O programa de vacinação contra a Covid-19 no Brasil está em risco devido ao grande número de pessoas que não estão comparecendo aos postos de saúde para receber a segunda dose do imunizante.
Segundo o Ministério da Saúde, 1,5 milhão de pessoas não se apresentaram para receber o reforço. Embora muitas pessoas simplesmente se esqueçam ou optem por não ir tomar a segunda dose, há relatos de quem não pode receber o reforço por falta de imunizantes.
Duas vacinas são atualmente aplicadas no Brasil: a Coronavac, produzida pelo farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e o imunizante da AstraZeneca, desenvolvido em parceria com a Universidade de Oxford e produzido no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). No caso da Coronavac, estudos apontam melhor eficiência quando a segunda dose é aplicada em um intervalo de 21 a 28 dias. Já a vacina da AstraZeneca-Oxford deve ter a segunda dose aplicada em intervalo maior, de três meses.
Para especialistas, a situação no país é particularmente preocupante, pois um recente estudo realizado no Chile mostrou que a Coronavac, responsável por cerca de 80% das imunizações no Brasil, é apenas 16% eficaz após a primeira dose.
“Sem as duas doses, não temos proteção total nem longa duração de proteção”, disse Juarez Cunha, chefe da Sociedade Brasileira de Imunizações. “Precisamos das pessoas, para fazer o ciclo completo”, completou.
O estudo no Chile, que analisou a eficácia da vacina entre 10,5 milhões de pessoas, descobriu a proteção contra a forma sintomática da doença aumentou de 16% para 67% com a segunda dose. A vacina AstraZeneca-Oxford, responsável pelos 20% restantes de imunizações no Brasil, é 76% eficaz duas semanas após a primeira injeção.
O que leva os brasileiros a não tomarem a segunda dose
Embora o Brasil tenha um histórico modelo em campanhas de vacinação bem-sucedidas e pesquisas mostrarem que a grande maioria dos brasileiros deseja ser vacinada, cientistas temem que a mensagem sobre a importância da segunda dose não esteja sendo transmitida corretamente.
“As pessoas precisam acordar e ouvir todos os dias no rádio, na televisão, que tem que tomar a segunda dose, que não pode faltar”, disse Cristina Bonorino, integrante do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia.
“Se uma pessoa não recebe a segunda dose, não há garantia alguma de que a imunização funcionará”, completou Bonorino.
Em alguns casos, as pessoas também podem ter ficado receosas em tomar o reforço, devido a reações causadas pela primeira dose, como febre de curta duração e dores no corpo. Além disso, também houve longas filas em alguns locais de vacinação, uma dificuldade a mais para grupos prioritários vulneráveis à Covid-19.
Para garantir que quem tomou a primeira dose esteja completamente imunizado, o Ministério da Saúde, em parceria com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), orienta a busca ativa por essas pessoas.
Muitas cidades já estão correndo atrás de quem não se vacinou completamente. Em São Paulo, por exemplo, a prefeitura vai entrar em contato com quem não compareceu para receber a segunda dose. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, mais de 81 mil pessoas estão nessa situação. De acordo com a pasta, entre as razões para o não comparecimento podem estar mudança de endereço, a espera de um acompanhante ou esquecimento.
Algumas cidades estão adotando uma outra estratégia, mais preventiva: telefonar para as pessoas que receberam a primeira dose, informando dia e local da aplicação da segunda.
Falta de imunizantes para a segunda dose
O Ministério da Saúde garante que os problemas não se devem à falta de vacinas, já que as segundas doses são retidas para garantir a disponibilidade dentro do prazo.
No entanto, a afirmação contrasta com uma nova diretriz repassada pela pasta em março às secretarias estaduais de saúde, determinando que todas as doses distribuídas sejam aplicadas, sem necessidade de reserva da segunda dose para completar o esquema de imunização. A sugestão foi acatada por muitos municípios, que agora sofrem com atrasos na aplicação do reforço.
A Secretária de Saúde do Rio Grande do Sul informou que mais de 300 mil gaúchos que já fecharam ou estão prestes a fechar o período recomendado pelo Butantan ainda não têm as doses garantidas para o reforço. A pasta vai cobrar agilidade do governo federal.
“Sabemos que esse problema não é exclusividade do Rio Grande do Sul. Mas precisamos cobrar do Ministério da Saúde o envio ágil dessas doses, para que possamos concluir o esquema vacinal destas pessoas. Esperamos que o Butantan consiga recuperar o tempo perdido sem o IFA [Insumo Farmacêutico Ativo] e recomece a produção em escala para fazer novas entregas o mais rapidamente possível”, pontuou a secretária da Saúde, Arita Bergmann.
O Instituto Butantan retomou na noite de terça-feira a produção de mais de 5 milhões de doses da Coronavac, que estava parada há quase duas semanas, devido à falta de matéria prima vinda da China. A retomada foi possível graças a mais de três mil litros de insumos, recebidos na segunda-feira. O lote deveria ter chegado no final de março, mas sofreu atraso e, consequentemente, a produção e entregas de vacinas, também.
“Estamos estimulando a população, diariamente, a tomar a vacina contra a Covid-19. Agora precisamos de doses para completar a vacinação de todos”, destacou o presidente do Conselho, Maicon Lemos, Conselho das Secretarias Municipais da Saúde do Rio Grande do Sul.
A diretriz de orientar estados e municípios a usarem todas as doses disponíveis, sem guardar os reforços, contrasta fortemente com o é feito no Chile, onde a estratégia de vacinação mudou para priorizar as segundas doses em vez de aplicar a primeira em mais pessoas.
Riscos de não receber a segunda dose
Segundo especialistas, ao receber a primeira dose e não retornar para completar o esquema vacinal, a pessoa pode ficar com uma falsa sensação de segurança, por acreditar, de forma equivocada, que já está imune. Isso poderia levar ao relaxamento de cuidados básicos, como distanciamento social.
Outa incógnita é como fica a situação de quem atrasou demais a segunda dose. Ainda não está claro se essas pessoas precisarão começar um novo esquema vacinal do zero ou se podem tomar a segunda a qualquer momento. Os dados de eficácia das vacinas são baseados em protocolos, e não está claro o que pode ocorrer se as pessoas fugirem muito dos prazos.
Em um cenário de escassez de vacina, recomeçar o esquema seria o mesmo que desperdiçar doses.
A orientação do Ministério da Saúde até o momento é que, mesmo aquelas pessoas que perderam o prazo estabelecido no cartão de vacinação para o reforço, devem procurar uma unidade de Saúde para a segunda dose.
“A recomendação do Programa Nacional de Imunizações (PNI) é que elas completem o esquema. Então, quem atrasou e não conseguiu ir com 28 dias de intervalo da Coronavac ou aquelas que não conseguiram ir com 84 dias da vacina AstraZeneca, devem comparecer para completar o esquema”, enfatizou a coordenadora do PNI, Francieli Fantinato. (Com Deutsche Welle e agências de notícias)
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