Médicos japoneses fizeram nesta quinta-feira (27) um alerta sobre o risco de os Jogos Olímpicos de Tóquio levarem ao surgimento de novas mutações do novo coronavírus. O grupo pediu que o evento seja realizado sem espectadores, enquanto uma associação defendeu o cancelamento total das Olimpíadas, alegando um “desastre em potencial”.
“Todas as variantes do vírus que existem em diferentes lugares [do mundo] estarão concentradas e reunidas aqui em Tóquio. Não podemos negar o risco do surgimento de até mesmo uma nova cepa”, disse Naoto Ueyama, presidente do Sindicato dos Médicos do Japão, em entrevista coletiva.
Ueyama afirmou também que trazer dezenas de milhares de atletas, funcionários, jornalistas e oficiais de todo o mundo representa um “perigo” real. “Inicialmente, as Olimpíadas de Tóquio tinham o objetivo de mostrar a reconstrução após o desastre do terremoto e do tsunami de 2011, mas as Olimpíadas de Tóquio podem acabar gerando outro desastre”, alertou.
“Uma nova variante pode surgir e ser batizada de ‘cepa olímpica de Tóquio ‘, e as críticas de que os Jogos foram um grande ato de loucura da humanidade podem nos perseguir pelos próximos 100 anos”, acrescentou.
Quarta onda
Diversas regiões do Japão se encontram sob estado de emergência devido a um novo surto de Covid-19, e a maioria da população (cerca de 80%) se opõe à realização dos Jogos neste verão, conforme apontam as pesquisas.
Autoridades japonesas, organizadores dos Jogos e o Comitê Olímpico Internacional (COI) já disseram que o evento será mantido, ainda que com medidas estritas de prevenção.
Foi proibida, por exemplo, a participação de espectadores estrangeiros, decisão sem precedentes para as Olimpíadas. Uma decisão final sobre participantes nacionais é esperada no próximo mês.
O país vive atualmente a quarta onda da pandemia e grupos médicos temem que o eventual surgimento de novas variantes sobrecarregue o sistema de saúde japonês. Diante da situação, espera-se que o atual estado de emergência que vigora em várias regiões do país, incluindo Tóquio, seja estendido até 20 de junho – três dias antes do início previsto dos Jogos.
Ameaça às campanhas de vacinação
Ueyama acusou ainda o COI e o governo japonês de ”subestimarem o perigo” e de ”colocarem em risco as campanhas de vacinação” em todo o planeta.
“A vacina não é uma cura e já vimos que outras variantes estão se propagando em países que adotaram medidas restritivas como Taiwan e Vietnã”, disse o médico, acrescentando que as vacinas existentes não previnem os contágios e sim apenas evitam o desenvolvimento de sintomas graves.
A Associação Médica de Tóquio, com mais de 20 mil membros, pede agora o cancelamento total do evento. Para o presidente do órgão, Haruo Ozaki, “realizar os Jogos sem espectadores é o mínimo, dada a situação atual”. “Esta Olimpíada acontece em um momento de emergência”, disse ele em entrevista coletiva nesta quinta-feira.
Ozaki fez também um apelo ao governo para que tome medidas mais rígidas contra o novo coronavírus, alertando que “esta é a última chance” de conter as infecções antes dos Jogos. (Com agências internacionais)
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