Para escapar do escândalo da Covaxin, Bolsonaro terá de entregar “os anéis e os dedos” ao Centrão

 
Enquanto economiza palavras quando o assunto é o escândalo envolvendo as negociações para a compra superfaturada da Covaxin, vacina contra Covid-19 produzida pela farmacêutica indiana Bharat Biotech, o presidente Jair Bolsonaro age nos bastidores para escapar de eventual responsabilização.

Os toscos ataques verbais à CPI da Covid e as ameaças feitas aos denunciantes – deputado federal Luís Cláudio Fernandes Miranda (DEM-DF) e seu irmão Luís Ricardo, servidor do Ministério da Saúde – deram lugar a incursões que visam salvar o mandato de Bolsonaro. Garantir a reeleição é assunto descartado no momento.

A primeira medida efetiva foi terceirizar a responsabilidade pelo escândalo, colocando na linha de tiro o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, coronal da reserva Élcio Franco, atualmente assessor especial da Casa Civil. Além disso, o Ministério da Saúde anunciou nesta terça-feira (29) a suspensão temporária do contrato de compra da Covaxin, o que não significa anular o contrato.

Esses dois pontos funcionam como sinalização ao procurador-geral da República, Augusto Aras, no âmbito da notícia-crime protocolada no Supremo Tribunal Federal (STF) contra Bolsonaro por prevaricação.

Relatora do caso no STF, a ministra Rosa Weber enviou a demanda a Aras, que tende a negar autorização para abertura de inquérito contra o presidente, já que no seu radar há dois interesses distintos: ser reconduzido para novo mandato de dois anos à frente da PGR ou ser indicado a uma vaga no Supremo. Aras tem 15 dias para responder à ministra Rosa Weber. A tendência é Augusto Aras ser reconduzido ao comando da PGR, o que aumentará a pressão interna no Ministério Público Federal.

A segunda medida focou na permanência do deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) como líder do governo na Câmara e da manutenção do feudo do Centrão no Ministério da Saúde, algo que existe desde o governo do então presidente Michel Temer. Isso tudo apesar de o nome de Barros ter sido citado pelo presidente da República, de acordo com os irmão Miranda, como responsável pelo “rolo”.

 
Essa relação espúria do governo com o Centrão deve avançar rapidamente e sem cerimônia, pois a eventual abertura de processo contra Bolsonaro por crime de prevaricação depende de autorização da Câmara dos Deputados – são necessários 342 votos a favor.

No contraponto, se o nome de Ricardo Barros está sendo poupado pelo Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), está sendo apontado como responsável por incentivar o deputado Luís Cláudio Miranda a soltar a voz.

No Brasil, a exemplo do que ocorre em diversos países, política é um jogo bruto e perigoso que apenas deve ser jogado por quem sabe mexer as peças no tabuleiro. A suposição de que Arthur Lira estaria por trás da denúncia feita pelo deputado Luís Miranda eleva o risco de um pedido de impeachment contra Bolsonaro receber aval para avançar na Câmara dos Deputados.

Esse quadro tende a piorar, pois na quarta-feira (30) será protocolado na Câmara um “super pedido” de impeachment do presidente da República, o que deve colocar Lira em posição de desconforto. É importante ressaltar que, em março passado, Lira disse que no campo do enfrentamento da pandemia do novo coronavírus o “sinal amarelo” já estava aceso.

“Quero deixar claro que não ficaremos alienados aqui, votando matérias teóricas como se o mundo real fosse apenas algo que existisse no noticiário. Estou apertando, hoje, um sinal amarelo para quem quiser enxergar. Não vamos continuar aqui votando e seguindo um protocolo legislativo com o compromisso de não errar com o país se, fora daqui, erros primários, erros desnecessários, erros inúteis, erros que que são muito menores do que os acertos cometidos continuarem a serem praticados’, afirmou Lira.

Lembrou também o parlamentar que no Congresso os remédios políticos são “amargos”, alguns deles “fatais”. “Mas isso não depende apenas desta Casa. Depende também, e sobretudo, daqueles que fora daqui precisam ter a sensibilidade de que o momento é grave, a solidariedade é grande, mas tudo tem limite, tudo. E o limite do parlamento brasileiro, a Casa do Povo, é quando o mínimo de sensatez em relação ao povo não está sendo obedecido”, completou o presidente da Câmara.

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