesmas, quando começou a unificação técnico-econômica. É, enfim, uma crise generalizada. Que traz características positivas e negativas.

Boa parte das populações asiáticas ou latino-americanas que saíram da pobreza e passaram à classe média, mas outra parte dos pobres caiu em profunda miséria. Esse processo da globalização ainda está descontrolado e nos conduz à possibilidade de catástrofe generalizada.

É indispensável a consciência de que pertencemos à espécie humana e que habitamos um planeta Terra, que tem em comum o enfrentamento de muitos perigos terríveis. Infelizmente, não existe tal consciência, e sim, o oposto desta. Com a crise advém a angústia que faz com que as pessoas se fechem cada vez mais em suas próprias identidades, etnias, religiões e nações.

E a Educação precisa urgentemente ensinar essa consciência de pertencimento à humanidade. E construir uma resistência é fundamental para a educação contemporânea. Mesmo diante de uma onda de retrocessos, e do fenecimento da democracia em muitos países. É uma degradação do pensamento político que nada mais é, do que uma obediência cega à economia.

É exatamente em época de retrocessos que precisamos e devemos resistir. Resistir pelos valores humanistas, pelos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Temos que preservar a noção de fraternidade humana, de economia solidária, de preservação do meio ambiente, para obtermos um oásis que não seja uma vida submissa aos poderes econômicos. Isso é o significado da resistência.

Edgar Morin ressaltou a necessidade de salvaguardar as Ciências Humanas e, não fragmentar a cultura científica e a cultura humanista. É crucial preservar a relação entre as duas. Porque enquanto a cultura humanista tem o poder da reflexão, da meditação, sobre as descobertas da cultura científica. A cultura científica traz inabaláveis saberes capazes não apenas de salvar vidas, mas aumentar a qualidade de vida também.

A importância da imunização (vacinação) de crianças, adultos e idosos é essencial para vencermos a pandemia e, retornarmos ao fluxo contínuo de aprendizado da civilização humana. Vacine. Ensine. E, vença todas as incertezas.

Referência:

FURLANETO, Audrey. Jornal “O Globo” O papel da Educação em tempos de crise. Acesso em 2.3.2021.

(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.

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