O silêncio do som

(*) Carlos Brickmann

A direita se aglomerou em motos e carros para louvar Bolsonaro, a esquerda se aglomerou a pé para vaiar Bolsonaro, o novo coronavírus foi às duas manifestações. O centro, provavelmente majoritário, mas ainda sem ter candidato, ficou em casa – preocupado com a perspectiva de ter de escolher entre o inimigo das vacinas e o amigo e financiador das ditaduras. A direita arriscou a vida em aglomerações para retribuir a uma merreca: a isenção do pedágio das motos em rodovias federais. A esquerda arriscou a vida em aglomerações para mostrar que as ruas não pertencem aos bolsonaristas, que mobiliza gente e que também tem votos (o que as pesquisas já mostravam). Direita e esquerda contribuíram para ampliar a desgraça da Covid 19.

Vi bons amigos felizes com o sucesso das aglomerações (e vi um inimigo mais feliz ainda, o coronavírus). Mas poucos perceberam que cada uma das manifestações trazia seu próprio equívoco, e contribuíram para que ambos os lados acreditassem em sua própria propaganda. Bolsonaro e seus pazuellos de estimação parecem acreditar que carros e motos votam, quando apenas ocupam espaço. A esquerda, vestida de vermelho, mostrou claramente que não consegue atrair ninguém que saiba que Dilma não é Angela Merkel. Em 2018, quem queria tirar o PT do poder votou em Bolsonaro; quem queria evitar aquele a quem Geisel chamou de “mau militar” votou no PT. Em 2022 pode ser diferente.

General que luta a guerra passada perde a guerra atual.

Maioria silenciosa

Donald Trump foi atropelado por dois fatos imprevisíveis: manifestações dos Black Lives Matter que se espalharam pelo país e a pandemia. Mesmo assim, teve a maior votação já dada a um candidato presidencial americano. O que o derrotou foi o trabalho dos democratas para levar às urnas a maioria silenciosa. Boa parte dos trompistas era militante; boa parte dos adversários não tinha entusiasmo suficiente para ir votar se chovesse muito no dia das eleições. O trabalho foi levá-los a votar com, digamos, mais conforto: pelo Correio, por exemplo, ou, onde era permitido, alguns dias antes da eleição. Conseguiram mais votos que o espetacular número obtido por Trump. E quem garante que os Black Lives Matters, com confusões e destruições, não deram a Trump mais votos do que tiraram? O trabalho silencioso da oposição foi a chave da vitória.

Trump lutou (bem) a guerra anterior. Biden, a atual.

Dias de ira

Pode ser que, repetindo a eleição anterior, predomine o voto contra: vota em Lula quem quer se livrar de Bolsonaro, vota em Bolsonaro quem quer se livrar de Lula. Mas pode ser que o jogo mude, abrindo caminho para alguém que tenha algo a propor, e não apenas critique o que os outros propõem.

Palavras exatas

Da senadora Simone Tebet, MDB: “é importante entender o silêncio dos que não foram às ruas”.

Do jornalista Josias de Souza, do UOL: “Bolsonaro diz que é imorrível, imbrochável e incomível, mas é só incompetente”.

Excelente notícia

Um laboratório israelense está iniciando agora os testes em larga escala de um remédio contra a Covid – um remédio de efeito rápido, custo baixo e que permite alta escala de produção. Não é vacina, não previne: cura. A reportagem saiu num jornal sério, o Jerusalem Post.

Veja o que já foi publicado (e a reportagem na íntegra) em https://go.shr.lc/3cbjeyx

Sem pão – haverá circo?

A Argentina, onde seria jogada a Copa América, decidiu não realizá-la, por causa da pandemia. A Colômbia foi a segunda opção, mas rejeitou a proposta, por causa da pandemia. A Conmebol, então, decidiu na base do “na falta de tu vai tu mesmo”, e acertou com o presidente Bolsonaro realizar no Brasil a Copa América. Mas há alguns problemas: o Governo Federal não tem estádios, e os Estados não querem o torneio. Primeiro, quando não há leitos para brasileiros em UTIs, como garantir os leitos para as seleções de outros países? Com novas variedades do vírus surgindo pelo mundo, é hora de convidar centenas de estrangeiros? E para que? Normalmente, essa Copa dá lucro para o país que a realiza: turistas, hotéis cheios, movimento em bares e restaurantes. Na pandemia, virão turistas gastar dinheiro? E, se trouxerem dinheiro, valerá a pena facilitar a entrada de mais vírus? Ninguém se dispôs ainda a ceder estádios. Já há ações pedindo à Justiça que proíba a tal Copa.

JBS vira alvo

A filial americana da JBS sofreu forte ataque de hackers, que provocou a paralisação de três frigoríficos. Os hackers dominaram os computadores e exigiram resgate (não se sabe ainda se foram ou não atendidos). A JBS, em contato com a Casa Branca, informou que os ataques parecem ter vindo de criminosos com base na Rússia. O Governo americano está em contato com o Governo russo, verificando as providências que podem ser tomadas.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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