CPI da Covid: depoimento de “atravessador de vacinas” aumenta confusão, que alerta a Justiça dos EUA

 
Os escândalos de corrupção envolvendo integrantes do governo Bolsonaro nas negociações para a compra de vacina contra Covid-19 está apenas no começo. Quem acompanha a política nacional e conhece minimamente CPIS sabe que, como diz a sabedoria popular, ainda há muita água para passar debaixo da ponte. Talvez seja prudente substituir água por lama.

Que o CovaxinGate é fato consumado todo brasileiro minimamente sensato já sabe, mas a confusão que tem na proa a empresa Davati Medical Supply e o policial militar mineiro Luiz Paulo Dominghetti Pereira ainda proporcionará capítulos escaldantes.

Em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, Dominghetti afirmou ter recebido pedido de propina de Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, exonerado na quarta-feira (30) do cargo, ao qual foi indicado pelo líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR).

Aos senadores da CPI da Covid, Dominghetti, que não passa de mero “atravessador de vacinas”, confirmou as acusações a Ferreira Dias, mas tentou incriminar o deputado federal Luís Cláudio Miranda (DEM-DF), que em 20 de março passado, juntamente com o irmão Luís Ricardo, servidor do Ministério da Saúde, informou ao presidente da República sobre esquema de corrupção na pasta.

Sem qualquer solicitação por parte dos senadores da CPI, Dominghetti disponibilizou um áudio em que o deputado Luís Cláudio supostamente tenta intermediar a compra de vacinas contra Covid-19. O parlamentar, que acompanhava a sessão da CPI, rebateu o acusador, que teve o celular apreendido pelo presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM).

A gravação, de acordo com o depoente, não foi enviada a ele, mas ao representante oficial da Davati no Brasil, Christiano Alberto Carvalho. O policial militar afirmou ter recebido o áudio após o depoimento do deputado Luís Miranda à CPI, na última semana.

“O Christiano (Alberto Carvalho, representante da Davati) me relatava que volta e meia tinha parlamentares, não sei quem, o procurando, e quem mais o incomodava era o deputado Luís Miranda, o mais insistente com a compra, negociação de vacinas”, disse Luiz Paulo Dominghetti.

 
Para os senadores, Dominghetti, bolsonarista e defensor contumaz do presidente da República, é “testemunha plantada”. Hipótese que não deve ser descartada, pois sua célere disposição para depor causou estranheza.

O presidente da CPI não se conteve e rebateu Dominghetti: “Não venha achar que aqui todo mundo é otário, nem pateta. Veja bem qual é seu papel aqui. Do nada surge um áudio do deputado Luís Miranda. Chapéu de otário é marreta, irmão”.

Um fato estranho chamou a atenção dos senadores oposicionistas da CPI. O senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República e que não integra a CPI, compareceu à sessão e passou a defender Dominghetti.

A tese de que Dominghetti é “testemunha plantada” ganha força com a informação do responsável pela Davati Medical nos Estados Unidos, Herman Cárdenas, que disse ao jornal “O Estado de S. Paulo” ter incluído, “a pedido”, Dominghetti em comunicações com o governo brasileiro no âmbito da oferta de vacinas da AstraZeneca.

Essa epopeia criminosa tem diversos pontos que não fecham. Após a repercussão do escândalo, Cárdenas afirmou à Folha, por e-mail, que “não houve negociações ou contratos com o governo do Brasil”.

Se o nome de Dominghetti foi incluído nas comunicações “a pedido” de alguém supostamente ligado ao governo Bolsonaro e responsável pelo esquema criminoso, não convence a declaração de que “não houve negociações ou contratos”.

A mudança de discurso de Cárdenas encontra ao menos uma explicação na legislação norte-americana. A “Foreign Corrupt Practices Act” (Lei de Práticas de Corrupção no Exterior) prevê pena de prisão a quem tentar subornar autoridades no exterior. Basta voltar no tempo e resgatar, por exemplo, o desfecho do fatídico caso de corrupção que envolveu integrantes da Prefeitura de São Paulo e uma empresa especializada na instalação de fibras óticas.

A empresa MetroRED, que à época era controlada pelo fundo de investimentos Fidelity, admitiu perante a Justiça dos EUA ter subornado autoridades paulistanas. Os partícipes do esquema acabaram presos nos Estados Unidos.

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