Para defender o pai na CPI da Covid, Flávio Bolsonaro ignora a trajetória do clã e abusa da incoerência

 
Ao longo dos anos, a incoerência que paira sobre a política brasileira cresceu de forma assustadora, transformando-se em nauseante espetáculo de insensatez. No vale-tudo que reina no Parlamento, onde adversários recorrem a artifícios sórdidos para defender ideias e aliados, no melhor estilo “missa encomendada”, políticos não se incomodam em dar nova vida aos próprios fantasmas.

É o caso do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), ator principal da patetice criminosa conhecida como “rachadinhas”, aterrissou na manhã desta terça-feira (27) no plenário onde teve início a CPI da Covid, que investigará a desastrosa atuação do governo federal no combate à pandemia do novo coronavírus.

Flávio Bolsonaro, do alto de sua conhecida petulância, criticou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) por ter criado a CPI durante a pandemia. “Rodrigo Pacheco está errando, está sendo irresponsável, porque está assumindo a possibilidade de durante os trabalhos dessa CPI acontecerem mortes de senadores, assessores, morte de funcionários, porque em algum momento a sessão vai ter que ser presencial”, afirmou o presidente da República.

O filho “01” de Bolsonaro deveria fazer um exame de consciência – talvez pudesse retornar ao planeta Terra – e reconhecer que é desprovido de cabedal para falar sobre o risco que representam sessões presenciais. O presidente Jair Bolsonaro, o negacionista de plantão, ignora o perigo de uma doença desconhecida e traiçoeira ao provocar aglomerações, não usar máscara de proteção, criticar o distanciamento social e demonizar as medidas restritivas para combater o avanço da pandemia.

Ao criticar o presidente do Senado, o filho de Jair Bolsonaro comprova que o governo, ao contrário do que disse o chefe do Executivo ao falar em “velha política”, continua se valendo do “toma l[a, dá cá” como forma de sobreviver e chegar ao final sem intercorrências e solavancos, se é que isso pode ser considerado possível.

O primogênito do presidente da República não perdeu a viagem e disparou críticas ao senador Renan Calheiros (MDB-AL), indicado relator da CPI da Covid, para desespero do staff palaciano. Flávio justificou o ataque com o fato de Calheiros ser pai do governador de Alagoas, Renan Filho, que pode ser alvo de investigação no escopo do repasse de verbas federais aos estados para o enfrentamento da pandemia.

 
“Obviamente que ele tem impedimento para estar na CPI. Eu sou filho do presidente e tenho bom senso. Não batalhei para estar porque entendo que não teria imparcialidade para fazer parte dela, assim como Renan Calheiros deveria fazer o mesmo”, afirmou Flávio Bolsonaro.

O clã presidencial, como se sabe, alimenta-se diuturnamente no cocho do autoritarismo, por isso o senador fluminense surgiu em cena, mais uma vez, a reboque de um discurso mentiroso e debochado. Por questões óbvias e conhecidas, cumpriu ordem do pai.

Quando o presidente da República tentou emplacar o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o “fritador de hambúrguer do Maine”, como embaixador do Brasil em Washington, Flávio manteve-se calado.

De igual modo, quando Jair Bolsonaro autorizou a realização de reunião no Palácio do Planalto com integrantes do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI) e membros da Abin para tratar do caso das criminosas “rachadinhas”, Flávio Bolsonaro não apenas aceitou de bom grado o ilegal encontro, mas mandou às favas o bom senso que agora tenta vender à parcela incauta da opinião pública.

Ao invés de atacar Renan Calheiros, que a depender do humor poderá piorar sobremaneira a já difícil situação do presidente da República, Flávio Bolsonaro poderia explicar aos brasileiros temas que ainda permanecem no campo da dúvida: 1) o pagamento de algumas contas pessoais com dinheiro vivo – operação a cargo de Fabrício Queiroz; 2) a meteórica evolução patrimonial, com transações imobiliárias suspeitas; 3)a franquia de uma loja de chocolate que funcionava com “lavanderia” do dinheiro das “rachadinhas”; 4) a bisonha aquisição de uma mansão em Brasília. 5) os depósitos feitos na conta da primeira-dama pelo seu operador nas “rachadinhas”; 6) o fato de ter empregado em seu gabinete na Alerj a mãe e a ex-mulher do miliciano Adriano Magalhaes da Nóbrega, fundador do “Escritório do Crime” (grupo de matadores de aluguel) e assassinado em fevereiro de 2020. Com a palavra, o senador Flávio Bolsonaro.

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