Acuado por escândalos das vacinas e com rejeição em alta, Jair Bolsonaro volta a ameaçar a democracia

 
Encurralado pelos escândalos das vacinas contra Covid-19 e pelas mais de 529 mil mortes provocadas pelo novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro retomou os ataques à democracia como forma de manter unida sua descontrolada base de apoiadores.

Esse cenário de turbulência política, que já dura alguns longos meses, faz com que a aprovação do governo avance na espiral da queda. Pesquisa realizada pela XP/Ipespe mostra que a avaliação negativa do governo é a pior desde o início do governo, com 52% dos entrevistados classificando a gestão Bolsonaro como ruim ou péssima. Em outubro de 2020, 31% desaprovavam o governo. Essa queda foi detectada nas 11 últimas rodadas da pesquisa. Os que consideram o governo bom ou ótimo caíram de 39% a 25%.

O levantamento da XP/Ipespe questionou os entrevistados sobre a corrida presidencial do próximo ano. Os resultados da pesquisa apontam que o ex-presidente Lula vem crescendo em relação aos demais potenciais oponentes. Faltando quinze meses para a eleição presidencial, Lula atingiu 38% das intenções de voto, contra 26% de Bolsonaro.

Como se fosse pouco, pesquisa do instituto Datafolha revelou a opinião dos brasileiros sobre o presidente da República. A população considera Bolsonaro desonesto, falso, incompetente, despreparado, indeciso, autoritário, favorece os ricos e mostra pouca inteligência.

Além desse cenário desfavorável, Bolsonaro também se preocupa com possibilidade de algum pedido de impeachment avançar no Congresso Nacional, o que por enquanto é considerado improvável por causa do apoio de aluguel do Centrão.

Com o objetivo de criar uma cortina de fumaça diante dos escândalos de corrupção, Bolsonaro voltou a questionar a confiabilidade do processo eleitoral. Nesta quinta-feira (8), durante encontro com apoiadores no “cercadinho” do Palácio da Alvorada, onde permaneceu por 50 minutos, o presidente disparou: “Eleições no ano que vem serão limpas. Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”.

A estratégia de Jair Bolsonaro é questionar a segurança das urnas eletrônicas, sistema utilizado desde 1996 e que até hoje não apresentou qualquer indício de fraude.

O objetivo do presidente com essas declarações é criar um cenário que abra caminho para a versão brasileira da invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, por apoiadores do derrotado Donald Trump, caso não consiga se reeleger. A não reeleição de Jair Bolsonaro é algo cada vez mais possível, pois o governo fracassou em diversas frentes, a começar pelo enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.

 
Ataque ao TSE e às urnas eletrônicas

Na quarta-feira (7), em entrevista à Rádio Gaúcha, Bolsonaro atacou o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), disse que o magistrado tem “interesse pessoal” em barrar o voto impresso.

“Por que o Barroso não quer mais transparência nas eleições? Porque tem interesse pessoal nisso. Ele está se envolvendo numa causa como essa e interferindo no Legislativo, isso é concreto, porque depois da ida dele ao parlamento várias lideranças trocaram os integrantes por parlamentares que vão votar contra o voto impresso”, declarou o presidente da República.

Na sequência, o presidente do STF, ministro Luiz Fux, divulgou nota para rebater a absurda declaração de Bolsonaro: “O STF rejeita posicionamentos que extrapolam a crítica construtiva e questionam indevidamente a idoneidade das juízas e dos juízes da Corte”, destaca a nota de Fux.

Sem apresentar provas, o Bolsonaro disse à Rádio Gaúcha que um ministro do STF está arquivando processos contra parlamentares para evitar a implantação do voto impresso. “O STF agora, não o STF, mas um ministro talvez, talvez esteja negociando isso com alguns partidos políticos. ‘Olha, vamos arquivar os teus processos aqui, vamos dar um tempo, e você vota contra o voto impresso’”.

“A democracia se vê ameaçada por parte de alguns de toga que perderam a noção de onde vão seus deveres e direitos. Quando você vê o ministro Barroso ir ao Parlamento negociar com as lideranças partidárias para que o voto impresso não fosse votado na comissão especial, o que ele quer com isso? Fraude nas eleições”, emendou.

“Falam que não temos como apresentar prova de fraude, eu vou apresentar. Desafio o Barroso antes, me apresente uma prova que não há fraude, que é seguro. Por que o Barroso não quer mais transparência nas eleições? Porque tem interesse pessoal nisso. Está interferindo no Legislativo. Depois da ida dele ao Parlamento, várias lideranças partidárias trocaram representantes na comissão que vão votar contra”, disse o irresponsável Bolsonaro.

O presidente do STF, na mencionada nota, lembrou que liberdade de expressão tem limites, em referência à insana verborragia de Bolsonaro. “O Supremo Tribunal Federal ressalta que a liberdade de expressão, assegurada pela Constituição a qualquer brasileiro, deve conviver com o respeito às instituições e à honra de seus integrantes, como decorrência imediata da harmonia e da independência entre os poderes”, afirmou Fux.

Sem limites no campo da criação dos factoides, Bolsonaro afirmou à emissora porto-alegrense que a eleição presidencial de 2014 foi vencida por Aécio Neves, candidato do PSDB, não pela petista Dilma Rousseff. E de novo o presidente não apresentou provas. O PSDB, por sua vez, rebateu Bolsonaro e afirmou em rede social que o pleito daquele ano foi limpo. “O PSDB considera as eleições de 2014 limpas e confia nas urnas eletrônicas. Estará sempre na defesa da democracia”, destacou a legenda.

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