Quebra do sigilo de mensagens de Dominghetti confirma esquema de corrupção e piora situação de Bolsonaro

     
    O escândalo envolvendo a Covaxin, vacina contra Covid-19 produzida pela farmacêutica indiana Bharat Biotech, e o Ministério da Saúde deixa em situação cada vez mais difícil o presidente Jair Bolsonaro, eleito à sombra da bandeira do combate à corrupção. Sem contar as críticas que fez à chamada “velha política”, logo no início do mandato.

    Nesta terça-feira (6), o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), levantou o sigilo do conteúdo do telefone celular do policial militar mineiro Luiz Paulo Dominghetti, que se apresenta como representante da empresa americana Davati Medical Supply e participou de negociações para vender ao governo brasileiro 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca. Até antes da pandemia, a Davati dedicava-se ao setor da construção civil nos Estados Unidos.

    Entre as muitas mensagens extraídas do celular de Dominghetti, uma delas faz menção ao presidente Jair Bolsonaro. Esse detalhe faz com que o sinal de alerta soe com mais intensidade no Palácio do Planalto, onde assessores presidenciais não escondem a preocupação com o escândalo.

    De acordo com a citada mensagem, Dominghetti teria recebido diretamente do gabinete de Bolsonaro informações privilegiadas sobre as negociações do governo federal para a aquisição de vacinas contra o novo coronavírus.

    Em 9 de março, Dominghetti escreve a Cristiano Alberto Carvalho, CEO da Davati no Brasil: “Já me posicionaram aqui. Amanhã até 12h passam o e-mail a ele. Só a quantidade que não tem ainda”.

     
    Em resposta, Cristiano, por sua vez, tenta saber a origem da informação. “Informação do Blanco, posso dizer?”, escreve o executivo, em referência ao tenente-coronel Marcelo Blanco (Exército). Segundo depoimentos, Blanco teria presenciado o jantar em que o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, teria cobrado propina para fechar a compra da vacina oferecida pela Davati.

    “Gabinete da Presidência da República. Melhor que ele”, responde Dominghetti. Em 13 de março, o cabo da PM mineira informa ao CEO da Davati que estava prestes a conseguir encontro com Bolsonaro. “Estão viabilizando sua agenda com o presidente”.

    Ex-assessor do Ministério da Saúde, Blanco é dono da “Valorem Consultoria em Gestão Empresarial”, com sede em Brasília e registrada na Junta Comercial do Distrito Federal em 22 de fevereiro, três dias antes do citado jantar. As atividades informadas inicialmente pela “Valorem” à Receita Federal eram mediação de negócios e assessoria técnica.

    Menos de um mês depois, em 18 de março, o objeto social da empresa sofreu alteração, sendo acrescentado a seguinte redação: “atividades de representantes comerciais e agentes do comércio de medicamentos para uso humano e materiais médico-cirúrgicos hospitalares”, odontológicos e laboratoriais, como bisturis e próteses”.

    É importante lembrar que na última quinta-feira (1), em sua enfadonha “live” semanal, o presidente Jair Bolsonaro elogiou o pífio depoimento de Dominghetti à CPI da Covid. “Foi bonito, hein? Hoje foi bonito quando o cabo se dirigiu a um senador e falou um negócio meio esquisito”, disse Bolsonaro no começo da transmissão pela internet, referindo-se ao momento em que o policial citou o nome do deputado federal Luís Cláudio Miranda (DEM-DF), que revelou ao presidente, em 20 de março, o esquema de corrupção que pairava sobre a compra de vacinas.

    Bolsonaro foi além em sua “live” e, com críticas à CPI, disse que os senadores estavam “fazendo brincadeira”: “[A CPI] podia estar discutindo coisa importante, ajudando governo, ajudando a saúde, a diminuir número de mortes e fica de palhaçada, gastando dinheiro público fazendo brincadeira”.


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