Se por um lado o governo do presidente Jair Bolsonaro patina na seara da incompetência, por outro esbanja boçalidade. Crente que seus desvarios totalitaristas são suficientes para mantê-lo no cargo e levar adiante um projeto de reeleição que começa a esfarelar, Bolsonaro incentiva nos bastidores o discurso do ódio e da polarização, especialmente quando o governo entra na chamada corda bamba.
Nesta quarta-feira (24), em sessão do Senado Federal, um estafeta do presidente da República deu mostras do perigo que a democracia corre com a permanência de Bolsonaro no poder. A sessão foi marcada por diversos pedidos para que o ministro Ernesto Araújo, um dos sabujos de plantão, deixe o cargo por conta da estabanada política externa do governo, que colocou o Brasil na condição de pária internacional. Apesar das muitas críticas e dos pedidos para que deixe o comando do Itamaraty, Araújo disse que não sai.
Ao dirigir a palavra ao responsável pela diplomacia brasileira, o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) disse: “Em seu lugar [Araújo], pediria demissão hoje. Quando se entra em vida humana, gostaria de saber como foi o convívio neste ano todo ignorando a pandemia. O senhor não sente que colocou a digital nisso? Viu 300 mil mortes e 12 milhões de pessoas infectadas? O senhor ouviu o presidente dizer que era uma gripezinha. Faça um bem para o país e saia do Ministério das Relações Exteriores”.
A senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) disse que a continuidade de Araújo à frente da diplomacia brasileira faz mal à imagem do País: “Vocês agiram sem humanidade. O senhor realmente se sente possibilitado a continuar nesse cargo? A nossa cara agora é de um país que está colocando o planeta em risco. Por favor, chanceler, ponha a cabeça no travesseiro e pense. O senhor não foi bom para o Brasil”.
Inúmeros parlamentares “pediram a cabeça” de Ernesto Araújo, como, por exemplo, o senador Tasso Jereissati, que responsabilizou Araújo pelo fato de o Brasil ser considerado um pária internacional. “O senhor não tem mais condições de ficar no Ministério das Relações Exteriores. E não é para criar uma crise, é para solucionar”, afirmou o senador tucano.
Do alto de sua conhecida soberba e impulsionado pela bazófia, Araújo rebateu as críticas: “Todos os dias vou para a cama, fecho os olhos e durmo com minha consciência limpa, tanto no tema da Covid como em outros. Em cada dia trabalhei pelo Brasil. Poderia ter tido mais leitos se não tivesse havido corrupção na saúde, poderíamos estar na frente em tecnologia, poderíamos estar juntos com a Índia. Durmo com a consciência tranquila. Me sinto enaltecido quando sou criticado por coisas em que acredito”.
A exemplo do que afirmam os integrantes da súcia bolsonarista, Ernesto Araújo recorreu à síndrome do retrovisor para justificar a incompetência de um governo marcado pela incompetência e pelo totalitarismo. O chanceler tem o direito à livre manifestação do pensamento, mas é preciso que ele explique o entende por consciência tranquila. Considerando que o projeto de Bolsonaro é levar o País ao retrocesso e ao obscurantismo, a consciência de Araújo por certo está tranquila, pois ele tem feito a “lição de casa”.
No meio da sessão, o assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins, que estava sentado atrás do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (Democratas-MG), fez um gesto classificado como obsceno —nas redes sociais tal gesto é considerado uma alusão ao supremacismo branco — e revoltou os senadores.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) não esperou para enquadrar o assessor palaciano, que age de acordo com as regras do “gabinete do ódio”. Randolfe, que pediu à Polícia Legislativa que retirasse o assessor presidencial do plenário, disse: “Eu não sei qual o sentido do gesto do senhor Filipe, era bom que ele explicasse, mas isso é inaceitável, em uma sessão do Senado Federal, durante a fala do presidente do Senado, um senhor está procedendo de gestos obscenos, está ironizando o pronunciamento do presidente da nossa Casa. Não, isso é inaceitável e intolerável. Não aceitamos que um capacho do presidente da República venha ao Senado, durante a fala do presidente do Senado, nos desrespeitar”.
Alegando não ter feito qualquer gesto obsceno, Filipe Martins disse que apenas arrumou a lapela do paletó, desculpa que não convenceu, até porque quem conhece as entranhas do governo Bolsonaro sabe como agem seus subordinados.
Nas redes sociais, Martins publicou texto em tom de ameaça, como se o País devesse se amedrontar diante de alguém que serve o presidente da República com nauseante subserviência. “Um aviso aos palhaços que desejam emplacar a tese de que eu, um judeu, sou simpático ao “supremacismo branco” porque em suas mentes doentias enxergaram um gesto autoritário numa imagem que me mostra ajeitando a lapela do meu terno: serão processados e responsabilizados; um a um”, escreveu o sabujo.
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