Sabujo, Aras pede a Alexandre de Moraes que deixe relatoria de inquérito sobre Ricardo Salles

 
Quando apresentou-se ao eleitorado nacional com candidato à Presidência da república, em 2018, o negacionista e totalitarista Jair Messias Bolsonaro disse ter a solução para todos os problemas do País e empunhou a bandeira contra a corrupção, como se ele e a própria família não navegasse nas águas do ilícito. Além disso, após tomar posse no cargo, Bolsonaro demonizou a chamada “velha política”.

Brasil e os brasileiros se deparam com um cenário de caos e desmandos, sem que a sociedade e as autoridades reajam à altura dos absurdos que se avoluma. O mais novo escárnio na seara do governo federal atende pelo nome de Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente que usou o termo “passar a boiada” para se referir à mudança das regras ambientais para atender os interesses de alguns nacos do agronegócio e da mineração.

Deflagrada no último dia 19, a Operação Akuanduba, da Polícia Federal, identificou exportação ilegal de madeira extraída criminosamente da Amazônia e o envolvimento de servidores do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama, todos afastados por determinação judicial. Investigações da PF apontam para a existência de um “esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais”, com o envolvimento de do próprio Ricardo Salles e de gestores do MMA e do Ibama.

A Akuanduba foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que nesta quarta-feira (26) recebeu pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, para que deixasse a relatoria do inquérito que apura a atuação bandoleira de agentes públicos e o conluio desses com madeireiros criminosos.

A atitude ousada de Augusto Aras, sabujo de plantão do presidente da República, tem ao menos duas explicações. A primeira delas é que Aras, ciente de que não será indicado a uma vaga no STF, tenta sua recondução ao cargo, por isso busca agradar a Jair Bolsonaro, que tenta blindar Ricardo Salles de todas as maneiras. A segunda explicação encontra-se no campo do orgulho ferido, já que Aras não foi comunicado com antecedência da deflagração da Operação Akuanduba. Isso porque o ministro do STF temia que o PGR vazasse as informações ao presidente Jair Bolsonaro.

 
Em decisão sobre a quebra dos sigilos fiscal e bancário de Salles, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) indicou “movimentação extremamente atípica envolvendo o escritório” do qual o titular do Meio Ambiente é sócio.

A petulância de Ricardo Salles é tamanha, que ele não entregou os telefones celulares como determinava mandado de busca e apreensão expedido por Moraes e cumprido pela Polícia Federal. Em qualquer país sério o ministro já estaria preso por descumprir ordem judicial.

É importante ressaltar que por ocasião da notícia-crime contra Salles apresentada ao STF pelo ex-superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva, o ministro do Meio Ambiente recorreu ao Palácio do Planalto para que o delegado fosse afastado do comando da corporação no estado nortista.

Reza a Constituição federal em seu artigo 5º, inciso LVII que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”, o que dá a Ricardo Salles o direito à presunção da inocência, mas não custa ressaltar que contra fatos não há argumentos.

Fosse minimamente responsável e cumpridor das promessas feitas em 2018, Bolsonaro teria afastado temporariamente Ricardo Salles até que a Polícia Federal conclua as investigações e a Justiça decida sobre o caso. Ao contrário, o presidente não só manteve Salles no cargo, como lhe dedicou elogios descabidos. Esse comportamento nada republicano de Bolsonaro se explica pelo fato de que alguns próceres do agronegócio apoiaram a candidatura do agora presidente não apenas com declarações de incentivo e tapinhas nas costas. Por conta disso cobram a contrapartida.

O saudoso Itamar Franco, então presidente da República, não pensou duas vezes antes de afastar Henrique Hargreaves, seu amigo de longa data, do comando da Casa Civil diante de acusações de corrupção. A decisão de Itamar, que deu carta branca à PF para investigar as denúncias, visava proteger não apenas o governo, mas o currículo do amigo e assessor. Ao final das investigações, a PF nada encontrou contra Hargreaves, que retornou ao governo ainda mais forte.

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