Há quase três anos, o UCHO.INFO alerta para o perigo que o presidente Jair Bolsonaro representa à democracia, ao Estado de Direito e aos outros Poderes constituídos (Judiciário e Legislativo). De tempos em tempos, quando surge uma oportunidade, Bolsonaro faz ameaças escancaradas tendo o golpismo como moldura de absurdas declarações. Isso permite que o presidente mantenha intacta e unida a base de apoiadores, que igualmente comunga pela cartilha do totalitarismo.
Com a crise que se instalou na cúpula das Forças Armadas, surgida no rastro da demissão do ministro da Defesa, general da reserva Fernando Azevedo e Silva, surgiu nos ares de Brasília a teoria de uma possível quebra da institucionalidade. Apesar das negativas por parte de integrantes do alto escalão do governo, a classe política começa a olhar com maior desconfiança a permanência de Bolsonaro na Presidência da República.
Sem enfrentar oposição ferrenha no Parlamento, principalmente dos partidos de esquerda e centro-esquerda, Bolsonaro conta com algo que em passado recente condenou com veemência de encomenda: a velha política ou, como queiram, o chamado “toma lá, dá cá”. É nesse cenário de escambo espúrio e condenável que reside a tábua de salvação de Bolsonaro, que bate cabeça para levar adiante seu projeto de reeleição.
A renúncia dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, decisão tomada na madrugada desta terça-feira (30) em protesto contra Bolsonaro, coloca mais combustível em uma “fogueira política” preocupante e perigosa.
Tomando por base o fato de que há na Câmara dos Deputados aguardando aval algumas dezenas de pedidos de impeachment de Bolsonaro e a crise envolvendo as forças militares, o terreno fica mais favorável para o sempre ávido Centrão, que há dias vem elevando o valor da fatura que rotineiramente é apresentada ao governo.
Políticos do bloco parlamentar temem que a mudança no comando do Ministério da Defesa represente uma senha para Bolsonaro radicalizar o discurso e os próprios atos caso sinta-se ameaçado. Isso é motivo suficiente para que o Centrão dobre o valor da fatura ou, então, decida reagir de acordo com os ditames da lei.
Tal quadro revela que o brasileiro não deve nutrir ousadas esperanças em relação ao futuro e também ao presente, pois nessa equação há de prevalecer, como sempre, os interesses dos políticos, em detrimento dos direitos dos cidadãos.
Sabedor de que a atuação do governo no combate à pandemia foi e continua sendo um enorme fiasco, situação que o coloca na corda bamba, Bolsonaro tenderá cada vez mais a atender os pleitos do Centrão, que já começou a emparedar o presidente da República com ultimatos recorrentes. Mesmo assim, é considerável o risco de o presidente seguir na direção contrária. Isso significa violar o ambiente democrático em nome de um projeto marcado pelo despotismo.
No caso de Bolsonaro decidir recusar os pedidos do Centrão para não desagradar sua insana horda de apoiadores, o Brasil corre o risco de acompanhar mais um processo de impeachment. Aliás, crimes de responsabilidade para apear o presidente do cargo não faltam. Vale lembrar que o Centrão não é afeito a ideologias, já brotou da lama do proxenetismo político. E nenhum parlamentar desse grupo aceita correr riscos sem a devida contrapartida.
Se no caso do impeachment de Dilma Rousseff o Centrão foi implacável e traiçoeiro, até porque à época era muitíssimo bem recompensado, é fácil imaginar o que pode acontecer com Bolsonaro, se ele decidir não cumprir acordos e promessas.
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