UCHO20: Depois de duas décadas e muito empenho e luta, a sensação é de dever cumprido

(*) Ucho Haddad

Confesso, como inúmeras vezes fiz, que jamais imaginei que pudesse chegar até aqui. Não que duvidasse de uma ideia, de um sonho, de um ideal. Vinte anos se passaram, parece muito, mas nesse período não vi a vida passar, só tive olhos para o jornalismo, para mostrar a cada brasileiro a realidade dos fatos que corroem o tal país do futuro. Futuro esse que ainda não deu o ar da graça. É preciso mudar, é possível mudar. Creio nisso, apesar dos muitos cenários adversos que nos afrontam a todo instante.

Esses vinte anos de UCHO.INFO não foram fáceis, pelo contrário, mas tive prazer em fazer o que sempre fiz e ainda faço com muita dedicação, responsabilidade e transparência, sem abandonar a verdade. Faria tudo outra vez, sem mudar o roteiro, preservando inclusive as falhas e os percalços. Como sempre digo e não canso de repetir, sou o melhor dos meus próprios erros. Se não tivesse errado, tropeçado, cometido equívocos e enfrentado decepções na profissão, talvez não estivesse aqui. Foi bom, continua sendo.

Quando fui apresentado ao jornalismo, a escrita propriamente dita, há 45 anos, estava agarrado à minha eterna paixão: a fotografia. Naquele tempo, texto era uma coisa, foto, outra. Como dizem por aí, “cada um no seu quadrado”. Por questão de sobrevivência aceitei um desafio quase imperioso, do contrário era “olho da rua”: fotografar e trazer o texto pronto, que por razões óbvias enfrentava as teclas das velhas máquinas de escrever. Em outras palavras, decidiram misturar os quadrados, e eu topei.

Descobri então que sabia escrever, além de fotografar. Registrar imagens não perdeu espaço na minha vida, mas escrever começou a tomar corpo, a consumir mais tempo. Mesmo assim, nunca abandonei as câmeras, as únicas coisas que até hoje não aceito emprestar, além dos livros. Percebi que poderia ir além com esse dueto – texto e imagem. Ganhei asas, gastei o que tinha e o que não tinha, ganhei pouco e caí no mundo. Essa decisão proporcionou a maior oportunidade da minha vida e alimentou uma obsessão que cultivo até hoje – aprender. Aprender com tudo, com todos, em qualquer lugar, o tempo todo. Isso foi primordial para a profissão e sempre será.

Deixando de lado o viés romântico da trajetória, jornalismo político e investigativo – na minha opinião a essência do jornalismo é investigativa – requer frieza, pragmatismo, destemor, “sem perder a ternura jamais”. Isso permite enxergar um fato até mesmo na sombra.

Ainda nos tempos em que era “aprendiz de feiticeiro”, minhas opiniões e colocações causavam espanto em muitos, os quais me acusavam de comunista, o que não sou. Defendia, quarenta anos atrás, a necessidade de o capital investir na melhoria da mão de obra, pois do contrário ambos desapareceriam. Em suma, afirmava que o empresariado deveria apostar na capacitação e na evolução do trabalhador. Mas como afirmavam os maledicentes de outrora, coisa de “comuna”.

O calendário avançou com rapidez; a verdade está posta no cotidiano. Não tenho e nunca tive vocação para cavaleiro do apocalipse, mas enxergar além do óbvio sempre fez parte da minha personalidade, sem contar que é uma premissa do ofício que escolhi. Muitas vezes enxerguei o futuro voltando ao passado, exercício que faz bem à alma e também ao tino jornalístico.

Certa feita, no elevador de conhecida empresa de comunicação, já não tão glamourosa, ouvi de um saudoso colega de profissão: “você mais parece um perdigueiro”. Guardei na memória e no coração a fala de quem sempre foi minha inspiração no jornalismo investigativo. E sempre será!

No Brasil dos poderosos, quando um profissional do jornalismo começa a incomodar, é preciso agir. Aos políticos pouco importa o escândalo, desde que a verdade não saia das catacumbas do poder. E a mão dos donos do poder é pesada, impiedosa. Enfrentá-los não é tarefa fácil, exige um misto de coragem e falta de responsabilidade para transpor as fronteiras da segurança pessoal.

À frente do UCHO.INFO, antecipei fatos, fui criticado; apresentei provas, fui achincalhado. Entre notícias e escândalos revelados, ouvi e até hoje ouço desvarios de todos os naipes. Alguns, a depender do momento, dizem que sou de esquerda, outros, em cenários distintos, que sou de direita. Nem uma coisa nem outra. Minha ideologia é a coerência, a verdade dos fatos, a informação correta. Eis a minha convicção, agrade ou não.

Se existe um cardápio (sic) para sufocar a informação jornalística, por certo percorri boa parte da ementa. De ofertas de suborno a ameaças, de pau de arara a sequestro de pessoa da família, de intimidação sórdida a estrangulamento financeiro, de perseguições a processos, tentaram de tudo. Em certos momentos cambaleei, mas resisti. Desatinados acusaram-me de ser patrocinado pelo bilionário George Soros. Animado com a acusação, fui procurador o depósito. Nada!

Estar jornalista me ensinou a ser ainda mais paciente, já que a paciência é companheira. Fazer jornalismo como o do UCHO.INFO exige muita paciência, pois para a informação verdadeira e isenta ser aceita demora muito.

Cheguei até aqui, o UCHO.INFO também. Devo isso a muitas pessoas que me acompanharam e me apoiaram nessa caminhada. Gente próxima e querida, amigos indescritíveis, colaboradores fiéis. Muitos passaram e ficaram, outros se foram. Os que ficaram são imprescindíveis e merecem o meu contínuo respeito. Até os traidores foram importantes. A vida tem dessas coisas, paciência.

Tenho a sensação do dever cumprido, mesmo sabendo que nem tudo mudou como imaginava. No UCHO.INFO não fazemos jornalismo de encomenda, não tergiversamos diante dos fatos, não temos políticos de estimação, não passamos a mão na cabeça de corruptos. Apenas fazemos jornalismo como manda o figurino.

Há dias, mesmo tendo de driblar as reticências deixadas pelo coronavírus, o malfadado, preparava com atraso essa edição comemorativa, quando mensagens começaram a chegar no e-mail e nas redes sociais. Lisonjeado e muito agradecido a todos, prevaleceu a dificuldade que tenho para lidar com elogios. Afinal, o compromisso do jornalista é informar com responsabilidade e sempre fiel à verdade. Se o faço da forma correta é porque tenho como desafio diário superar a mim mesmo.

Nós, do UCHO.INFO, não somos os melhores, nem temos tal pretensão. O que desejamos é tentar fazer a diferença em termos jornalísticos porque como seres humanos somos iguais. Muito obrigado a todos, a cada um, por tudo, sempre!

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, escritor, poeta, palestrante e fotógrafo por devoção.

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