Barroso determina instalação da CPI da Covid no Senado e impõe novo e amargo revés a Bolsonaro

 
O presidente Jair Bolsonaro deixou a cidade de São Paulo na noite de quarta-feira (7), após encontro gastronômico de encomenda com alguns empresários, acreditando que a sociedade acreditaria na falácia de que continua contando com o apoio do empresariado. O jantar organizado na casa do empresário Washington Cinel aconteceu a pedido do próprio governo, o que coloca em xeque a estratégia palaciana de fazer de Bolsonaro uma quase unanimidade.

A falsa sensação de Bolsonaro permitiu a ele voltar a falar em “meu Exército” durante cerimônia de promoção de oficiais-generais, que aconteceu na manhã desta quinta-feira (8) no Palácio do Planalto. O presidente não desiste de ameaçar a democracia, o Estado de Direito e os cidadãos de bem, por isso precisava do suposto apoio de uma dúzia de empresários para endossar suas investidas totalitaristas.

O dia parecia transcorrer dentro da previsão da cúpula do governo, apesar do impressionante avanço das mortes pelo novo coronavírus, até que uma má notícia mudou o humor dos ocupantes do Palácio do Planalto.

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou ao Senado a imediata instalação da CPI da Covid, com participação presencial dos parlamentares, para investigar a conduta do governo Bolsonaro no combate à pandemia, que já ceifou a vida de mais de 345 mil brasileiros.

Tudo o que Jair Bolsonaro não precisava a essa altura dos acontecimentos é uma CPI que colocará na vitrine não apenas sua irresponsabilidade genocida e seu negacionismo tosco, mas a inoperância das autoridades de saúde diante de uma tragédia anunciada.

Que o governo Bolsonaro falhou de maneira criminosa no combate à pandemia todo brasileiro dotado de inteligência sabe, mas detalhes desse desleixo e a extensão da omissão podem se transformar em jato de água fria em um projeto de reeleição que vem derretendo desde o final de 2020.

O resultado de uma CPI sempre é uma incógnita, mas não se pode fechar os olhos para o fato de que uma investigação parlamentar, que a depender da forma como for conduzida pode recomendar às autoridades competentes o indiciamento dos culpados, é um palanque eleitoral capaz de produzir muito barulho. As investigações no âmbito de uma CPI seguem as balizas legais vigentes no País, mas o julgamento é e sempre será político. É nesse exato e crucial ponto que mora o grande perigo para Bolsonaro.

 
Caso queira minimizar de forma antecipada os efeitos colaterais da CPI, o governo terá de negociar à exaustão nos bastidores, o que significa abrir os cofres para o Centrão e oferecer ainda mais cargos ao sempre famigerado bloco parlamentar que se especializou em proxenetismo político.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que chegou ao posto com o apoio declarado do Palácio do Planalto, afirmou que acatará a ordem judicial, mas não perdeu a oportunidade de, criticando a decisão de Barroso, afirmar que a instalação de uma CPI nesse momento será um “ponto fora da curva”.

Como sempre afirma o UCHO.INFO, quem vive encastelado nos gabinetes de Brasília sequer conhece a realidade e as agruras enfrentadas pelos cidadãos comuns no cotidiano de um país governado por populista irresponsáveis. Rodrigo Pacheco deve fazer com celeridade um exame de consciência, pois assim talvez perceba que “ponto fora da curva” é um contribuinte morrer por Covid-19 na fila de espera por leito de UIT ou por falta de oxigênio nos hospitais públicos, sendo que o Ministério da Saúde sempre teve conhecimento da extensão do caos.

Para integrar o Centrão é preciso, acima de tudo, doses extras de esperteza, pois esse é o principal combustível do ajuntamento legislativo que diz defender os interesses do povo brasileiro. Rodrigo Pacheco sempre soube – ou deveria saber – que evitar a instalação de uma CPI dessa natureza seria impossível, principalmente porque o “covidário bolsonarista” já abriga centenas de milhares de cadáveres.

Sendo assim, em vez de acionar o botão da vilania contra o Palácio do Planalto, Pacheco preferiu ficar “em cima do muro” e simultaneamente acatar a ordem judicial e não desagradar o governo, que continua como incansável cornucópia do Centrão, como aconteceu em gestões anteriores.

Apesar de ter criticado indireta e suavemente a decisão do ministro Barroso, o presidente do Senado sentiu-se aliviado quando o assunto desembarcou no STF. Desse modo, Pacheco agora tem como terceirizar a culpa pela instalação da CPI e dá ao Centrão condições de subir o valor da fatura que de forma rotineira é cobrada de Jair Bolsonaro.

Sobre a possibilidade de Rodrigo Pacheco cair em desgraça junto à opinião pública, vale ressaltar que o brasileiro acostumou-se com a memória curta, em especial porque o Brasil transformou-se ao longo dos anos em uma catapulta de escândalos e absurdos políticos. Na próxima segunda-feira (12), pouquíssimos lembrarão do ziguezague de Pacheco.

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