O presidente Jair Bolsonaro tentou enquadrar a cúpula das Forças Armadas, depois de fracassada manobra para politizar a caserna, mas acabou enquadrado. O motivo foi a recusa do então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, de alinhar as forças militares ao governo e ao bolsonarismo.
Em sua enfadonha live semanal, Bolsonaro mais uma vez distorceu os fatos e não pensou duas vezes antes de exibir sua essência totalitarista. Na transmissão feita pelas redes sociais, o presidente tratou rapidamente da questão envolvendo a pasta da Defesa e os comandantes das forças militares, mas disse em determinado trecho da transmissão “só nós sabemos o motivo e morreu aqui”. Em outras palavras, o motivo das mudanças é de conhecimento público até porque Azevedo e Silva e os comandantes foram explícitos ao deixarem seus postos, mas Bolsonaro de novo camufla a verdade.
“Eu sempre falei para todos os meus ministros, todos, sem exceção: onde é o nosso jogo? O nosso jogo é dentro das quatro linhas da Constituição. Nós não vamos sair desse retângulo, ou desse quadrado”, afirmou o presidente, negando ter ingressado no terreno do autoritarismo.
“Também devemos nos preocupar com quem está jogando fora desse quadrado, quem está agindo de forma errada. E alguma providência legal tem que ser tomada contra quem está agindo fora dessas linhas”, acrescentou. Contudo, se há alguém desrespeitando as quatro linhas da Constituição, esse certamente é o presidente, que insiste em tomar decisões pensando na sua horda de apoiadores.
Sem obter com as referidas mudanças o controle das Forças Armadas, Bolsonaro se viu obrigado a respeitar o critério da antiguidade e nomear como comandante do Exército o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que age e pensa de forma semelhante ao antecessor, o também general Edson Pujol.
Se com Pujol o presidente tinha muitas diferenças, com Paulo Sérgio a situação não é diferente. O novo comandante do Exército, em entrevista ao jornal “Correio Braziliense”, defendeu as medidas de isolamento social e afirmou que já se prepara para uma possível terceira onda da Covid-19, pensamento oposto ao de Bolsonaro.
O presidente da República pode dizer o que bem entender a respeito dos seus atos, mas a verdade sempre prevalece. Bolsonaro foi obrigado a “engolir” Paulo Sérgio, que terá sua atuação monitorada à distância. Isso significa que o chefe do Executivo não descarta novas mudanças no comando das forças militares. Se isso não é tentativa escancarada de politizar a caserna, algum palaciano tem o dever de explicar o que se trata.
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