CovaxinGate: tentativa de Bolsonaro de terceirizar responsabilidade sobre escândalo é “tiro no pé”

 
O presidente Jair Bolsonaro tenta se esquivar do escândalo envolvendo as negociações para compra da Covaxin, vacina contra Covid-19 produzida pela farmacêutica indiana Bharat Biotech, mas a cada dia que surge a situação piora sobremaneira.

Em depoimento à CPI da Covid, o deputado federal Luís Cláudio Fernandes Miranda (DEM-DF) e Luís Ricardo Miranda, irmão do parlamentar e servidor do Ministério da Saúde, afirmaram ter informado ao presidente da República a existência de esquema de corrupção no processo de aquisição do imunizante indiano. Isso foi suficiente para que o sinal de alerta fosse acionado no Palácio do Planalto, onde o nível de preocupação disparou.

Os irmão Miranda disseram aos senadores da CPI que Bolsonaro mencionou o nome do deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, como responsável pelo que chamou de “rolo”. Luís Cláudio, por sua vez, deixou nas entrelinhas que tem como provar a conversa com o presidente. Isso significa que se Miranda não gravou a conversa com Bolsonaro, até porque a condição de parlamentar o impede de tal ato, seu irmão pode ter registrado o encontro no Palácio do Planalto.

Diante da repercussão do caso, Ricardo Barros se manifestou nas redes sociais negando qualquer participação no escândalo, alegando não haver provas concretas que o incriminem. É importante salientar que Barros, que desde o governo de Michel Temer mantém feudo no Ministério da Saúde, foi responsável por apresentar emendas à medida provisória que viabilizaram a compra das vacinas Covaxin e Sputnik V.

 
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No contraponto, Bolsonaro, que desde a denúncia tem oscilado entre o silêncio obsequioso e declarações dissimuladas, nesta terça-feira valeu-se do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) para tentar vender sua falsa inocência.

Na CPI da Covid, Bezerra Coelho afirmou que a após ser informado sobre o esquema de corrupção, o presidente da República repassou o assunto ao então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que por sua vez incumbiu o outrora secretário-executivo da pasta, Élcio Franco, que, segundo o senador pernambucano, constatou que “não houve irregularidades contratuais” no processo de compra da Covaxin.

Pressionado pela possibilidade de existir uma gravação da conversa com os irmãos Miranda, o presidente empurrou o problema para Élcio Franco, atualmente ocupando cargo de assessor especial na Casa Civil da Presidência.

Tal manobra não isenta nenhum dos suspeitos, já que Franco era subordinado a Pazuello, que à frente do Ministério da Saúde apenas cumpria ordens do presidente da República. É importante ressaltar que em vídeo divulgado na internet o ex-ministro disse, ao lado de Bolsonaro, “um manda, o outro obedece”.

Há nessa tentativa de Bolsonaro de terceirizar a responsabilidade um detalhe que pode enfraquecer ainda mais o governo. Enquanto Pazuello é general da ativa, Franco é coronel da reserva. Isso significa que o presidente está a colocar o Exército no centro da confusão.

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