“Vacinagate”: governo que recorre a Onyx Lorenzoni para explicar escândalo de corrupção não merece respeito

 
O escândalo envolvendo a compra de vacinas da farmacêutica indiana Bharat Biotech contra Covid-19 agitou o Palácio do Planalto na tarde desta quarta-feira (23). A declaração do deputado federal Luís Cláudio Fernandes Miranda (DEM-DF), aliado do governo Bolsonaro, de que o presidente da República foi informado previamente sobre esquema de corrupção no processo de compra dos imunizantes, obrigou os palacianos a criarem uma narrativa que, apesar dos ataques e ameaças, pouco esclareceu.

Miranda disse ter alertado o presidente Jair Bolsonaro e o então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, sobre suposto esquema de corrupção envolvendo a compra da Covaxin. O parlamentar explicou em entrevista ter se encontrado com o presidente em 20 de março, ocasião em que apresentou a denúncia – um mês após o governo assinar contrato para aquisição da vacina indiana.

O governo escalou Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, para dar explicações à imprensa, mas restou um cipoal de dúvidas e perguntas sem respostas. Lorenzoni disse, em entrevista, que Bolsonaro determinou à Polícia Federal que investigue as declarações do deputado Luís Miranda e do seu irmão, Luís Ricardo, servidor do Ministério da Saúde e responsável pelo departamento de logística e importação de medicamentos.

“O governo tomará medidas, e o presidente determinou que a PF abra uma investigação para apurar a declaração do deputado. Vamos solicitar uma perícia do documento. Vamos também pedir a abertura de investigação do deputado e do servidor Luís Ricardo Miranda [chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, irmão do deputado], por denunciação caluniosa, fraude processual e prevaricação”, disse Onyx durante coletiva de imprensa.

“Por que, depois de três meses, esse cidadão vem a público e fala isso? Isso caracteriza a má-fé, denunciação caluniosa, a interesse de quem e por quê? Não vai ser um qualquer, que inventa mentiras, falsifica documentos, e assaca contra um presidente e um governo. Senhor Luís Miranda, Deus está vendo. Mas o senhor também vai pagar na Justiça tudo o que fez hoje. Que Deus tenha pena do senhor”, afirmou Lorenzoni.

De acordo com o chefe da Secretaria-Geral da Presidência, as declarações do deputado Luís Miranda são “mentirosas” e foram construídas para “atingir a imagem do presidente Jair Bolsonaro”.

 
“Quero alertar ao deputado Luís Miranda que o que ele fez hoje é denunciação caluniosa, e isso é crime. Sobre as acusações, quero dizer: não houve favorecimento a ninguém, porque essa é a prática desse governo. Não houve sobrepreço, não houve compra alguma. Portanto, o governo tomará medidas e o presidente determinou que a PF abra uma investigação”, reforçou.

Denúncia de corrupção feita por um aliado do governo não deve ser desconsiderada, pelo contrário. Causa espécie o fato de Bolsonaro ter sido informado do ilícito e não acionar a PF para que abrisse investigação. Se o presidente da República nada fez três meses atrás, o parlamentar tem o dever de vir a público e revelar a verdade. Os irmão Luís Cláudio e Luís Ricardo serão ouvidos pelos senadores da CPI da Covid na próxima sexta-feira (25).

Onyx, o falso moralista

Um governo que recorre a Onyx Lorenzoni para tentar explicar denúncia de corrupção não merece crédito. Para quem não se recorda, Lorenzoni admitiu publicamente ter recebido da JBS recursos de caixa 2, usados em sua campanha à Câmara dos Deputados. Ele confessou ter embolsado R$100 mil em 2014.

Em vídeo, Onyx Lorenzoni confessou o crime: “Final da campanha, reta final, a gente cheio de dívidas com fornecedores, pessoas, eu usei o dinheiro.” Na época em que era relator do projeto “Dez Medidas Contra a Corrupção”, Lorenzoni apresentou proposta para reduzir penas para o crime de caixa 2.

Delatores da Lava-Jato afirmaram em depoimento ter repassado a Lorezoni, em 12 de setembro de 2014, R$ 200 mil em espécie, entregues pelo presidente da Associação Brasileira de Exportadores de Carne Bovina, Antônio Jorge Camardelli.

Onyx Lorenzoni também foi investigado por receber, em 2006, R$ 175 mil da Odebrecht para sua campanha à Câmara dos Deputados. Na planilha de pagamentos ilegais feitas pela empreiteira, Lorezoni era identificado pela alcunha de “Inimigo”. O caso acabou arquivado a pedido da então procuradora-geral da República, Raquel Dodge.

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