“Velha política” e esquemas de corrupção impedem análise de pedidos de impeachment contra Bolsonaro

 
Até o momento, Jair Bolsonaro não rebateu o deputado federal Luís Cláudio Miranda (DEM-DF) e Luís Ricardo Miranda (servidor do Ministério da Saúde), que em depoimento à CPI da Covid afirmaram ter informado ao presidente da República sobre esquema de corrupção no processo de compra da Covaxin, vacina conta Covid-19 fabricada pela farmacêutica indiana Bharat Biotech.

No encontro que ocorreu no Palácio da Alvorada em 20 de março passado, os irmãos Miranda ouviram do presidente que o caso era mais um “rolo” do líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR). De igual modo, Bolsonaro não fez qualquer crítica pública a Barros nem destituiu-o do cargo.

Logo após o deputado Luís Cláudio denunciar o esquema criminoso à imprensa, a cúpula do governo reagiu com truculência verbal e ameaças, papel pífio que ficou a cargo de Onyx Lorezoni, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e cujo currículo político dispensa maiores apresentações. Participou do pronunciamento, ao lado de Lorenzoni, o coronel da reserva Élcio Franco, que foi secretário-executivo do Ministério da Saúde e hoje ocupa cargo de assessor especial na Casa Civil da Presidência.

Nesta terça-feira (6), em mais uma sessão da CPI da Covid, ficou claro que o governo Bolsonaro bate cabeça na tentativa de minimizar o estrago provocado pelo escândalo conhecido como CovaxinGate. Líder da bancada feminina, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) afirmou existir a possibilidade de o staff palaciano ter falsificado documentos às pressas para reagir à denúncia de corrupção.

À Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), Tebet apontou 24 erros na “invoice” (fatura com dados do pagamento) exibida por Lorenzoni, no dia 23 de junho, ocasião em que ameaçou processar os denunciantes, no caso os irmãos Miranda.

“Tem clara comprovação de falsidade de documento privado. Nós estamos falando de falsidade ideológica formulada por alguém”, disse a senadora, em referência a erros de grafia em inglês e informações na nota fiscal que teria sido enviada pela Precisa Medicamentos ao Ministério da Saúde, para a compra da Covaxin.

Tebet destacou alguns erros na “invoice”, como, por exemplo, o desalinhamento da marca e do logotipo da empresa. “Não estão alinhados em alguns pontos, como se fosse uma montagem”–; erros de inglês, como “prince” (príncipe) no lugar de “price” (preço); “airpor” e não “airport” (aeroporto); mistura de português e inglês, o que a senadora chamou de “portinglês”; diferença no número de doses de vacinas de um campo para o outro; falta de dados bancários e assinaturas/autorizações.

 
A CPI da Covid, que avança nas investigações sobre a atuação do governo no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, tomou, há dias, o depoimento do policial militar mineiro Luiz Paulo Dominghetti, que em nome da empresa americana Davati Medical Supply ofertou 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca ao Ministério da Saúde. Até antes da pandemia, a Davati atuava no ramo de construção civil.

A AstraZeneca só negocia com governos, o que coloca por terra a investida que tem a Davati na proa. Além disso, se a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tem contrato cm a AstraZeneca para a produção da vacina no Brasil, a negociação em pauta sugere corrupção.

Além disso, a Davati credenciou como interlocutora junto ao Ministério da Saúde uma entidade privada dirigida por um religioso. Comandada pelo reverendo Amilton Gomes de Paula (ligado à Igreja Batista), a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) passou a tratar da venda de vacinas ao governo brasileiro, mesmo a Davati tendo no País um representante oficial, Cristiano Alberto Carvalho, que encaminhou e-mails à pasta, especificamente ao diretor do departamento de Imunização do Ministério da Saúde, Laurício Cruz.

Em 22 de fevereiro passado, Cruz recebeu em audiência no Ministério da Saúde o reverendo Amilton de Paula e o policial militar Luiz Paulo Dominghetti. De novo ressaltamos que estando em curso um acordo entre a AstraZeneca e a Fiocruz para a produção de vacinas no Brasil, não havia razão para uma negociação liderada por pessoas estranhas ao setor.

No Palácio do Planalto, assessores de Bolsonaro já externam preocupação com a delicada situação política do presidente da República por causa dos recentes escândalos de corrupção. O staff presidencial admite que grupos que apoiam o governo no Congresso Nacional teriam montado esquema para se beneficiar financeiramente durante o enfrentamento da pandemia.

Informações sobre o esquema criminoso circulam há muito na sede do governo, mas nada foi feito para impedir o escárnio. Assessores alegam que não havia provas sobre o ilícito.

Em novembro de 2020, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tentou demitir Roberto Ferreira Dias, que até ser exonerado recentemente respondia pela Diretoria de Logística do Ministério da Saúde. Por pressão política, Pazuello não conseguiu demitir o servidor, acusado de cobrar propina na compra de vacinas. Dias foi indicado ao cargo pelo deputado federal Ricardo Barros, um dos próceres do Centrão.

Enquanto escândalos rondam o Palácio do Planalto e deterioram rapidamente a aprovação do governo, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) – um dos líderes do Centrão – não vê motivos para analisar ao menos um pedido de impeachment contra Bolsonaro. Até porque, se isso ocorresse, o Centrão iria pelos ares, abraçado ao presidente da República.

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