Em depoimento à CPI da Covid, o representante da Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Carvalho, admitiu aos senadores que soube do suposto pedido de propina para a venda de vacinas contra Covid-19 ao Ministério da Saúde.
“Primeira vez que veio diretamente a mim, sobre, ah, o nome do Roberto Ferreira Dias envolvido nisso foi, acredito eu, que no dia 12 de março, na minha vinda até aqui (Brasília). Estávamos na Senah [ONG evangélica que participou das conversas]”, disse Carvalho. A data, portanto, é anterior ao relato feito pelos irmãos Luís Cláudio Miranda e Luís Ricardo Miranda ao presidente da República sobre esquema de corrupção nos processos de aquisição de imunizantes.
A suspeita de cobrança de propina foi revelada em 29 de junho pelo jornal “Folha de S.Paulo”, em entrevista de Luiz Paulo Dominghetti. Cabo da Polícia Militar de Minas Gerais.
Dominghetti afirmou na entrevista que o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou, durante jantar em restaurante de Brasília, em 25 de fevereiro, US$ 1 por dose para destravar compra de 400 milhões de doses da AstraZeneca.
“Eu não participei do jantar, sempre foi… tudo que ele (Dominghetti) estava dizendo ali eu não tinha certeza. Eu não podia confirmar que havia existido esse pedido de propina. Deixei claro até como colega que ele vir numa comissão [a CPI] como a dos senhores, com a presença de Policia Federal, para ele ter cuidado, certeza do que ele estava fazendo, para ser fidedigno”, afirmou o representante da Davati.
Em outro ponto do depoimento, Cristiano Carvalho disse ter tomado conhecimento de pedido de comissão, não de propina, a qual seria destinada ao “grupo” ligado ao coronel da reserva Marcelo Blanco, ex-assessor de Dias na Saúde, e a um empresário de nome Odilon.
Em declaração grave e comprometedora, o representante da Davati afirmou que, sob seu ponto de vista, havia duas maneiras de vender vacinas contra Covid-19 ao Ministério da Saúde: através de Roberto Ferreira Dias ou por meio do coronel Élcio Franco, ex-secretário-executivo da Saúde e atualmente ocupando cargo de assessor especial da Casa Civil.
Cristiano foi além em suas declarações e disse à CPI que o coronel Blanco, mesmo já não estando no Ministério da Saúde, falava como representante de Dias, indicado ao posto pelo Centrão e com o apadrinhamento do deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara.
“Havia dois caminhos no ministério, aparentemente. Um era via Élcio Franco, e outro pelo Roberto Dias. O caminho que ele (Dominghetti) tentou via Roberto Dias aparentemente não prosseguiu por conta de algum pedido que foi feito, lá, segundo chegou para mim no primeiro momento como grupo do Blanco ou do Odilon”, disse Cristiano Carvalho.
É importante destacar que o deputado federal Luís Cláudio Miranda (DEM-DF), em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira (12), pressionado pelos jornalistas confirmou que um parlamentar, dedo em riste, teria exigido do então ministro Eduardo Pazuello a manutenção do esquema para a compra de vacinas, sob pena de implodir o governo Bolsonaro.
Questionado pelos entrevistadores sobre o nome do parlamentar, Miranda respondeu que já havia feito o relato a membros da CPI. Informações dos bastidores da comissão apontam que o tal parlamentar é um dos próceres do Centrão. Não por acaso, Pazuello, ao deixar o comando da pasta, falou em “pixulé’.
“E aí começou a crise com liderança política que nós temos hoje, que mandou uma relação pra gente atender e nós não atendemos. E aí você tá jurado de morte. Chegou no final do ano, uma carreata de gente pedindo dinheiro politicamente. O que nós fizemos? Nós distribuímos todo o recurso do ministério. Foi outra porrada, porque todos queriam um pixulé no final do ano”, afirmou o general Pazuello.
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