Discurso do novo ministro da Justiça soa como ameaça a governadores e prefeitos que enfrentam a pandemia

 
Como tem afirmado o UCHO.INFO ao longo dos últimos meses, o presidente Jair Bolsonaro não abre mão de transformar a pandemia do novo coronavírus em campo de batalha ideológica, política e eleitoral. Depois de fracassar na tentativa de liberar missas e cultos presenciais em igrejas e templos no estado de São Paulo, onde o governador João Dória Júnior (PSDB) é tratado como inimigo figadal, Bolsonaro agora aposta suas fichas no novo ministro da Justiça, Anderson Torres.

Empossado oficialmente no cargo nesta terça-feira (6), em cerimônia reservada no Palácio do Planalto, Torres afirmou, em breve discurso, ser necessário que “a força da Segurança Pública” se faça presente para garantir “um ir e vir sereno”.

“Neste momento, a força da segurança pública tem que se fazer presente garantindo a todos um ir e vir sereno e pacífico. Contem com o Ministério da Justiça e Segurança Pública para dar esta tranquilidade”, declarou o novo titular da Justiça.

Essa declaração é uma sinalização de que o País verá em breve embates reais entre o governo federal e governos estaduais no escopo da adoção de medidas restritivas para combater o avanço da Covid-19, como, por exemplo, a decretação de “lockdown” e toque de recolher, que na opinião do presidente representam Estado de sítio.

Em clara demonstração de subserviência ao chefe do Executivo, Anderson Torres ecoou declarações de Bolsonaro sobre a retomada da economia em meio à crise sanitária que já ceifou mais de 331 mil vidas em todo o País. “Precisamos trazer de volta a economia deste país, precisa colocar as pessoas para trabalhar”, ressaltou.

“Tenho muito medo de crises maiores decorrentes de fome, desemprego e outros problemas neste sentido”, disse Torres, não sem antes afirmar ser “uma pessoa idealista e apaixonada”. O novo ministro da Justiça foi além e falou dos “enormes desafios” enfrentados pela nação e que “quis Deus, presidente Bolsonaro, que esta condução em momento tão crítico estivesse em vossas mãos”.

 
“A Justiça e a segurança pública, somadas, são a espinha dorsal da paz e da tranquilidade da nação. Principalmente quando se passa por uma crise sanitária mundial como a que vivemos e que impacta diretamente a economia e a qualidade de vida dos cidadãos brasileiros”, declarou Torres.

“A segurança pública foi uma das principais bandeiras da sua eleição e ela voltará a tremular alta e imponente. Isso eu posso garantir à Vossa Excelência, estejam certos disso”, emendou o mais novo sabujo da corte bolsonarista.

Anderson Torres tem garantido o direito à livre manifestação do pensamento, mas na condição de agente do Estado, principalmente, tem o dever de respeitar os limites legais, mesmo que o presidente da República imponha ordens absurdas e que extrapolem as fronteiras da democracia, do Estado de Direito e da Constituição. Ademais, o STF já decidiu que governadores e prefeitos têm autonomia para adotar medidas de combate à pandemia.

A fala de Torres, que tem contornos de missa encomendada, pode ser interpretada como camuflada ameaça a governadores e prefeitos, que têm enfrentado a pandemia sem a coordenação do governo federal.

Se a intenção de Torres é ameaçar o governo de São Paulo, o tiro pode sair pela culatra, pois no mais importante ente federativo a força policial é numerosa e não se renderá à desobediência civil sonhada pelo presidente, permitindo que o genocídio patrocinado por Bolsonaro se espalhe pela terra dos bandeirantes.

Faz-se necessário que o novo ministro da Justiça não se deixe levar pelo cargo. O direito de ir e vir do cidadão não é absoluto nem foi violado, como tentou mostrar nas entrelinhas do discurso, mas o que se preza em todos os estados brasileiros é a garantia da vida e o atendimento dos infectados pelo novo coronavírus no sistema de saúde, que há muito está em colapso.

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