Após um ano de pandemia, o negacionista Bolsonaro cria comitê para combater a Covid-19

 
Depois de treze meses de negacionismo torpe em relação à pandemia do novo coronavírus, que já fez 300 mil vítimas no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro deixou momentaneamente de lado sua irresponsabilidade genocida e nesta quarta-feira (24) anunciou a criação de um comitê composto por representantes do governo federal, do Congresso e parte dos governadores para combater a Covid-19.

A decisão, que tem caráter político-eleitoral, foi comunicada após reunião no Palácio da Alvorada com seis governadores, ministros, o vice-presidente Hamilton Mourão e os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux.

Bolsonaro – que durante a pandemia confrontou governadores e prefeitos por causa de medidas de distanciamento social, recusou possibilidades de contratos antecipados com produtores de vacinas e estimulou o uso de medicamentos não eficazes contra a Covid-19 – está sob forte pressão para reagir com celeridade, apesar do atraso, à disparada de casos e mortes provocadas por complicações da doença.

Com os sistemas de saúde em colapso na maioria dos estados, o Brasil é hoje o principal epicentro global da pandemia e lidera com folga o ranking de novas mortes diárias por Covid-19. Na última segunda-feira (22), 26% das pessoas que morreram no planeta com Covid-19 estavam no Brasil, ou seja, uma a cada quatro vítimas fatais do novo coronavírus.

O Brasil também tem uma das maiores incidências de novas mortes por dia por milhão de habitantes, que já considera o tamanho da população de cada país. Na segunda-feira, essa taxa no Brasil era de 10,9, 60% acima da média da América do Sul e mais que o dobro da registrada na União Europeia. Para 79% dos brasileiros, a pandemia está fora de controle no País.

“A vida em primeiro lugar. Resolvemos, entre outras coisas, que será criada uma coordenação junto aos governadores com o senhor presidente do Senado Federal. (…) Sem que haja qualquer conflito, sem que haja politização, creio que seja esse o caminho para o Brasil sair dessa situação bastante complicada que se encontra”, disse Bolsonaro. Ele afirmou que o comitê se reunirá semanalmente para “decidirmos ou redirecionarmos o rumo do combate ao coronavírus”.

Esboço de coordenação

O encontro desta quarta foi organizado por Bolsonaro para tentar demonstrar coordenação de ações de combate à pandemia, ao mesmo tempo em que compartilha a responsabilidade pela gestão da crise com os governadores.

A baixa adesão de representantes dos governos estaduais na reunião, porém, joga dúvidas sobre a efetividade do comitê. Participaram do encontro os governadores Ronaldo Caiado (Goiás), Wilson Lima (Amazonas), Romeu Zema (Minas Gerais), Ratinho Júnior (Paraná), Marcos Rocha (Rondônia) e Renan Filho (Alagoas). Nenhum deles faz oposição declarada a Jair Bolsonaro, que tenta a todo custo salvar seu corroído projeto de reeleição.

O caráter político que marca a criação do tal comitê fica evidente com a decisão de Bolsonaro de não convidar para a reunião os governadores dos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, João Dória Júnior e Eduardo Leite, respectivamente, ambos do PSDB e potenciais candidatos à Presidência da República em 2022. Em suma, o presidente da República, como sempre afirmamos, é movido pela covardia, mesmo que em público finja ser destemido.

 
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Em diversos momentos ao longo da pandemia, o presidente investiu contra o sistema federativo e contestou decisões de governadores e prefeitos que estabeleceram restrições ao comércio e à circulação de pessoas para reduzir a contaminação pelo novo vírus, medida considerada essencial por epidemiologistas.

O lance mais recente dessa estratégia de confronto ocorreu na última semana, quando o presidente acionou o STF para tentar derrubar decretos dos governos do Distrito Federal, da Bahia e do Rio Grande do Sul que determinaram restrições de circulação de pessoas. O pedido foi negado na terça-feira (23), em caráter liminar, pelo ministro Marco Aurélio Mello.

Após a reunião desta quarta, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse que a liderança para buscar uma coordenação de esforços no combate à pandemia deve ser de Bolsonaro. “Essa união significa um pacto nacional liderado por quem a sociedade espera que lidere, que é o presidente da República”, afirmou.

O presidente do Supremo, Luiz Fux, disse que a Corte não participará do comitê, mas buscará formas de agilizar as decisões em processos judiciais que tratem do combate à pandemia.

“Tratamento precoce” e vacinação

Ao deixar da reunião, Bolsonaro voltou a mencionar um suposto “tratamento precoce” contra a Covid-19, conjunto de medicamentos sem eficácia contra a doença, como a cloroquina e a ivermectina, e que podem causar sérias complicações de saúde caso usados de forma indiscriminada. O tal tratamento precoce provocou sérios danos a que acreditou nessa falácia, como registros de hepatite medicamentosa e transplante de fígado.

“Tratamos também de possiblidade de tratamento precoce. Isso fica a cargo do ministro da Saúde, que respeita o direito e o dever do médico off-label de tratar os infectados”, afirmou o presidente.

Na terça-feira, a Associação Médica Brasileira pediu o banimento do uso de remédios sem eficácia contra a doença. O anúncio marcou uma virada no posicionamento da entidade, que vinha defendendo o direito de os médicos terem “autonomia” para receitar os remédios que julgassem adequados para seus pacientes.

O presidente também não mencionou em sua fala a necessidade de as pessoas fazerem isolamento social para evitar a propagação do vírus. Contudo, defendeu a importância de acelerar o programa de vacinação, em meio a atrasos constantes na entrega dos imunizantes.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que tomou posse às pressas na terça-feira, também defendeu uma coordenação entre União, estados e municípios para ampliar a vacinação nos próximos meses.

Na noite de terça-feira, Bolsonaro fez um pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão no qual tentou defender as ações do governo no combate à crise, mas sem qualquer dose de cerimonia mentiu e distorceu dados sobre a compra e a aplicação de vacinas. Como noticiou o UCHO.INFO em matéria anterior, Jair Bolsonaro, pressionado pelo preocupante avanço da pandemia no País, aposentou o negacionismo e passou a lamber as franjas da canalhice. (Com agências de notícias)

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